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DCM, o Diário do Centro do Mundo, julga Fernando Holiday por sua cor

O blog de Kiko e Paulo Nogueira, DCM - Diário do Centro do Mundo, acha que Fernando Holiday deve ter menos pensamentos livres por ser negro.

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Diário do Centro do Mundo (DCM) julga Fernando Holiday, do MBL, vereador pelo DEM, por ser negro.

O DCM, Diário do Centro do Mundo, blog progressista capitaneado por Kiko e Paulo Nogueira, publicou um emblemático artigo intitulado Quantos mandatos Fernando Holiday do MBL cumprirá até tornar-se negro?

Fernando Holiday, uma das lideranças do MBL, Movimento Brasil Livre, foi uma das principais linhas de frente pelo impeachment de Dilma Rousseff. Negro, gay e morador da periferia, abriu suas contas de campanha e foi o 13.º vereador com mais votos em São Paulo, pelo DEM.

Para o Diário do C. do Mundo, contudo, Fernando Holiday não é negro, afinal, negros, para o DCM, precisam ser de esquerda e pensar como eles querem que negros pensam. Alguém branco, para o DCM, até tem, digamos assim, um certo direito a mais do que um negro em ser de direita. Já Fernando Holiday deve ser julgado não de acordo com suas crenças, mas de acordo com a cor de sua pele.

O caso lembra o de Paulo Henrique Amorim, que foi condenado a 1 ano e 8 meses de prisão por chamar o apresentador da Globo Heraldo Pereira de “negro de alma branca”. A sentença foi substituída por restrição de direitos pela idade avançada de Paulo Henrique Amorim. Os juízes entenderam que PHA não fora ofensivo com todos os negros, mas apenas com Heraldo Pereira. É de se saber se alguém também consideraria este caso tão individualista assim.

Para o Diário do C. do Mundo, como Fernando Holiday é negro, precisa “repensar o seu papel na política e no mundo”. Não é possível imaginar em que situação tal frase seria dita para um branco. Sendo negro, Holiday ganha um tratamento diferenciado do DCM.

A justificativa é a de que Fernando Holiday se filiou ao DEM, que é um partido contra cotas. O próprio Holiday é contra cotas. Mas isso o DCM não permite à consciência individual de um negro, que deve obedecer o que eles têm a dizer. Para o Diário do C. do Mundo, Fernando Holiday “ignora o extermínio anual de 23 mil jovens negros”, não se sabe por qual argumento – a direita, sabe-se, é a maior preocupada em diminuir a criminalidade, enquanto a esquerda a associa à luta pela “igualdade”.

A solução do DCM é a típica solução DCE: criar um órgão do Estado para “promoção de políticas” ou coisa do tipo, aboletá-la com um monte de companheiros hiperfaturados e dizer que todo o dinheiro do pagador de impostos brasileiro (e negro) serviu para fazer pichação, hip hop e qualquer outro estereótipo de negros, que podem ser qualquer coisa, exceto seres humanos individuais que se tornam o 13.º vereador mais votado da maior cidade do hemisfério.

O Diário do C. do Mundo então cita os próprios argumentos de Fernando Holiday: que a secretaria “nunca ajudou ou procurou combater o racismo”. Que a SMPIR é “segregacionista” e “trouxe mais divisão à cidade de São Paulo”. Para o DCM, que só fala para a própria militância lobotomizada, citar basta como contra-argumento. Não percebe o autor Marcos Sacramento que sua forma de segregar pensamentos por cor de pele é uma prova viva do que o próprio Fernando Holiday acusa.

https://twitter.com/GABRIELPlNHEIRO/status/783819206726938625

A conclusão para se afirmar que Fernando Holiday precisa “se tornar negro”, que precisa ter um pensamento de negro, que, sendo negro, deve aprender a ser negro com Marcos Sacramento, que, por ser negro, ao contrário de um branco, deve ter um pensamento mais restrito, limitado, obediente, é citar o livro de uma psicanalista, Neusa Santos Souza, autora de um artefato chamado “Tornar-se Negro”.

Ao invés de uma desculpa para o título ofensivíssimo, o plágio do “tornar-se mulher” de Simone de Beauvoir apenas sistematiza a manipulação do negro. Para Neusa Santos Souza, “Ser negro não é uma condição dada, a priori. É um vir a ser. Ser negro é tornar-se negro”. Marcos Sacramento explica que trata-se de criticar negros pela “a negação da própria cultura e das suas características”.

Seria bizarro um estudo caçando os “falsos brancos”. Afirmando que não se nasce branco: se torna. Que ser branco é um devir histórico, um vir a ser. Que há brancos negando a própria cultura. Na verdade, todos esses estudos já existiram e conhecemos o resultado.

Dizer que alguém só é negro quando aceita ser manipulado pela esquerda não é uma defesa do negro. É uma prisão. Julgar o pensamento do negro, marcando-o como negro a cada fala (alguém faz isso com pensadores, políticos, ativistas e seres humanos brancos?), para que ele lhe obedeça, não é um pensamento anti-racista: é justamente dividir a sociedade por castas. É a institucionalização do negro como peão de jogo de xadrez, infantaria obediente a proteger quem vai atrás.

Exatamente o que Fernando Holiday tanto critica nas Secretarias e órgãos do governo que nunca fizeram nada além de separar a sociedade.

O Diário do C. do Mundo foi um dos blogs sujos que recebia dinheiro do pagador de impostos brasileiro para defender o PT na internet. Mesmo que alguém odiasse o DCM, era obrigado a pagar as contas do blog, que usa tais tipos de argumentos baseados em raça contra desafetos. Só em 2016, receberia R$ 1,11 milhão, como revelou O Antagonista. Michel Temer suspendeu o pagamento.

Seria de bom tom o Diário do C. do Mundo, já suficientemente endinheirado, prestar contas à Justiça, para saber se um caso como esse também é apenas uma ofensa a Fernando Holiday, ou a todos os negros.

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Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs". Tem passagens pela Jovem Pan, RedeTV!, Gazeta do Povo e Die Weltwoche, na Suiça.

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