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DCM: “Dilma é vítima de estupro coletivo”

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O Diário do C. do Mundo, dirigido por Paulo Nogueira, é um dos chamados “blogs sujos”, blogs de jornalistas via de regra demitidos de seus antigos empregos e que, revoltados, refugiaram-se na internet, criticando seus antigos patrões e financiando-se com verbas de “publicidade” de empresas públicas (como se uma Petrobras ou Banco do Brasil precisassem de blogs para divulgar suas atividades).

Como a troca de favores com os burocratas Estado exige a contrapartida, toda a visão de mundo destes blogs passa a ser defender o partido no governo, geralmente em nome da “ideologia”. Até os maiores escândalos de corrupção e de abuso de poder possíveis são justificados pela ideologia do partido.

É a venda de consciência em troca de um banner de estatal.

Ao comentar o caso do estupro coletivo por 33 homens que chocou o Brasil, Paulo Nogueira não teve dúvidas: sacou a cartela do pensamento único e da referência centrípeta e afirmou que Dilma Rousseff também foi “vítima de estupro coletivo”. Com subtítulo: “A diferença é que mulheres como Marta Suplicy ajudaram os estupradores”.

Certamente haveria maneiras menos toscas de defender fanaticamente e a qualquer custo (petrolão, mensalão, morte de Celso Daniel, compra de delatores, eleições fajutas…) sua protetora na “causa” de receber por defender a ideologia do PT.

De acordo com o “texto” do Diário do C. do Mundo, os homens que estupraram coletivamente Dilma Rousseff eram diferentes dos estupradores da garota na favela do Rio de Janeiro porque “tinham certeza da impunidade”. Curiosamente, os estupradores reais só escaparam da impunidade porque heróis da direita anti-PT denunciaram.

Paulo Nogueira até mesmo elenca quem seriam os estupradores de Dilma Rousseff (crime de calúnia, Art. 138 do Código Penal, Pena – detenção, de seis meses a dois anos, e multa):

De Eduardo Cunha a Aécio, de Caiado a Gilmar Mendes, de FHC a Alckmin, dos irmãos Marinhos a seus fâmulos nas redações, dos complacentes ministros do STF aos deputados e senadores que disseram sim, de Jucá a Renan, de Moro aos delegados da PF, de Temer a Cristovam Buarque – todos sabiam que o crime não teria castigo, porque representavam a plutocracia que domina e achaca os brasileiros.

Plutocracia não é exatamente um regime político, mas um estado da sociedade quando quem manda é quem tem dinheiro. É difícil crer que houve plutocracia maior no país do que todas as mais ricas empreiteiras do país (alguém tem mais dinheiro do que elas?) se mancomunarem com o PT para roubarem, fraudarem contratos, pagarem propina (para ganhar muito mais) e fazerem obras faraônicas  até nas ditaduras mais fechadas do planeta.

Se o parágrafo acima já é passível de processo e representação pelos elencados, pior é o chamado “machismo” em relação à senadora Marta Suplicy. Além de acusada, é chamada de “indecente”, e ainda se faz metáfora de conteúdo sexual com sua saída do PT:

Outra diferença é que mulheres ajudaram no estupro. Um exemplo notável é Marta Suplicy. Eleita por milhões de pessoas que jamais aprovariam o impeachment, Marta ajudou no estupro de que foi vítima Dilma com seu comportamento indecente. É como se ela gritasse aos homens que violentavam Dilma: “Não parem, não parem, não parem”. E eles não pararam, para alegria infame de Marta.

Rosa Weber, por notificar Dilma para se explicar por que usa a palavra “golpe” ao falar de impeachment (mostrando que, afinal, o impeachment segue um rito constitucional, o que a própria notificação mostra), também é chamada de ajudante no estupro, por notificar Dilma “a dizer por que ela anda dizendo que o estupro foi estupro”.

A advogada proponente do impeachment, dra. Janaína Paschoal, é caluniada afirmando que tentou legitimar um estupro:

Uma terceira mulher relevante no ataque feroz foi a advogada Janaína Paschoal. Ela foi paga pelo PSDB de FHC, Aécio e Serra para produzir a peça de impeachment afinal aceita pelo principal estuprador, Cunha. Isso quer dizer: ela pretensamente legitimou o estupro. E acompanhou tudo ensandecida.

Faltou, claro, o clichê de fazer uma metáfora de conteúdo sexual com Janaína Paschoal. Ah, não, não faltou, e veio acompanhada de outras baixarias:

De Janaína pode-se dizer que vibrou, como se tomada por uma entidade do mal, com o que os homens fizeram com Dilma. A seu lado, na vibração incontida em que arremessava a cabeça para cá e para lá, estava um nonagenário que se revelou um câncer, uma metástase, uma zika para o Brasil, Hélio Bicudo.

Obviamente que se alguém disser que Dilma Rousseff (a das pedaladas, dos decretos, da compra de poder, do silenciamento de delatores, da indicação de Lula para escapar da lei) é um câncer para o país, haveria choro e ranger de dentes, inclusive considerando seu gênero e sua idade. Com um homem de 93 anos que nunca foi acusado de nada, que lutou contra a ditadura e foi petista até a década de 2000, o discurso de “proteger os fracos” vai por água abaixo.

Faltam mulheres? O texto prossegue em dedicação especial a elas:

Marina também incentivou os estupradores, com a torcida para que eles pegassem Dilma. Não esqueçamos disso: a participação de Marina. Mulheres cúmplices no jornalismo foram muitas, de Míriam Leitão a Eliane Cantanhede, de Dora Kramer a Cristiana Lobo.

E, claro, a exaltação final a Dilma Rousseff como a grande heroína nacional, superior a todos em ética, lisura e, obviamente, coragem hercúlea:

Como Dilma sobreviveu é um mistério. Quer dizer, um mistério relativo. Para quem sofreu torturas dos militares por tanto tempo em masmorras, nenhuma violência é insuperável.

Claro que, para Dilma, é muito pior sofrer um impeachment depois de afundar o país no caos, de criar a maior crise brasileira em 20 anos, de comprar poder, de se mancomunar com as ditaduras mais assassinas do planeta, de torrar R$ 4 milhões com cartão corporativo só neste ano (R$ 33 mil por dia) do nosso dinheiro do que “sofrer torturas dos militares por tanto tempo em masmorras”. Ainda que não se saiba exatamente qual foi a tortura de Dilma na ditadura, quando era terrorista e ajudava em assaltos, seqüestros e “justiçamentos” na violentíssima VAR-Palmares ao lado de seu primeiro marido, Carlos Araújo, o Max.

O que Paulo Nogueira quer com essa nojeira?

Os brasileiros têm uma chance, ou uma obrigação, de reparar o horror perpetrado pelos estupradores.

Basta devolver a Dilma o que lhe foi roubado no estupro, e punir seus estupradores, um a um.

Não seria melhor defender o indefensável sem chamar 66% dos brasileiros favoráveis ao impeachment de estupradores e afirmar que todos estes 66% devem ser punidos como estupradores? E ainda afirmam que ditadores são os contrários ao PT…

Estupro jornalístico

Não foi só ele. Também o editor do jornal O DIA, Fernando Molica, postou em seu Facebook afirmando que quem mandou um sonoro “VTNC!” para Dilma em estádio na Copa do Mundo é também um estuprador coletivo. Assim, sem meias palavras. Depois afirmam que nossa imprensa é toda “de direita”:

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Que sirva de lição para se entender o que a esquerda quer dizer quando fala tanto em “estupros”, quando num caso concreto de estupro os únicos que se mobilizam são os direitistas.

O que torna o Brasil um lugar perigoso para mulheres, potencial para estupros e destruidoramente corrupto não é falta de feminismo, é gente incapaz de saber olhar pela janela de seus escritórios em Londres e saiba a diferença entre fazer cumprir a lei ou fazer uma crítica feroz a um governante que agiu fora dela e um estupro coletivo.

Gente que confunde um com o outro, definitivamente, não vai tornar o país menos corrupto ou menos passível de estupros. Só poderá piorar ambos.

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Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs". Tem passagens pela Jovem Pan, RedeTV!, Gazeta do Povo e Die Weltwoche, na Suiça.

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