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Julgamento de Lula

Lula deve ser condenado pela Justiça, não “pelas urnas”

O discurso abestalhado de que Lula está acima das leis, e só as urnas devem definir se manda no país ou descansa, é puro totalitarismo.

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Lula tem de ser julgado pela Justiça, não pelas urnas

Pergunte a Barrabás se ele prefere uma lei igual para todos, ou se prefere, digamos, “ser julgado nas urnas”. As “urnas” já mataram Jesus e Sócrates, já colocaram no poder Hitler e Mussolini. A volonté du peuple erigiu mais tiranos ao poder do que qualquer dinastia monárquica moribunda. Não há bandido que não prefira ser julgado pelas urnas – pelo convencimento retórico e temporário de uma turba amorfa com informações soltas – ao invés de ser julgado por um julgador técnico da lei. Saddam Hussein preferia ser julgado pelas urnas – e Fidel Castro, e Muammar Kadafi, e Lula. Não surpreende que todos tenham sido amigos. Ou, no caso de Kadafi, que Lula o tenha até mesmo chamado de “meu líder”.

Apesar de o uso moderno do termo “democracia” dizer respeito tão somente a um regime de voto em representantes, o que o PT sempre quer dizer com “democracia”, ainda que não tenha a mais ínfima cultura para saber, é o uso clássico do termo. A saber: o poder da maioria sobre a minoria, pura e simplesmente. Não à toa a ciência politica, de Platão até antes do Iluminismo francês, sempre teve preocupação com a democracia.

Ao gritar tanto que querem que Lula seja julgado “pelas urnas”, petistas escancaram que querem que o país não tenha mais lei – ao menos, não lei para eles, podendo os seus inimigos se amontoarem junto com a patuléia ignara ao rés-do-chão que é forçada a se submeter a uma lei (igualitária, democrática etc). Para os petistas, jamás!

Sem leis, com urnas. Leis não podem ser engabeladas – turbas enfurecidas, com toda a facilidade. O critério para o crime deixa de ser uma lei visando o bem comum, como são nas repúblicas, como a romana (uma oposição à democracia ateniense, sem lei, apenas com decisões majoritárias). Passa-se apenas a definir como criminoso quem não tem apelo popular (populista e popularesco mesmo), quem não “ganha nas urnas”.

O PT é disciplinadamente coerente neste ponto: sempre defendeu bandidos, pregando as filigranas da lei apenas para seus desafetos. Bandidos do outro lado sofrem uma punição mais draconiana (“perderam nas urnas”), enquanto petistas nunca precisam se preocupar: basta dizer que tiraram 300 bilhões de brasileiros da miséria absoluta e os colocaram na primeira classe de vôos para as Bahamas a cada 3 meses (de quebra, afirmar que quem não gosta do PT é rico, que tem nojinho do tanto de pedreiro que tem viajado todo dia para esquiar nos Alpes suíços) e, portanto, não devem ser presos. As urnas que os julguem, não a lei.

O povo, óbvio, até hoje não sabe o que raios é “pedalada” ou “ocultação de patrimônio”, e aceita qualquer incompetente que quebre o país como herói em troca de meio quilo de farinha de mandioca. O que, aliás, é exatamente o que o PT promete voltar a fazer: estar acima das leis dando migalhas para o povo lhe dar poder em troca. Por isso o discurso contra a “classe média” (quem paga os impostos), e não contra “os poderosos” (os empreiteiros, donos de jornais, artistas globais, músicos de MPB e demais manda-chuvas que os sustentam).

Os analistas dos grandes pandemônios totalitários que macularam o século XX são praticamente unânimes em notar como as massas alçam ao status semi-divino um líder que, no instante seguinte, tratam como o maior traidor (algo que uma boa lei nunca o faz, apenas revê falhas de julgamento). Não à toa, no Brasil, muitos direitistas são ex-petistas: não há relato de uma única pessoa que tenha estudado a direita e, depois da maturidade e cultura adquirida, tenha declarado que o melhor é o PT e a esquerda.

É quase engraçado, apesar da grande tragédia que ocorria, acompanhar as transmissões da rádio estatal romena quando da queda do ditador socialista Nicolae Ceauşescu, ora com um grupo de rebeldes tomando a rádio por um lado, fazendo os locutores gritarem que a tirania finalmente caíra, ora com grupos paramilitares fiéis ao tirano do outro, forçando os locutores a avisar ao povo que o grande Ceauşescu retomara a ordem contra os reacionários contra-revolucionários (cf. O Fim dos Ceausescu, de Grigore Cartianu e Eugenia Flavian).

É o destino que Lula e o PT querem ter, ao se livrar da lei e quererem tão somente para si o julgamento “das urnas”.

A democracia em sentido canônico não poderia ser mais assustadora: qual seria o veredicto para Lula se apenas sua militância “que pega em armas” tem capacidade de votar 24 horas por dia, numa “democracia plebiscitária” cuja tradição vai de Mussolini a Hugo Chávez?

Depois disso, o que as urnas definirão sobre o destino de Fernandinho Beira-Mar e Marcola, aqueles que exigiam que os membros do PCC votarem em Genoino? Que bandido deste país não preferirá ser julgado por urnas, em tribunais tribais como os tribunais paralelos do tráfico de drogas no Rio de Janeiro, do que por uma lei geral? E por outro lado, qualquer crime de lesa-partido, como uma piada machista, julgada pelas urnas, renderia desmembramento em praça pública imediato. Para não falar em crimes contra a humanidade, como impedir um assalto ou sonegar R$ 5 de imposto.

Lula quer ser julgado nas urnas, mas não quaisquer urnas: quer as urnas da Smartmatic, aquela que sempre ganha o pregão do TSE e realiza as “eleições” da Venezuela. E caso não seja julgado favoravelmente nas urnas, sua punição seria simplesmente… não ser presidente? Como todos nosotros, as pessoas normais que não roubam, não fazem pedalada, não recebem triplex da OAS? Isto é “punição” para o PT: não poder mandar, não poder roubar?

Se para o PT isto é condenação, para nós é segunda a sexta.

Com o aval de artistas, jornalistas ideologizados (quando não comprados, e nem precisavam ser os da blogosfera progressista), músicos do funk e da MPB, criminosos, comunistas e progressistas, o PT quer controlar a opinião pública, dando-lhes trocados do dinheiro que toma de seus desafetos, e fazer com que essa opinião pública o julgue sempre favoravelmente.

Ao PT, tudo. Aos inimigos, a lei. Talvez seja hora de o PT saber que também é gente como a gente, que seu governo foi apenas maquiagem de dados que gerou a crise atual, e que até mesmo o populacho menos instruído costuma preferir a lei a ser eterna massa de manobra. E prefere, inclusive, que a lei esteja acima do PT. É simplesmente o óbvio.

Ou Lula teria coragem de ser julgado pelas urnas, se houvesse um número com a opção de ser punido com pena rigorosa?

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Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs". Tem passagens pela Jovem Pan, RedeTV!, Gazeta do Povo e Die Weltwoche, na Suiça.

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