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Cinema

O que James Wan, Invocação do Mal e Annabelle 2: A Criação do Mal têm de especial?

O terror se renova com filmes estudados e inspirados. O diretor James Wan e filmes como Invocação do Mal e Annabelle 2 merecem atenção. Por Gabriel Vince

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O cinema de terror, especialmente depois dos anos 80, sempre viveu seus altos e baixos e sempre dependeu muito de injeções de inovações ou novas perspectivas para atrair a atenção do público. No começo da “era slasher”, inaugurada por Halloween de John Carpenter e coroada pela série de filmes Friday the 13th, as atenções seguiam o caminho de uma montanha-russa.

Ao chegar ao seu cume (o máximo interesse e atenção do público), o único caminho lógico era o sugerido pela atração gravitacional: os filmes ficavam cada vez mais desinteressantes (não necessariamente ruins) ou pouco assustadores.

Isso aconteceu também com Nightmare on Elm Street, do imortal Wes Craven. O primeiro filme é o único que de fato é um terror. Os outros, com exceção do New Nightmare de 1994 (que é uma obra-prima, de verdade), são apenas aventuras lúdicas e sombrias, com injeções pesadas de humor-negro, onde Freddy Krueger (interpretado por Robert Englund, igualmente imortal) soa mais como um Rock Star, um Alice Cooper, do que realmente um vilão temível.

Freddy KruegerOs filmes de terror e seus personagens viram ícones da cultura pop, são mais divertidos (e até engraçados) do que de fato assustadores. Assisti-los é como entrar em um trem-fantasma de um parque de diversões.

Os anos 90 e os anos 2000 viveram fases sofríveis para o gênero, apesar de alguma ou outra obra se destacar. Tivemos Scream em 1996 e, com ele, uma inesperada retomada do cinema slasher, feita pelo único homem que era capaz de renovar o estilo dentro do mundo mainstream: ele mesmo, Wes Craven.

Rob Zombie também entrava na cena com remakes razoáveis, mas nada que se pudesse chamar de memorável. Seus discos são melhores que seus filmes.

É óbvio que muita coisa aqui não foi dita, como a renovação do found footage em Bruxa de Blair, ou a genialidade de George Romero e Dan O’Bannon (quase sempre esquecido), com toda sua inexpugnável criação do imaginário coletivo de Zumbis.

Entre 2005 e 2010, até mais ou menos os dias de hoje, aquele padrão de montanha-russa é reiniciado. Temos o lançamento de Jogos Mortais e Atividade Paranormal, dois bons filmes, sucessos de bilheterias (o cume foi atingido), e que viraram franquias terríveis, com intermináveis continuações, cada vez piores (a impiedosa atuação da gravidade).

O primeiro Jogos Mortais foi dirigido por um malaio da cidade de Kuching que tentou a vida nos EUA: James Wan. Este, provavelmente, é o maior nome do terror mainstream americano atual.

James Wan

James Wan

A presença de James Wan na indústria e a força de Invocação do Mal

James Wan não é um diretor qualquer. Uma das coisas que marcam seu trabalho é a maestria de sua direção.

Independente de você gostar ou não dos filmes dele, uma coisa não se pode negar é sua qualidade como diretor e o seu exponencial crescimento dentro da indústria.

Como foi dito, ele dirigiu e roteirizou Jogos Mortais, o primeiro filme, e também foi produtor executivo das duas primeiras continuações, que são obras-primas comparadas aos filmes posteriores.

Seu trabalho como diretor e roteirista retornaria em Gritos Mortais de 2007, um filme que não foi muito bem recebido pela crítica (apesar de eu gostar muito) e que mostra sua peculiar capacidade de retomar a atenção do cinema de terror voltado aos bonecos, tal como acontecia no começo dos anos 90 com o inesquecível clássico do SBT: Brinquedo Assassino.

Um pouco mais aceito pela crítica foi Insidious de 2011, o qual eu não assisti e não posso opinar.

Nada disso se compara ao fenômeno que se seguiria: Invocação do Mal.

Invocação do Mal, lançado em 2013, conseguiu atingir algo que ha muito tempo não havia dentro do gênero: sucesso de público e crítica.

Tanto o primeiro quanto o segundo filme fixam a marca de James Wan e a qualidade incontestável da sua assinatura.

Leia a crítica que fiz em meu Medium do primeiro e do segundo filme.

Apesar do universo ter um ponto fraco, o primeiro filme de Annabelle (que não foi dirigido por James Wan), o cenário positivo é evidente para qualquer pessoa que acompanhe as notícias de cinema.

Para se ter uma idéia, o ótimo Invocação do Mal 2 teve mais retorno de bilheteria que Capitão América: Guerra Civil, como mostra reportagem do Observatório do Cinema:

O longa da Marvel fez US$ 405,7 nos EUA, mas custou US$ US$ 250 milhões, já o filme de terror acumulou US$ 96,6 milhões para seu baixo orçamento de US$ 40 milhões. Assumindo que 50% dos gastos com os filmes sejam com publicidade, a empresa responsável por medição de audiência aponta que Invocação do Mal 2 teve um retorno de US$ 37 milhões (ou 38%) enquanto Capitão América: Guerra Civil fez US$ 30,7 milhões para seu estúdio, tendo meros 7% de lucro.

James Wan não apenas conseguiu chamar atenção de público e crítica, mas manteve o interesse da maioria destes em uma continuação: onde fracassos retumbantes são quase uma lei pétrea no meio.

Lulu Wilson como Linda em Annabelle 2: A Criação do Mal

Lulu Wilson como Linda em Annabelle 2: A Criação do Mal, um dos grandes trunfos do filme

Annabelle 2: A Criação do Mal

Spin-offs as vezes conseguem ser tão (ou mais) problemáticos que continuações, mas aqui vemos, novamente, que nada disso importa quando há a mão de uma equipe competente por trás. A direção do filme é de David F. Sandberg, um pupilo de James Wan (que está por trás da produção do filme, junto Peter Safran) que conseguiu mostrar ao que veio.

Todas as qualidades de direção que encontramos em Invocação do Mal são mostradas aqui: um domínio completo da geografia do lugar, planos sequências inacreditáveis, bom uso de luz e sombre e um ótimo elenco.

Annabele 2: A Criação do Mal, assim como os dois Invocação do Mal, não é inovador no gênero, mas faz bem (e muito bem) o que se propõe.

Independente de ser fã ou não de filme de terror, pra quem é cinéfilo o filme é uma delícia.

São tantos elementos clássicos do gênero que podemos dizer que o filme é uma celebração ou homenagem ao cinema de terror: temos um mix de filme de exorcismo, bonecos macabros, filme de monstros, filme casa mal-assombrada e um andamento que regula bem atmosfera sombria com jump-scares que, apesar de previsíveis, funcionam!

Também seguindo a tradição de Invocação do Mal, temos um filme que não é uma completa bobagem teológica a respeito de demonologia católica.

Apesar de alguns equívocos, é notório que a equipe teve respeito com o tema e um mínimo de pesquisa antes de fazer o filme. O insuspeito site National Catholic Register considera um filme “definitivamente católico”, apesar de pontuais incorreções, leia aqui. O site do Padre Paulo Ricardo fez a tradução do artigo, fazendo pontuações um pouco mais cautelosas (embora não negue os pontos de vistas positivos apresentados), leia aqui.

Pra quem é fã de terror, se há alguma dúvida a respeito da qualidade desse filme, deixo aqui um ótimo vídeo de crítica de um canal que acompanho há um bom tempo e que, talvez, seja o melhor (e mais divertido) canal de cinema do Youtube em língua portuguesa:

[su_youtube url=”https://www.youtube.com/watch?v=c_O-a5J7av4https://www.youtube.com/watch?v=7YX42ZTVb14″]

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Gabriel Vince

Gabriel Vince é designer, jornalista e publicitário em formação. Curador esporádico de mostras de filmes em Campinas, no Museu da Imagem e do Som da cidade e, como Olavo de Carvalho, não é de direita, nem de esquerda, nem de porra nenhuma. É da mamãe. De vez em quando posta alguma coisa no Medium, acessa lá: https://medium.com/@gabrielvince

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