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Brasil 171

Leonardo Attuch e Brasil 247: fim da hegemonia

A hegemonia cultural e eleitoral do PT não tem concorrência. O Brasil 247 de Leonardo Attuch na mira da Polícia Federal é sinal de ruptura.

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No dia em que a Operação Custo Brasil é deflagrada e o ex-ministro do Planejamento Paulo Bernardo, marido de Gleisi Hoffmann, foi preso, passou com muito menos destaque do que o merecido outra notícia: de que a Polícia Federal também levou para depor o “jornalista” Leonardo Attuch, criador do Brasil 247.

Para quem sempre perguntou por que se importar com o que escreve o Brasil 247, apelidado de Brasil 171 pela sua heterodoxa relação com a verdade, a primeira resposta: o Brasil 247 aumenta o Custo Brasil.

A segunda resposta é mais lenta, complexa e profunda.

Sites como o Brasil 247 de Leonardo Attuch aparentam não serem lidos por ninguém no pleno controle de suas capacidades cognitivas, por ninguém capaz de saber a diferença entre uma furadeira e um elefante africano, por ninguém capaz de desenhar um círculo com um copo, por ninguém dotado de um controle socialmente adequado de seus canais excretores, como mostraram todas as manifestações recentes a favor da presidente Dilma Rousseff, feitas com vomitaço, mijaço, cagaço (sentido mais literal), bundaço e depilação pública, para mostrar que a esquerda, petistas e leitores do Brasil 247 têm uma capacidade argumentativa indistingüível de suas necessidades fisiológicas.

A realidade é bem outra. Enquanto as pessoas normais e aquelas sem opção lêem notícias nos grandes portais de sempre, mal notando a existência de sites “menores”, os profissionais do noticiário fazem justamente o oposto: correm direto para os pequenos blogs que filtrarão as notícias políticas para eles. Leonardo Attuch vê o Brasil conforme quer Lula e Dilma, e os formadores de opinião vêem o Brasil por Leonardo Attuch.

dilma-blogueiros-progressistasÉ para isto que servem sites e revistas como Brasil 247, Carta Capital, Caros Amigos, Diário do C. do Mundo, Conversa Afiada, Jornal GGN e afins. Nunca nenhuma denúncia verídica surgiu em suas páginas. Não se sabe de alguma coisa investigada por tais jornalistas que tenha tido relevância ou verdade o suficiente. Mas eles são lidos para que se ainda acredite na esquerda, mesmo notando como o noticiário cava um fosso entre o discurso do professor trotskysta de História no Ensino Médio e a veracidade da existência lá fora.

Ou seja: a cada nova notícia envolvendo algo que quebre a narrativa da esquerda como paladinos do povo, da justiça, do social, do auto-sacrifício em nome do bem coletivo, os próprios jornalistas, professores, formadores de opinião e afins disparam para os Azenhas, Nassifs, Brizolas Netos e Leonardos Attuch’s da vida para continuarem crendo, mesmo assim, na esquerda. Sem eles, não haveria a menor capacidade de a esquerda ainda ser levada a sério nesse país.

O problema, então, não são quantos lêem Brasil 247, mas quem lê. Pode ter certeza de que boa parte da redação do Jornal Nacional, do primeiro caderno da Folha de S. Paulo e dos comentaristas da Globo News e da Band News estava, pouco antes de falar para o grande público, com um Brasil 247 aberto. Ou você acha que o padrão de direcionamento único no enviesamento do noticiário na grande e velha mídia é mera coincidência, uma doença que se pega no ar?

É o que se chama, na ciência política, de hegemonia, palavra-tabu para o vocabulário político brasileiro. Um modelo de construir a sociedade com um pensamento único, impossibilitando qualquer outra interpretação da realidade. É algo novo na história mundial: autoritarismos sempre dispuseram apenas da força, pouco se importando com a “concordância” ou não dos súditos. A sanha democrática da Europa revolucionária do século XIX trouxe consigo um planejamento completo de um país, com idéias como “razão” ou “representatividade”, mas sempre carregando em seu bojo o desejo de que uma única visão dos fatos fosse aceita. É a era dos totalitarismos que tanto marcaram o século XX.

blogueiros-progressistasCaudatários dessas doutrinas, mas com banho de loja e nomes 2.0 para agradar ovelhas doutrinadas nos bancos escolares brasileiros que nunca sonharão com um Nobel ou uma invenção de estro próprio, sites como Brasil 247 fazem ao PT essa construção de narrativas, a chamada infowar (ou, no caso, a netwar, descentralizada e virtual). É a edificação de um novo imaginário coletivo, da manipulação do senso comum até que se perca o contato direto com a realidade (então necessitando de um mediador esquerdista), de uma explicação monolítica em que tudo é culpa de FHC, Temer, neoliberalismo, nazismo, Cunha, Aécio, conservadores, religiosos e reacionários – tudo junto, como uma massa perfeitamente homogênea.

Como uma clave musical, tais blogs, aparentemente “pouco lidos”, filtram a realidade e viram o funil pelo qual jornalistas enxergarão os fatos e os passarão adiante.

Numa era em que fronteiras são demolidas, procure pelo perfil no Twitter de qualquer correspondente internacional no Brasil de qualquer jornal, do New York Times ao ZDF, do Washington Post ao El País, e veja se ele não segue, divulga e às vezes até traduz diretamente um artigo ou outro do Brasil 247 ou nojeiras similares para seus leitores worldwide. Não foi graças ao que se lia sobre o mensalão na Veja que o mundo inteiro passou a última década num bizarro e estúpido otimismo em relação ao Brasil.

Sem saber o que está no Brasil 247, você não saberá o que os professores de História estão ensinando a seus filhos como a maior verdade do universo. Não importa que tudo seja burro, irreal e refutável: saber antes deles é estar preparado. O que Sun Tzu já sabia que era garantia de vitória.

Brasil 247, um dos sites mais sujos da internet

Claro que tal hegemonia não surge de um “convencimento” geral de fato, através de argumentos. Compra-se consciências: tais pessoas se tornam mais petistas do que Lula e Dilma juntos com muito dinheiro.

Leonardo Attuch, antes de criar o Brasil 247, escreveu o curioso livro A CPI que abalou o Brasil, em que relata os desdobramentos do mensalão e como ele sacudiu uma narrativa pronta do PT, que parecia tão altaneiro que merecia o título de angelical pelas mentes inocentes dos idos de 2004.

O livro é confuso e não junta lé com cré: fala do escândalo de propinas em Ribeirão Preto na gestão Palocci e corre para o esbanjamento de Delúbio Soares, que acendia um charuto cubano caríssimo numa sala, era chamado para outra e acendia outro por lá, já que era o trouxa do trabalhador brasileiro que estava pagando, mesmo. Mas não mostra, afinal, o que une tudo no mensalão. Nem faz com que seu leitor entenda lhufas sobre o esquema totalitário de compra de votos que, mesmo que fosse sem dinheiro roubado, ainda seria um golpe à separação entre os poderes bem pior do que o AI-5.

Um personagem, também pouco explicado no livro, é o banqueiro Daniel Dantas, que aparece quase como uma “vítima” do esquema do PT, de obrigar todos os grandes bancos e empreiteiras a pagarem propina para o partido, caso ainda quisessem lucrar. Dantas parece ter gostado da forma como foi pintado. Especula-se que Leonardo Attuch tenha ido parar na Istoé após Dantas ganhar poder dentro da revista para atacar os inimigos do banqueiro. A relação entre ambos parece ser umbilical.

Não só Leonardo Attuch, mas o próprio Brasil 247 foi acusado de ser financiado por Daniel Dantas. O acusador não foi um grande direitista: foi Paulo Henrique Amorim, que trata qualquer analfabeto desqualificado da blogosfera progressista como “uma combinação de Einstein com Machado de Assis”.

Leonardo Attuch recebeu 120 000 reais da Jamp, a empresa do lobista Milton Pascowitch. Dilma Rousseff firmou um contrato de 2,1 milhões com o Brasil 247, conforme relata O Antagonista.

Leonardo Attuch já teve seu pedido de prisão expedido, mas Sergio Moro negou, sabendo magistralmente da repercussão que é prender um “jornalista”, ainda que com muitas aspas merecidas. Tal como Breno Altman, do Opera Mundi, amigo do peito de José Dirceu, investigado na Lava-Jato por ser o elo entre o PT e Ronan Maria Pinto, dono do Diário do Grande ABC. Ronan foi preso e é investigado por aparentemente ter conseguido o jornal chantageando o PT com informações que incriminariam manda-chuvas do partido, incluindo Gilberto Carvalho, José Dirceu e o próprio Lula, no brutal assassinato de Celso Daniel.

Leonardo Attuch pós-Brasil 247

O Antagonista revelou que o PT, comandando o governo federal, repassou R$ 11 milhões a blogueiros para formar sua hegemonia. É dinheiro do pagador de impostos dado para blogueiros defenderem o PT, mesmo quando 66% da população é a favor do impeachment e a popularidade da presidente ficou em um dígito.

Se fosse realmente preocupação com a “Comunicação”, o governo não iria dar dinheiro apenas para blogs que, sem o dinheiro do trabalhador brasileiro, provavelmente iriam à falência: repassaria a todos. Mas a marca do totalitarismo é confundir Estado com Partido, criando os Partidos-Estados que comandaram o século XX.

Michel Temer cortou a mamata das sinecuras blogueiras, mas parece ser um homem com medo de desagradar a esquerda, se ela consegue criar notícias nos jornais – jornais hoje mais chiliquentos do que muito DCE. Envoltos em escândalos de dinheiro sujo, pode ser que os blogueiros progressistas, campeoníssimos no assassinato de reputações, quando não acabarem presos, decretem falência de seus sites. Alguns poderão virar eficientes atendentes do Mc Donald’s.

leonardo-attuch-brasil247_Mas a hegemonia não é quebrada da noite para o dia – nem mesmo num dia como hoje. Basta ver como Folha, Noblat e outros bambambans do jornalismo correram para publicar uma “correção”, um mea culpa, um “Erramos” até mesmo hoje.

Após a polícia bater na porta de Leonardo Attuch, o Brasil 247 publicou uma “nota de esclarecimento” afirmando que que Leonardo Attuch não sofreu “condução coercitiva”, este termo jurídico que o PT fez o povo amar. Apenas teria ido voluntariamente prestar esclarecimentos à Polícia Federal.

Todos os jornais se desculparam e afirmaram que a verdade dos fatos é a dita por nada menos do que o Brasil 247 do próprio Leonardo Attuch.

Mas alguém pensou de fato se isto faz sentido? Acaso o sr. Leonardo Attuch acordou, tomou um café, escovou os dentes, foi ao banheiro, leu umas páginas sobre a Operação Custo Brasil e pensou: “Poxa, eu deveria dar esclarecimentos de livre vontade à Polícia Federal!”, então pegou seu carro, ele mesmo, foi até a sede da PF, afirmou: “Gostaria de prestar esclarecimentos livremente!” e começou a falar sobre os contratos de sua empresa?

Alguém parou 2 segundos pra pensar na historieta para boi dormir que vergonhosamente marca como uma correção à sua própria investigação?

Ou parece um pouco mais crível que a PF bateu na porta de Attuch, explicou o que estava fazendo ali, e Attuch, para parecer um herói sem ser tão ridículo quanto José Genoíno, que usou uma toalha de mesa como capa de super-herói quando foi preso (nunca é demais lembrar disso), resolveu dizer: “Ok, vou prestar esclarecimentos” e foi “livremente” para a sede da PF?

Na verdade, Leonardo Attuch foi alvo de uma certa invenção do juiz, uma condução judicial. Não é uma condução coercitiva, com algema e tudo, mas continua sendo uma intimação em busca de provas. Numa condução coercitiva, o elemento é levado para a delegacia para depor, e caso resista, haverá força. Lá, poderá exercer o seu direito de permanecer calado. Numa condução judicial, o elemento é intimado a prestar depoimentos na delegacia, mas se quiser permanecer calado, a autoridade policial o deixa em sua própria casa, assinando que o elemento quis ficar calado. Não há o “susto” da delegacia.

Leonardo Attuch afirmar que foi “convidado”, que foi prestar esclarecimentos “voluntariamente”, e isso ser replicado até no Jornal Nacional, é um acinte ridículo a quem quer fatos, e não ideologia e hegemonia.

Como se vê, o progressismo não morre mesmo com a verdade mais óbvia do mundo escancarada diante de nossos narizes.

Podemos nos livrar do PT e dos blogs sujos, mas demorará muito mais para nos livrarmos do petismo e do progressismo e pensamento blogueiro-progressista.

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Assuntos:
Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs". Tem passagens pela Jovem Pan, RedeTV!, Gazeta do Povo e Die Weltwoche, na Suiça.

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