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Jean Wyllys e Fernando Holiday: Dois políticos, duas leis distintas

Jean Wyllys cospe em outro deputado, leva advertência e ainda faz pirraça. Fernando Holiday visita escolas e é punido por quebra de decoro.

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Jean Wyllys cospe em jair Bolsonaro.

O ex-BBB alçado a deputado pelo coeficiente partidário Jean Wyllys foi parar no Conselho de Ética da Câmara pelo seu imediatamente infame ato de cuspir em Jair Bolsonaro durante a votação do impeachment. É algo natural em uma república que uma lei esteja acima de todos, inclusive dos legisladores: não é por conta de sua posição que pode simplesmente mandar nos outros e fazer o que quiser, mesmo o que a lei impede.

O Conselho de Ética da Câmara decidiu por aplicar ao ex-BBB Jean Wyllys uma punição nível Jardim da Infância: uma advertência. Para alguém como Jean Wyllys, faltou deixar de castigo, sem suco e por 10 minutos virado para a parede.

Em resposta à punição exemplar, Jean Wyllys obtemperou, em sua verve típica: “Cuspiria de novo”. E não há campanha na mídia, discussão em programas matinais e noturnos, críticas de celebridades e pedidos para acabar com seu mandato: parece até mesmo que o criminoso é a vítima.

Situação bem diversa sofreu o vereador paulistano Fernando Holiday, egresso do MBL. Por estar visitando escolas públicas para verificar se há doutrinação ideológica nas aulas, incentivando pais a denunciar abusos, Fernando Holiday foi acusado de quebra de decoro a partir de denúncia da vereadora Sãmia Bomfim, do PSOL. O mesmo PSOL, óbvio, do ex-BBB Jean Wyllys. Para o PSOL, Holiday estaria “intimidando” os professores. Professores que devem chamar Holiday de “fascista” para baixo tão somente ele lhes dê as costas.

O decoro parlamentar serve não apenas para uma tecnicalidade: a fluência de um parlamento, onde supostamente se deve parlamentar, argumentar, num embate entre as mentes mais elevadas de um país. Serve também como freio de comportamento, visto que os legisladores, por sua função, são obviamente modelos para o país: não apenas suas leis, mas suas ações refletem na moral nacional.

Observar a Câmara dos Deputados, as Câmaras Municipais e afins pelo Brasil e cotejá-las à qualidade de vida do país é argumento sobejante. Desde o Senado romano há regras explícitas para o decorum, tema até das correspondências de Cícero, Marco Aurélio et caetera.

Para o Brasil, ficou claro que um político que use seu tempo livre para cumprir uma promessa pelo qual foi eleito – a proteção da família e de uma educação sem doutrinação – precisa ser punido, e as colunas de Mônica Bergamo comentando o caso (sempre tão bem informada sobre o PT e o PSOL) ainda colocam “doutrinação” entre jocosas aspas – doutrinação esta que explica o pensamento de Mônica Bergamo.

Já um político que cuspa em outro político e reitere que “Naquelas circunstâncias, eu cuspiria de novo” (uma certa incongruência lógico-temporal) em resposta à aplicação de uma lei merece no máximo um pito: uma declaração da Câmara de que não gostou, e que não gostou tanto que escreveu a ele meses depois que não gostou, e se ele disser que faria tudo de novo “naquelas circunstâncias” ela vai engolir o que tem a dizer calada.

https://twitter.com/edmilsonpapo10/status/849750573918425089

Você pode não gostar de Fernando Holiday. Você pode escrever “doutrinação” entre aspas. Você pode não gostar do MBL. Você pode não concordar com Holiday visitando escolas, achando que a presença de um vereador negro, gay e que não seja esquerdista, ou 100% conservador, seja ofensivo para as pobres crianças. Você pode até concordar com a doutrinação e o pensamento “quem não concorda comigo é fascista” do ex-BBB Jean Wyllys, como pode gostar do modelo de pensamento Big Brother Brasil. Mas é no mínimo coerente que se deva defender uma lei para ambos os políticos.

Ou defendemos uma mesma lei para políticos que gostamos e que não gostamos, ou abrimos de vez o caminho para o fascismo. O de verdade, não aquele xingamento infantil do ex-BBB Jean Wyllys para todos que discordem de seu socialismo.

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Assuntos:
Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs". Tem passagens pela Jovem Pan, RedeTV!, Gazeta do Povo e Die Weltwoche, na Suiça.

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