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Mau cheiro

Dilma diz que não foi informada por Marcelo Odebrecht porque estava obrando

A ex-presidente Dilma garantiu à Folha de S. Paulo que não foi informada do caixa 2 em sua campanha porque estava ocupada no banheiro.

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Dilma Rousseff prendendo o nariz.

Dilma Rousseff, a ex-presidente, deu entrevista à Folha de S. Paulo onde tenta explicar sua versão sobre a delação de Marcelo Odebrecht, que por 8 vezes disse que Dilma Rousseff sabia que sua campanha havia sido feita com caixa 2 (em julgamento postergado ainda no TSE), noves fora demais maracutaias pré-pedaladas.

Para tentar esclarecer como pôde não saber dos recursos de sua própria campanha, se o próprio Marcelo Odebrecht, que enriqueceu com recursos ilícitos, e era tão próximo e importante a ela no governo, Dilma Rousseff preferiu argumentar que não prestou muita atenção em Odebrecht porque estava com pressa para despachar um amigo do interior para o Rio:

Marcelo também diz que, já com a Lava Jato em curso, avisou a senhora, num encontro no México, que a sua campanha poderia ser contaminada, pois ele havia feito pagamentos ao marqueteiro João Santana no exterior.
Eu viajei ao México para um encontro com o [presidente] Peña Nieto e depois houve um almoço e uma reunião com empresários. O Marcelo estava lá. No fim do dia, eu já estava saindo para o aeroporto, atrasada, mas queria ir ao banheiro. Fui para [o toalete de] uma sala reservada e fiz o que tinha que fazer [risos]. Quando voltei, tá lá o senhor Marcelo nessa sala. Ele começou a falar comigo, do jeito Marcelo, tudo meio embrulhado. E eu numa pressa louca, olhando pra ele. Não entendi patavina do que ele falava. Niente [nada, em italiano]. Ele diz que me contou que poderia ocorrer contaminação. Mas eu não tinha conta no exterior. Se o João tinha, o que eu tenho com o João? Por que eu teria que saber?

A argumentação de Dilma Rousseff para não ter sido informada por Marcelo Odebrecht com efeito é meio embrulhada. Não se espanta que Dilma Rousseff estivesse numa pressa louca após desfrutar da apimentada culinária mexicana (pergunte a Nigel Mansell). Nem mais espanta que Dilma só tenha mais seus movimentos peristálticos como argumento para se safar da condenação. Mas chama atenção da inteligência a riqueza de detalhes da imagem que Dilma evoca à mente do leitor para explicar sua cândida inocência.

Porém, é claro que nos parcos momentos em que Dilma meditava na casa da Pri, poderia se perguntar como não é responsável pelas contas de João (Santana, seu marqueteiro), e como sua própria campanha era financiada (não havia cachorro atrás). Afinal, agora, para a ex-presidente, Marcelo Odebrecht só fez uma “delaçãozinha”, mas que pode respingar com certo azedume em sua carreira.

Enquanto assinava um novo programa social e matriculava mais uma molecada na natação, cabia a Dilma se questionar se, informada de que poderia haver contaminação na campanha, se não deveria fazer algo, ao invés de, hoje, alegar que não entendeu o recado (embora consiga colocá-lo claramente em palavras) porque estava com muita pressa para dar um alô pro Senhor Barros.

Também caberia a Dilma Rousseff ouvir tal intempestivo recado e, de fato, checar se possui contas no exterior que operem suas finanças, ao invés de simplesmente apelar para o petistíssimo “Eu não sabia de nada” e, com a cabeça tranqüila, ir fazer mais um depósito no Bank of Boston.

No seu escasso tempo apontando a luneta para o bueiro, seria de bom tom que Dilma, a presidente, houvesse por bem inventar uma desculpa, ainda que em seu curioso idioleto, melhor do que “Eu não entendi o que Marcelo Odebrecht me disse”, se o recado era claro como a pela da dona Celite, ainda que seu conteúdo de uma natureza mais próxima da barragem que construía.

De fato, Dilma Rousseff, em sua reposta a Marcelo Odebrecht, não possui uma defesa muito sólida.

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Assuntos:
Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs". Tem passagens pela Jovem Pan, RedeTV!, Gazeta do Povo e Die Weltwoche, na Suiça.

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