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Eduardo Cunha a favor, Dilma contra

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Agora que Eduardo Cunha, ex-articulador principal do PT na Câmara e ex-puxador de votos oficial no Rio de Janeiro de Dilma Rousseff, renunciou à presidência da Câmara, estamos em risco da programação da Globo News acabar. Bum, já era. Nada mais a dizer. É o fim da história.

Eduardo Cunha, num mundo com vocabulário binário para uma realidade extremamente multifacetada, se tornou a incógnita suprema para os intelectuais, os jornalistas e, sobretudo, a esquerda.

Afinal, o vilão preferido, Eduardo, o Cunha, foi chamado pela esquerda de “líder da direita”. A direita, nascendo no Brasil, mal sabia quem é Eduardo Cunha antes de 2014. Esta direita se cria ao redor do anti-petismo, com alguns, mais estudados, reconhecendo valores conservadores, sobretudo religiosos, com alguma noção de economia liberal.

Cunha, do eterno parasitista PMDB, é apenas evangélico – segurou por diversas vezes a tentativa de legalizar o aborto sem eleição, por exemplo. De resto, é da mesma bancada evangélica que tanto apoiou Dilma e o PT durante todos estes anos.

O PT, ainda enxergando um mundo binário, tenta espancar Cunha como o mal supremo da nação, crendo estar batendo na direita. Ao contrário da esquerda brasileira, já assentada, ideologicamente dominante ao ponto da hegemonia e até aparelhando todo o aparato público, crê que a nascente direita brasileira é um sinônimo perfeito de “todos os políticos que não são do PT ou da extrema-esquerda”.

Ao contrário da esquerda, a direita vota com nojo. Esquerda ama política. A direita ama se ver livre de políticos. Alguns gatos pingados podem ver em Cunha um bom político, mas tão somente pelo anti-petismo.

A esquerda defende partidos e políticos: a direita defende valores, que às vezes, para serem concretizados, precisam de políticos. Quando os políticos da esquerda são pegos com a boca na botija, os esquerdistas defendem sua inocência contra os fatos. Quando os políticos que às vezes a direita defende são flagrados em malversações, a direita defende o certo e que os políticos vão para a cadeia. Mesmo quando são políticos que sejam, ao contrário de Cunha, claramente direitistas, como Demóstenes Torres.

O que acontece é que Dilma, com processo de impeachment apoiado por 66% dos brasileiros, com popularidade de um dígito, considerada corrupta pela maior parte da população e afundando o Brasil numa crise que já produziu até um suicídio (fora Olimpíadas, os vários desmandos do PT, roubo de aposentados, segurança pública etc etc etc etc etc) tenta se agarrar ao poder contra o que o povo quer. Eduardo Cunha, notando uma demanda reprimida, apenas galgou o poder de barganha que teve virando as costas ao PT atendendo, heterodoxamente, ao que a sociedade queria.

Bater nele é fácil. Afinal, ninguém vai defendê-lo – a direita apenas usa Cunha, que achou que seria um jogador de xadrez, mas acabou sendo uma boa peça a ser sacrificada no xadrez do povo contra o PT.

O problema para o PT, mesmo aparelhando o ensino, o jornalismo, as estatais e a cultura, é mostrar que o povo tem algum apreço pelo PT maior do que teve por Eduardo Cunha, personagem que o povo lidou com nojinho e luvas de mexer no lixo.

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Assuntos:
Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs". Tem passagens pela Jovem Pan, RedeTV!, Gazeta do Povo e Die Weltwoche, na Suiça.

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