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#ChegaDeAssédio: Adianta “conscientizar” contra violência?

Uma campanha de hashtag de atrizes quer conscientizar contra o assédio devido ao caso José Mayer. Esse ativismo adianta contra violência?

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José Mayer

Uma campanha de atrizes foi formada com a hashtag #ChegaDeAssédio. Uma campanha com tal mote se faz rigorosamente necessária: é difícil conhecer uma única mulher que não tenha sofrido assédio. Contudo, a campanha tem um caráter mais midiático (de mídias sociais tentando virar notícia) do que factual.

O preocupante não é a intenção (aquilo que lota o inferno), é o pensamento moderninho: quer punir, criminalizar, textãoalizar, problematizar o… assédio. A parte mais indefinida de um ato de violência.

Para se analisar se um crime ocorreu ou não, é preciso justamente separar a violência do que não é invasivo, ou do que pode ser contextualizado. Quando se faz uma campanha contra uma palavra de significado móvel como “assédio”, que pode significar desde um elogio indesejado até as partes iniciais de um estupro, o que se está tentando impedir é todo um comportamento social de corte, permitindo que a violência grasse no reino do relativismo.

Com tantos casos de violência e alguma forma de coação, chantagem, ameaça ou humilhação, seria minimamente sensato exigir uma mudança cultural (que, por conseguinte, gera a mudança penal, e não o contrário) na direção de uma delimitação clara do que se pode e do que não pode fazer, em uma sociedade baseada na corte, sobretudo do homem em relação à mulher (uma alternativa a tal modelo de sociedade que parece ser cada vez mais cogitada é o islamismo, onde todo casamento é um contrato com fins econômicos).

Quando, pelo contrário, se confunde e se mescla todos os movimentos desse modelo de conquista, o que se está atacando não é a violência de um assédio, ou mesmo de um estupro, mas está se equiparando ações desagradáveis e ofensivas, mas muito menos agressivas e invasivas, como a típica cantada de pedreiro, a uma das piores violências que sobretudo uma mulher pode sofrer.

O caso do ator José Mayer, que ao que tudo indica confessou uma violência de fato, como apalpar a vagina de uma mulher, abusando de seu poder e status como celebridade, desencadeou a típica campanha de hashtag, algo que tem a ver mais com uma ideologia de mobilização política do que com a busca de soluções factuais para fatos (redundância pretendida).

Entretanto, o que bradar contra “assédio” vai mudar algo, quando a palavra, a cada nova campanha, é usada abarcando-se mais elementos do tecido da realidade? E, pior, cada crime de fato, que precisa ser investigado pela Justiça, envolvendo agressão a uma mulher, precisa fazer exatamente o contrário: separar o que é violência do que pode ser contextualizado, do que não é claramente violento. Afinal, basta ir a um bar de paquera ou balada e o comportamento de 100% dos presentes resvalará perigosamente, em algum momento, no “assédio”.

Sem perceber que os termos que usam são justamente os mais genéricos, coletivos e abstratos (tudo o que mais virou moda no discurso político), acabam favorecendo justamente o discurso da comparação de um assédio com uma cantada (que diminui a penalização do assédio, e não aumenta a da cantada). Ao cair na ideologia reducionista do feminismo, acreditando estarem buscando penas rigorosas para assédios, coações, humilhações e violências, acabam tão somente jogando novamente a culpa no coletivo abstrato, amorfo e vaporoso da “sociedade”.

Não à toa, José Mayer se defendeu justamente jogando a culpa na “sociedade machista” e na sua “geração” (sic). Pode ser ótimo para aqueles que querem substituí-la, sem pensar muito no que vão colocar no lugar (e o islamismo vem destruindo os concorrentes, aproveitando-se desse enfraquecimento de termos). Não é lá muito útil para quem quer ver pessoas violentas punidas, e pessoas que fazem uma corte mal feita alertadas, advertidas e educadas.

Novamente, essa “sororidade” diante de um caso de assédio sempre desencadeia uma campanha de hashtag, e o termo passa a ter seu significado esgarçado e vira um mero dog-whistle para acionar a militância ideológica.

Esta mesma militância, aliás, além de termos vaporosos, prega justamente o sexo livre, a imoralidade sexual absoluta, o apetite desenfreado, o ninguém-é-de-ninguém – os discordantes são “preconceituosos”, “obscurantistas”, “bancada evangélica” e outros termos também gasosos. Sem freios morais, alguma hora, um José Mayer quer saciar suas ganas com alguém pouco disposto, e logo culparão novamente a “sociedade patriarcal machista”.

Os criminosos ficam livre, a sociedade é que precisa ser reformada de cima abaixo. Os revolucionários que se entendam com os islâmicos para ver quem fica com os espólios.

Em casos de assédio e estupro, sempre lembram que a vítima não tem culpa, o que nunca fazem diante de outros crimes violentos. Faltará muito para perceber que a abstração, a coletivização, a generalização e o relativismo que apregoam ao culpar a “sociedade machista”, e não um indivíduo violento específico, são os mesmos artifícios que seus algozes também sacam como escusa quando dizem que não têm culpa de nada, porque é tudo o social, a sociedade, a cultura, o machismo e o novo -ismo da moda?

Basta exigir que o criminoso pague pelo seu crime e, imediatamente, a militância ideológica passará a te tratar como inimigo. Ou até como “apologista do estupro”.

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Assuntos:
Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs". Tem passagens pela Jovem Pan, RedeTV!, Gazeta do Povo e Die Weltwoche, na Suiça.

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