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Dilma usa vídeo de “pobre falsa” para se homenagear

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Duda Mendonça fez milagres em Maluf e Lula. João Santana elegeu Dilma, mas por um triz. Ainda assim, está fazendo falta. Com o marqueteiro do PT e dos ditadores socialistas da América Latina preso, a equipe de Dilma Rousseff está em maus lençóis para melhorar a imagem da petista durante o impeachment.

Na página oficial do Facebook da ex-presidente, um vídeo foi postado com a legenda “Uma família viajou mais de 10 horas de barco para se encontrar com a presidenta Dilma, em Santarém (PA), e agradecer todas as melhorias que o governo dela possibilitou em sua comunidade. Confira!” Vejam rápido, antes que apaguem.

O vídeo se inicia com a voz embargada e emocionada de uma mulher afirmando que “viajou 10 horas de barco” para agradecer a presidente, entregando-lhe um riquíssimo buquê de rosas que resistiu herculeamente às dez horas de barco. A mulher se explica:

Eu vim porque eu tenho necessidade de agradecer as mil e quinhentas casas que você mandou para a gente, as escolas técnicas (choro), a UPA, as duas creches, o dinheiro para ampliação da nossa rede de água, o nosso terminal hidroviário que você tá concluindo (sic), e que ninguém, nenhum presidente fez por Oriximiná em tão pouco tempo que você fez. Muito obrigado (choro forte), muito obrigado! Eu te amo! Resista por nós! Resista por nós! A gente vai conseguir!

Trata-se, na verdade, de Marjorie Calderaro, esposa de Zequinha Calderaro (PSD), vereador em Oriximiná (PA), como mostrou Darcio Bracarense. A família Calderaro tem até nome de rua na cidade.

Alguém precisa avisar para o marqueteiro reserva de Dilma que pobres não falam coisas como “a UPA, as duas creches, o dinheiro para ampliação da nossa rede de água, o nosso terminal hidroviário que você tá concluindo” sem gaguejar nada, sem confundir as palavras, sem pausas, sem muitos erros de português, sem chamar Bolsa Família de Fome Zero ou coisa do tipo.

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Marjorie Calderaro também esqueceu de disfarçar melhor em seu perfil do Facebook todo o discurso pobrista, que “nenhum presidente fez por Oriximiná” (depois, ao lembrar de Lula, adicionou “em tão pouco tempo” para não ficar tão escandaloso). Colocou o encontro com Dilma como fundo de seu perfil.

Também há alguns álbuns com suas fotos pelo mundo: Paris, Roma, Suíça.

https://www.facebook.com/profile.php?id=100003192936172&sk=photos&collection_token=100003192936172%3A2305272732%3A6

https://www.facebook.com/profile.php?id=100003192936172&sk=photos&collection_token=100003192936172%3A2305272732%3A6

Não se sabe se chegou a tais lugares após 10 horas de barco, mas pode-se imaginar facilmente que não era exatamente a mesma impressão que a página oficial de Dilma Rousseff quis passar ao usar tal legenda, que fez muitos petistas comentarem coisas como “não consigo imaginar o Temer no meio do povão”, “Esse é o amor que o povo tem pela Presidenta Dilma RousseffEmocionante, você merece Presidenta.” ou “Me emocionou!!! Pois vejo muitos ‘ pobres como eu’, que pudemos ter mais conforto e uma boa alimentação dentro de casa. Abrindo portas aos jovens, e trabalho”.

Se os partidos com “comunista” ou “socialista” no nome, os movimentos sociais pregando “revolução” e os blogs vermelhos são tratados pela imprensa sempre como uma parcela ínfima de “radicais”, a “minoria de vândalos” infiltrada no PT tão “democrático” e normal (os “extremistas” atacados pela imprensa são sempre os da direita, mesmo os mais dóceis), basta ver o perfil de qualquer petista para ver que eles são o tutano, o esqueleto e a base medular do PT.

No perfil de Marjorie Calderaro estão todos eles: Brasil 247, Mídia Ninja, Ubes, Debate Progressista et caterva. Não falta a típica crítica à Rede Globo, usando o G1 como fonte no post seguinte.

Em uma postagem de Márcio Couto Henriques, compartilhada por Jori Calderaro (não parece um sobrenome muito necessitador de UPAs, diga-se), lê-se:

“Foi-se o tempo em que Mulé se contentava em ser apenas secretária… agora (como dantes!), Mulé quer e merece ser Ministra, Presidenta.
As Mulé tão tudo embucetada. Chupa, Temer!”

Não exige muita imaginação pensar no que aconteceria se tal expressão estivesse no perfil de algum adversário da presidente, do PT e da esquerda. Provavelmente estaria nos Trending Topics, sendo comentado pela Globo News, pelo Ricardo Boechat, sofrendo moções de repúdio da OAB, sob alegações de que tal pessoa feriu os direitos humanos, sendo acusado de machista e objetificador de mulheres, que mulheres não são apenas suas genitálias, que não deveriam estar em um papel menor na sociedade.

Para quem ainda cai na esparrela do discurso de ricos contra pobres, de única presidente a olhar para o Nordeste e os mais explorados e oprimidos, poderiam ao menos ter usado algum pobre para fazer tal peça publicitária. Nisso não precisariam ser mentirosos e ganhar roubando. Pobres os há aos montes – ainda mais depois da crise em que Dilma e o PT colocaram o país, colocando 11 milhões de trabalhadores no desemprego. Parece que mentir vicia.

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Assuntos:
Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs". Tem passagens pela Jovem Pan, RedeTV!, Gazeta do Povo e Die Weltwoche, na Suiça.

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