Digite para buscar

Terrorismo islâmico: perguntas sem resposta

Compartilhar

jihad lego

A maioria absoluta das análises sobre o terror islâmico busca entender fatos recentes, com muita complexidade subjacente, tentando encaixar tais fatos em uma narrativa pronta, onde tudo está explicado, com personagens e tramas quase sempre recaindo no maniqueísmo.

Não querendo criar um revisionismo, mas questionar (ou, como se diz hoje, “problematizar”) esta visão pronta dos fatos, levantemos algumas questões que permanecem em aberto à respeito do Estado Islâmico, dos atentados terroristas e de toda a relação da imprensa com o islamismo e nossa distância cultural:

Onde estão as pessoas que fizeram parte, apoiaram e divulgaram a campanha “Boicote Israel” (mas usam e-mail, Facebook, Waze, genéricos, AZT e comem tomatinho cereja) no ano passado?

Se o terrorismo islâmico nada tem a ver com a religião islâmica, por que o atentado na Universidade de Garissa, no Quênia, em abril, foi feito perguntando-se quem era muçulmano e quem era cristão, assassinando 148 estudantes cristãos? Por que este ataque do al-Shabab foi chamado de “suposto” pelo iG?

Se o terrorismo é desconectado da religião islâmica, sendo que os ensinamentos de Maomé são apenas “usados” para causar o mal, por que os grupos xiitas e sunitas se atacam mutuamente?

Se os terroristas surgem porque buscam “integração”, por que o nome do segundo grupo terrorista mais violento em atividade, o Boko Haram, traduz-se como “educação ocidental é proibida”?

Por que os muçulmanos “moderados” não defendem leis civis de países ocidentais onde moram, não defendem a separação entre Estado e religião, não defendem direitos inexistentes na religião islâmica (como de mulheres, homossexuais, solteiros, ateus, judeus, cristãos etc), não defendem ações militares do Ocidente contra grupos terroristas? Isto não os ajudaria a se “integrar” e diminuiria o preconceito?

Se a religião islâmica não têm a ver com o terrorismo, por que odeiam judeus?

Por que os muçulmanos “moderados” não renegam publicamente a instalação da shari’ah nos países ocidentais onde vivem? Imigrar e ter uma população com alta natalidade para, politicamente, trocar as leis e costumes locais para instaurar a shari’ah não seria uma forma de “colonialismo”? Não foi exatamente isto o que Maomé fez na primeira Hégira, evento tão importante que marca o início do calendário islâmico? Por que não chamam a “crise dos refugiados” de hégira?

Se o terrorismo surge graças ao “imperialismo”, e não por causas religiosas, por que o Estado Islâmico persegue a minoria yazidi no Iraque? Por que não se fala desta minoria ao defender que o islamismo é a “religião da paz”, se tiveram de fugir para o Curdistão, se suas mulheres viravam escravas sexuais estupradas até 20 vezes por dia antes do almoço e se, refugiados sem mantimentos em montanhas, chegaram a atirar seus filhos pequenos das montanhas para que não se tornassem prisioneiros do Estado Islâmico?

E se o terrorismo existe graças ao “imperialismo” ou “colonialismo”, qual foi o ato de imperialismo colonialista do Quênia em relação a muçulmanos para gerar o atentado do al Shabab na Universidade de Garissa?

Se afirmam que a América, a OTAN e o Ocidente apenas intervêm em países cheios de petróleo por estarem querendo roubar reservas naturais, por que intervieram no Afeganistão, e por que apóiam a intervenção da Arábia Saudita no Iêmen, o país mais pobre do Oriente Médio, montanhoso, que tem o pastoreio de cabras como uma das principais atividades econômicas?

Se os refugiados fogem do Estado Islâmico, por que não fiscalizar nas fronteiras quem possui a ideologia dos seus simpatizantes, para evitar que os membros do próprio Estado Islâmico cheguem à civilização junto aos refugiados?

Se é o “imperialismo” e o “colonialismo” que causam o terrorismo, e não a mentalidade salafista de califado do Estado Islâmico, por que o último califado, o do Império Otomano, existia justamente para justificar as terras dominadas por muçulmanos?

Por que este mesmo Império Otomano foi aliado da mais imperialista das seis potências da Primeira Guerra Mundial, a Alemanha?

Por que chamar de “imperialismo” e “colonialismo” as ações militares no Oriente Médio, que não tomaram um único centímetro quadrado de terra das populações nativas, mas não chamar o califado islâmico de “imperialista” e “colonialista”, se seu primeiro objetivo declarado é criar um império mundial e colonizar terras de “infiéis” (kafir)?

Por que não é “colonialismo” massacrar curdos, xiitas, cristãos, judeus, yazidis e afins, mas é “colonialismo” e “imperialismo” gastar trilhões em ações militares para lutar contra os genocidas e devolver o governo à população local?

Se foi o “imperialismo americano” que “armou” os wahhabistas, os jihadistas e os grupos terroristas como a al Qaeda, por que suas armas são invariavelmente AK-47 russos (presente até na bandeira de Moçambique), o mesmo país aliado do Irã com que Dilma Rousseff negociou a criação de um banco comum?

Onde estão pessoas saudando a Primavera Árabe como o surgimento da liberdade no Oriente Médio, se os grupos terroristas recebem financiamento ou mesmo são as forças que derrubaram as antigas e sanguinárias ditaduras razoavelmente vigiadas pelo Ocidente que dominavam a região?

Por que a “causa palestina” é vista com tão bons olhos pela intelligentsia brasileira, se a Irmandade Muçulmana (que tomou o poder no Egito após a Primavera Árabe, saudada pelo marxista Manuel Castells como uma força capaz de mostrar que “islamismo e democracia são compatíveis”) foi fundada por Hassan al-Banna, admirador de Adolf Hitler, que usou a propaganda “anti-colonialista” para exigir o massacre de judeus para tomar Jerusalém para os muçulmanos?

Por que o mufti Amin al-Husseini, nacionalista palestino, que integrou a Irmandade Muçulmana no ano de sua fundação, além de admirador de Adolf Hitler, recrutou 20 mil muçulmanos da Croácia até a Hungria para lutarem na tropa de elite nazista, as SS?

Por que a “causa palestina” é tão afim da esquerda, que defende tudo o que muçulmanos defendem até um passo antes do umbral do terrorismo, e Israel e a América são tão odiados por esta esquerda, mas até hoje juram que o nacional-socialismo (nazismo) é “de direita” e nada tem a ver com socialismo?

Por que muçulmanos “moderados” e a esquerda ateísta, apesar de defenderem causas um pouco diferentes, sempre possuem os mesmos inimigos comuns?

Quantos analistas políticos brasileiros (e mundiais) são especialistas em religião islâmica, em língua árabe, em história muçulmana e da península arábica, e não meros “especialistas” em Oriente Médio que apenas descrevem notícias da região?

Por que as palavras jihad shari’ah simplesmente inexistem no jornalismo brasileiro?

Por que não se critica mais o anti-semitismo crescente na Europa e no mundo, mas se fala tanto em “islamofobia” até a respeito de quem é contra a instauração da shari’ah?

Quantos muçulmanos no Ocidente rejeitam claramente os princípios islâmicos do Estado Islâmico e outros grupos muçulmanos, como as punições aos gays, às mulheres adúlteras, a quem exibe o corpo, aos “infiéis”? Por que não renegam conceitos como a shari’ah, a jihad, a jizyah, a unidade entre religião, Estado civil, cosmovisão, gerência da sociedade?

Mesmo que religiões como o budismo tenham terroristas inspirados em Osama bin Laden, como Sayadaw Wirathu, o “bin Laden birmanês” (que tem como principal alvo… muçulmanos), por que tantos atentados terroristas muçulmanos acontecem seguidamente, e a segunda maior religião do mundo não é considerada nem um pouco específica em sua relação com o terror e a violência, se é ela, e não o budismo, o cristianismo, o judaísmo, o seicho no-ie, o xintoísmo ou o zoroastrismo que parece ameaçar o Ocidente?

Por que o que a esquerda defende e a sua forma de interpretação do mundo é integralmente idêntica à narrativa da Rede Globo, mas a esquerda jura que a Globo é de “direita” e que é sua grande inimiga?

Assuntos:
Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs". Tem passagens pela Jovem Pan, RedeTV!, Gazeta do Povo e Die Weltwoche, na Suiça.

  • 1
plugins premium WordPress