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Ideologia

Quem perdeu as Olimpíadas: o feminismo

As Olimpíadas prometiam uma catástrofe, mas o maior perdedor foi mesmo uma ideologia: a visão de mundo imposta pelo feminismo.

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Garoto rabisca nome de Neymar, escreve o de Marta em camiseta da seleção do Brasil e defende o feminismo

Numa Olimpíada atolada em hiperfaturamento, instalações carcomidas, um prefeito boquirroto, ameaças terroristas e com inúmeros fatores que prometiam um desastre de proporções transcontinentais, quem realmente se destacou no malogro foi uma ideologia: o feminismo.

Foi a ótica do feminismo que, ainda no começo das Olimpíadas, tentou, como dita a moda, problematizar questões triviais, como a diferença de público entre o futebol feminino e o masculino.

Uma das imagens mais icônicas destas Olimpíadas é a do menino Bernardo, que apagou o nome do jogador Neymar de sua camiseta e escreveu por cima “Marta”, por não encontrar camisetas com o nome da jogadora.

https://twitter.com/HvonKaiser/status/762814474701172736

O menino Bernardo disse que a vitória da seleção feminina era “um símbolo do feminismo no Brasil”, já que as meninas estavam ganhando “todas” e “arrebentando”. De forma curiosa, estavam ganhando de outras mulheres. Se tivessem perdido (como logo mais perderam), também foi para mulheres, o que misteriosamente não foi usado como propaganda feminista.

Tweet de "Sereia" defendendo o feminismo em esportes como futebol, vôlei e handebol.

O problema é que o futebol feminino não ganhou. Nem o vôlei. Nem o handebol (neste caso, nem o masculino). Nas duas medalhas de ouro por equipe, inclusive o inédito no futebol, foram times masculinos que ganharam – inclusive o inédito ouro no futebol, com gol de ninguém menos do que Neymar.

No fim do vídeo do menino Bernardo, a narradora lhe diz: “Você sabe que vai crescer e que vai ser sensacional, né?”. Bernardo, malgrado seu, não precisou crescer. Precisou esperar uma semana.

A ideologia do feminismo e sua nova modinha, a problematização, tenta recortar pedaços da realidade, da diferença estatística total de salários entre homens e mulheres (sem nunca, por exemplo, verificar se existe alguma diferença em cargos iguais) ou nas vitórias da primeira fase de jogos olímpicos para encontrar injustiças a serem corrigidas à força de cotas e ações afirmativas.

É, de fato, uma problematização: criar problemas onde eles não existem.

O feminismo, em si, nunca é problematizado. Nunca se pergunta a quem ele serve, por que surgiu, como se desenvolveu, quem sai ganhando de fato com a ideologia feminista por debaixo de seu discurso edulcorado, seu nome fantasia para as massas. As pessoas são capazes de duvidar de civilizações, de leis, de costumes, dos pais, da ética, da honra (e nada disso é impassível de análises críticas sérias), mas nunca de uma ideologia de moda como o feminismo.

O pobre menino Bernardo, usado como propaganda ideológica há pouco mais de uma semana, acabou mostrando involuntariamente a brevidade do que definimos como pensamento ideológico: a subordinação da realidade ao afunilamento de uma ideologia.

O cabresto do feminismo, só querendo enxergar diferenças entre homens e mulheres, ao invés de se subordinar ao tecido do real e enxergá-lo em sua inteireza, é o mesmo que tanto se denuncia em ideologias políticas, religiões e grandes mentalidades ligadas a instituições gigantescas e, no mais das vezes, vetustas. Por que o próprio feminismo, com falhas muito mais gritantes num intervalo minúsculo de tempo, não é passível da mesma reavaliação – ou “problematização”?

A resposta é simples como a narradora do vídeo de Bernardo: porque ele é moda. E, exatamente ao contrário do que nossa otimista heroína tenta fazer crer, o tempo destrói ideologias e deixa um rastro de vergonha em nosso passado graças a elas. Por isso tradições falam de arrependimento, enquanto ideologias são sempre de um otimismo revolucionário irresistível.

Basta pensar que tudo o que nossas bisavós pensam de mais obsoleto e ultrapassado, de calções de banho a nomes feios, já foi moda um dia. E se apagaram. Hoje, feministas crêem mesmo que sua modinha no presente e o tortuoso caminho do futuro são sinônimos. Malgrado delas, digo, “delxs”, não sobrevive a uma semana de futebol.

Se pensassem como a tradição americana e seu E pluribus unum, poderiam pensar em leis gerais para a humanidade contra tiranias, independentes de sexo, cor, origem. Quando pensam, ao contrário, pelo pensamento ideológico Show da Xuxa, em tentar jogar homens contra mulheres (ou héteros contra gays, brancos contra negros etc), ao invés de paz, exigem uma “recompensa” sem nunca se perguntar por qual via que apenas aumenta a tirania do controle governamental sobre nossas vidas. Até nossas sinapses.

É chocante ter de dizer isso, mas o resultado da problematização feminista é esse: criar problemas onde antes não existiam.

O menino Bernardo, se tivesse nascido 10 anos antes e passasse sua infância antes da modinha do feminismo contaminar a mediocridade (seja da população, da academia ou da mídia), poderia torcer por Marta e por Neymar, sem agruras, como toda pessoa normal. Imerso numa platéia vestindo o cabresto ideológico, seu discurso “sensacional” não sobreviveu por uma semana.

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Assuntos:
Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs". Tem passagens pela Jovem Pan, RedeTV!, Gazeta do Povo e Die Weltwoche, na Suiça.

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