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Admita: você só não gosta de Trump para parecer descolado com os amigos da facul

Há uma anatomia e um modus operandi comum no discurso de ódio contra Donald Trump: a crença na grande mídia e a pressão dos coleguinhas.

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Protesto contra Donald Trump

Hillary Clinton tinha preferência sobre Donald Trump em todos os países do mundo, exceto a Rússia. Por que Donald Trump é uma figura tão detestada? Pergunte para um transeunte aleatório, e qualquer pessoa é capaz de apostar que a resposta envolverá as palavras racismo, machismo, homofobia, xenofobia, preconceito e suas variantes. Sua retórica é agressiva. Ele é grosseiro e politicamente incorreto.

Por uma coincidência com precisão cirúrgica, são exatamente os termos com que um dos lados do espectro político, aquele mais em voga, acusa simplesmente tudo do outro lado. Uma pergunta simples pode ser reveladora: que concorrente de Hillary Clinton ou qualquer Democrata NÃO seria chamado precisamente pelas mesmas pechas?

Não se trata, evidentemente, de algo na política de Donald Trump. Em sua visão sobre o combate ao terrorismo. Sobre a OTAN. Sobre os empregos, os salários, a segurança, a economia, a visão de juízes para a Suprema Corte (fato que pode determinar a jurisprudência e eleições americanas pelas próximas três décadas), sobre sua visão para a educação, a saúde, o crescimento.

Nada disso tem nada de fascista – nenhum sinal de Estado total e militarismo exacerbado (Putin, aliás, preferia Trump exatamente por isso). O candidato “que odeia latinos” foi o único a visitar o México, país com população imigrante que votou em peso no republicano na Flórida, estado mais latino da América. Seu “machismo” mais explícito envolveu um comentário típico do que pessoas falam em privado, inclusive muitas mulheres (quando são pudicas como Marcela Temer, as mesmas pessoas reclamam da falta de palavrões). Nada comparável à rede de pedofilia de Anthony Weiner, marido da principal assessora de Hillary Clinton, por exemplo, embora isso não seja falado pela mídia.

donald-trump-pussyPortanto, não se odeia Donald Trump por algo em Donald Trump. Odeia-se Donald Trump pelo que se é associado ao se falar em Donald Trump. Ou, dizendo em inglês, com a força maior de uma preposição no fim da frase, you don’t hate Trump by what he is, but by what you get associated with.

Se você não é a favor da política de open borders, de destruir as fronteiras dos países em prol de uma gestão transnacional (geralmente através de ONGs e a super ONG, a ONU), por burocratas não-eleitos, então você será associado com a “xenofobia”, o que nada tem a ver com o que você (ou Donald Trump) pensa.

Se você não é a favor do controle estatal da economia, a versão do capitalismo de Estado proposto por Hillary Clinton, para sua “igualdade de rendimentos entre homens e mulheres”, por exemplo, você também será associado com o machismo. Como se você espancasse toda mulher que visse pela frente e as tratasse como um cavalo e depositário de esperma.

Se você não é a favor de entupir a América de refugiados de países que promovem terrorismo, e cuja maior parte da população quer seguir e implantar apenas a shari’ah, e não a Constituição americana, você será associado com o fascismo. E a intolerância, o racismo, o supremacismo branco e o envenenamento da maçã da Branca de Neve, por alguma razão. Ou, na verdade, emoção dirigida por especialistas. São sentimentos forjados mandando no mundo.

E Donald Trump também é homofóbico. Nesse ponto simplesmente não se sabe por que raios, mas já que já falamos “racista, machista, misógino, sexista, xenófobo e islamofóbico”, basta meter “homofóbico” no meio que ninguém na rodinha vai parar para se perguntar: “Mas peraí?!”

donald-trump-muslim

Não se trata, portanto, de pensar e pesquisar – aquele discurso pronto de desconfiar da mídia, que foi abandonado em troca da crença cega na mídia, com toda a mídia em uníssono repetindo suas impressões sobre o então candidato republicano –, trata-se apenas de repetir o mesmo discurso que está todo mundo dizendo, para não pegar mal com o seu grupinho.

Nunca ouse ser o primeiro da mesa cheia de jovens descolados, com diplomas universitários, que entendem de cervejas caras, baladas interessantes e conversam sobre suas viagens a Nova York, Londres e Paris, e diga: “Mas parece que o plano de Donald Trump não tem nada a ver com deportação em massa de muçulmanos nas ruas como estão dizendo…” Nunca, nunca diga isso. Não importa se é verdade: vai pegar mal.

Cacoetes para isso também são dados. Os eleitores de Trump são “paranóicos” e “brancos sem diploma” dos “estados rurais” com “preconceito”. Ninguém tem culpa de ser branco num país colonizado por brancos. Trata-se tão somente de um discurso que, aplicado à demografia brasileira, seria como “Quem não vota em Haddad e Freixo são negros do Nordeste ou da periferia sem diploma universitário que não falam como nós, riquinhos do Leblon e de Pinheiros”.

Como se preocupação de pobre fosse mesmo “micro-agressão” e “trigger warning”. E como se o “preconceituoso”, nesta situação, fossem os pobres.  A já famigerável técnica da rotulagem reversa: se todos odeiam Donald Trump, então é porque Donald Trump é odiável, e se os ataques a ele são violentos, é porque ele é extremamente violento para “causar” isso.

https://twitter.com/realdonaldtrump/status/276437174847672320

Não é substância o que está em jogo no discurso tão hegemônico, homogêneo, histérico e hipersensível a respeito de Donald Trump. É associação. E a famosa peer pressure, a pressão dos pares para que ninguém fuja muito do discurso mainstream.

O problema principal de quem cai nessa é que é a turma que acha, justamente, que não é o mainstream. Acha-se uma pessoa difícil de tapear por odiar Donald Trump ou qualquer um que a mídia o mande odiar, apenas porque seu grupinho de amigos descolados da facul exigem tal comportamento dele. Para ser um ser “pensante”.

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Assuntos:
Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs". Tem passagens pela Jovem Pan, RedeTV!, Gazeta do Povo e Die Weltwoche, na Suiça.

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