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Todo negro não-esquerdista é “capitão do mato” para a esquerda

Fernando Holiday, vereador do MBL, foi chamado de "capitão do mato" pelo Sensacionalista. A esquerda pode fazer humor flertando com o racismo?

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Sensacionalista chama Fernando Holiday de "capitão do mato"

Fernando Holiday, um dos vereadores com mais votos nas últimas eleições municipais e membro do MBL, foi chamado de “capitão do mato” em, digamos, “piada” do portal Sensacionalista, do UOL. Fernando Holiday, que é negro, mereceu uma piada específica do portal justamente por ser negro.

O Sensacionalista tem como redator e um dos fundadores Marcelo Zorzanelli, criador do ainda mais humorístico “Diário do C. do Mundo”, que replica seu conteúdo.

“Capitão do mato”, como todos se lembram após os xingamentos racistas de petistas contra Joaquim Barbosa, eram os escravos que caçavam outros escravos fugitivos.

Numa linha tênue difícil de se fazer movimentos muito ousados, o Sensacionalista tenta fazer uma espécie de “humor politicamente correto”, uma contradição em termos impossível de ser concretizada. O grande satirista e também teórico conservador Malcolm Muggeridge, uma das mentes mais fascinantes do século XX, expôs em cores desnudas tal fato com seu famoso dito: “Humor e bom gosto são uma contradição em termos: algo como uma prostituta casta”.

O politicamente correto, todavia, é uma censura inter pares: uma restrição do que pode ser dito, não uma extensão. Não uma libertação, mas um aprisionamento voluntário – e não tão voluntário, sendo a patrulha de qualquer um que discorde de sua gaiolinha conceitual seu principal chamariz.

Chamar Fernando Holiday de “capitão do mato” não é apenas mau gosto, o que está na essência do humor. O problema é justamente não ser humor: ninguém poderia rir de uma frase escrota como essa, porque não é engraçado. Como ninguém ri de chamar um adversário político de “idiota” ou “porco”: é apenas um xingamento. Não é humor.

Sendo o politicamente correto uma polícia política, uma censura e proibição e perseguição (mesmo quando não transformada em lei) de qualquer um que ouse discordar politicamente da ideologia da moda, palavras que possam ser encaradas como racistas, por exemplo, ainda que seja só um “nêgo”, são tratadas como proibidas, exigindo-se processos, novas leis, um alarde na mídia, força policial para que não se “ofenda” ninguém.

Entretanto, caso um xingamento muito mais pesado, como “capitão do mato”, alguém que persegue negros, que não é um “negro de verdade”, ora, aí está liberado, pois o xingamento pesado não discordou politicamente da ideologia da modinha. Inclusive, pode ser disfarçado de “humor”, mesmo quando não fez ninguém rir, nem mesmo os que comungam da ideologia da modinha.

Afinal, o xingado foi Fernando Holiday. Ou Joaquim Barbosa. Para estes, todos os xingamentos, inclusive os mais racistas, estão liberados. Ninguém da patrulha politicamente correta, que sai denunciado racismo até em propaganda de sabão em pó, irá criticar o Sensacionalista.

Entender tal dinâmica é o que permite entender e denunciar por que a censura em curso corre solta, mesmo sem o amparo da lei e sem que os censores precisem cuidar do que eles próprios digam. Sem entender tal dinâmica, até aqueles contrários ao pensamento dirigista da sociedade de controle de esquerda acabam aceitando a censura politicamente correta – sem denunciar um xingamento muito mais pesado como “capitão do mato”.

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Assuntos:
Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs". Tem passagens pela Jovem Pan, RedeTV!, Gazeta do Povo e Die Weltwoche, na Suiça.

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