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Era dos extremos

Jornalista conservador Milo Yiannopoulos é ameaçado por grupo “anti-fascista” em Berkeley

O jornalista gay, católico e conservador Milo é chamado de "extrema-direita" pela mídia. É o que basta para sofrer ameaças e não poder falar.

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Kill Fascists (Matem os fascistas), protesto contra Milo Yiannopoulos na UC Berkeley

O jornalista greco-britânico Milo Yiannopoulos teve uma palestra sua cancelada na UC Berkeley. A polícia precisou ser chamada: alunos interessados na palestra tiveram de se esconder nos banheiros e mesmo jornalistas da CNN cobrindo o “protesto” quase sofreram com a violência dos alunos, que se consideravam “anti-fascistas”.

Milo Yiannopoulos foi sensação nas últimas eleições por apresentar princípios conservadores através de linguagem acessível ao público jovem, sobretudo a geração meme da internet. Seu livro é um dos maiores sucessos da Amazon, sendo que ainda nem foi lançado.

Milo se tornou editor do hoje aclamado site Breitbart.com. Gay, católico, de mãe judia, imigrante e opositor de todo o inventário da esquerda moderna (feminismo da “terceira onda”, islamismo, linguajar politicamente correto e os social justice warriors), Milo foi uma pedra no sapato da esquerda, sobretudo em sua roupagem Hillary Clinton, por apontar suas incoerências sem poder ser acusado do que geralmente se acusa a direita – um suposto “privilegiado” por ser branco, heterossexual, americano ou “cis”.

Entretanto, sobre ele é usada a chamada técnica da rotulagem inversa, como definida por Olavo de Carvalho. Se é impossível responder à sua argumentação, basta atentar para o fato de que muitas pessoas o odeiam. Se muitos o odeiam, provavelmente é porque o sujeito odiável é. Por isso Milo, obviamente um defensor dos gays – até costuma fazer sexo com eles – pode mesmo assim ser facilmente xingado por nomes terminados em -ista ou -fóbico ainda assim, tão somente porque tais palavras se tornaram substitutos acadêmicos para o bom e velho “f. d. p.”, além de contar com a chancela da manada para se ter uma sensação de se estar combatendo tiranos e protegendo oprimidos.

https://www.youtube.com/watch?v=S_3D3At6P_I

A técnica já foi usada contra Sarah Palin, acusada de ser “burra” por todo o Ocidente por supostamente ter dito que conseguia ver a Rússia de “sua casa”, uma frase de uma sátira feita pelo Saturday Night Live, atribuída a ela própria (o que não faz senão revelar alguma burrice em quem a acusa de ter dito o que não disse). Palin, na verdade, apenas havia respondido sobre suas credenciais na política externa afirmando que é possível ver a Rússia a partir de uma ilha no Alasca (o que é verdade) e que conseguia antever Vladimir Putin invadindo a Ucrânia para tomar a Criméia dali a alguns anos.

Se todos estão odiando Sarah Palin, o desejo mimético denunciado por René Girard já o diria, algo de “odiável” a mulher deve ter. Quando Vladimir Putin de fato anexou a Ucrânia, conforme Palin havia prognosticado praticamente sozinha anos antes sob uma chuva de impropérios, não houve nenhum muxoxo do movimento feminista para proteger a honra de uma mãe de família contra o ataque de brancos ricos poderosos tratando-a como burra – o que o vocabulário progressista chama de gaslighting.

Sarah Palin entrou para a história como uma candidata a vice-presidente despreparada, ninguém assumiu que Palin acertou, e ela continua sendo tratada como uma vergonha, uma criatura inferior perante o gênio de Obama e outros não-acertadores da geopolítica e, ainda por cima, um exemplo do perigo para o mundo de um Republicano cuidando de assuntos sérios. Se odeiam Sarah Palin, certamente quem está errada deve ser a caipira governadora do Alasca.

Milo YiannopoulosHoje é a vez de Milo Yiannopoulos entrar no mesmo moedor de carne do assassinato de reputações: nunca se critica suas falas, mas basta imputar-lhe palavras-gatilho, como “racista” ou qualquer outra coisa que indique um preconceito irracional – numa geração de leitores de manchete, ninguém nunca irá pesquisar o que Milo Yiannopoulos diz, pensa, acha e muito menos escreve: apenas se obedece ao comando central, o famoso dog whistle, e todos passam a odiá-lo. A massacrá-lo. A temê-lo.

Até mesmo a ameaçá-lo: o desejo mimético, René Girard já o explicara, exige um bode expiatório a ser sacrificado. O curioso no caso de Milo é o método: o jornalista conservador é acusado de promover “discurso de ódio”. Não há registro no Google inteiro de alguma incitação de Milo contra quem quer que seja, nem no nível mais simbólico e abstrato. Contudo, se dizem que Milo é odiável por propagar ódio, então toda forma de ódio… contra Milo é válida.

Contra Milo, não há uma única notícia que não tente pechá-lo por algo negativo, como chamá-lo de “extrema-direita”, mesmo sendo um libertário cultural (alguém, alguma vez, ao citar fontes variando de Catraca Livre a Carta Maior, lembrou de classificar tais jornais como de “extrema-esquerda”, sabendo que são o que são, enquanto “extrema-direita” é uma tentativa de fazer inocentes parecerem nazistas?).

Ao tentar retratar Milo Yiannopoulos forçando analogias, palavras e conceitos para fazê-lo parecer um nazista, qualquer comportamento típico de um nazista, como impedir sua fala a uma platéia, se torna belo, moral e defensável. Força física capaz de incendiar uma universidade de prestígio mundial para impedir que alguém fale algo (que poderia ser facilmente refutado… se fosse refutável) passam a ser os típicos “protestos pacíficos que terminam em violência” por força, provavelmente, do próprio Milo: homem tão “extrema-direita” que qualquer tentativa de calá-lo pacificamente resulta em violência.

https://twitter.com/KGBVeteran/status/827001778445094912

Infelizmente para o jornalismo, mormente o brasileiro, a internet já costuma ser mais rápida do que os dedos ágeis dos estagiários. Milo Yiannopoulos já era conhecido de uma boa parcela do público brasileiro envolvido com política, e que não se informa apenas pelos adjetivos que Globo, Folha, Estadão, a ex-revista Veja ou outras fontes de pouca pesquisa e muitos rótulos tentam nos fazer pensar.

https://twitter.com/flaviomorgen/status/827008247433461760

Ao tentar retratar Milo como alguém de extrema-direita, e tratar os protestos com fogo, chutes e ameaças de morte como mero acidente, quem acaba levando uma aula sobre a realidade são os próprios jornalistas, tendo de se informar com seus próprios leitores.

Até quando a técnica da rotulagem invertida irá permitir que qualquer violência seja permitida com quem seja chamado de “violento”, qualquer extremismo estimulado contra alguém pechado de “extremista” ou qualquer irracionalidade instigada contra alguém tratado como tendo algo de “irracional”?

As palavras hoje funcionam quase tão somente como capas vermelhas incitando touros. Por algum mistério, os violentos são as vítimas da violência, e todo “extremismo” e “preconceito” são sempre culpa daqueles que estão sendo espancados por pessoas tolerantes e racionais.

https://twitter.com/PamelaGeller/status/827010181418455041

https://twitter.com/KGBVeteran/status/826990358328389634

https://twitter.com/janeygak/status/826996997219512320

https://twitter.com/islamlie2/status/827009974186418176

 

https://twitter.com/MAGA3X/status/826570899763519489

https://twitter.com/islamlie2/status/827009447356723200

https://twitter.com/islamlie2/status/827011686875930624

https://twitter.com/islamlie2/status/827008923630759936

https://twitter.com/islamlie2/status/827010688241586178

https://twitter.com/islamlie2/status/827010412239605760

https://twitter.com/islamlie2/status/827009974186418176

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Assuntos:
Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs". Tem passagens pela Jovem Pan, RedeTV!, Gazeta do Povo e Die Weltwoche, na Suiça.

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