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Cinema

Quem é Morbius (e por que os vilões dos quadrinhos estão dominando o cinema)?

Após o sucesso de Venom e Coringa, Hollywood volta sua atenção para os grandes inimigos de Homem-Aranha, Batman e companhia

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Uma discussão recorrente entre os cinéfilos nos últimos anos é se o público já estaria cansando dos filmes de super-heróis e se o fim do gênero estaria próximo. Mas antes que a discussão pudesse se alongar demais, a indústria do cinema conseguiu criar um derivado que pode estender por alguns anos a vida útil dos filmes baseados em quadrinhos: as produções que trazem os vilões ao centro da narrativa. Um exemplo recente, que teve um trailer lançado esta semana pela Sony Pictures, é Morbius, que une o universo dos combatentes do crime ao do terror. O personagem, criado pela Marvel Comics, teve uma origem e uma carreira curiosas.

Horror em quadrinhos

Na década de 1970, a Marvel se rendeu a um gênero que vinha fazendo sucesso em publicações de suas concorrentes: os quadrinhos de terror, com vampiros, fantasmas, lobisomens e os mais variados monstros. Esses seres ganharam revistas próprias como Tomb of Dracula, The Monster of Frankenstein e Werewolf by Night e conquistaram um público respeitável em sua maioria. O surgimento do vampiro Morbius porém, se deu de maneira única.

Michael Morbius era um brilhante médico e cientista, vencedor do Prêmio Nobel, que sofria de uma doença rara e fatal que dissolvia suas células sanguíneas. Em busca de uma cura, aplicou em si mesmo um tratamento experimental que envolvia eletrochoques e o sangue de morcegos-vampiros (a incrível lógica dos quadrinhos, não pergunte), mas o resultado inesperado foi o de transformar o médico em um vampiro que é periodicamente dominado por uma sede insaciável e precisa ingerir sangue para manter-se vivo. Horrorizado frente a seus instintos assassinos e às vítimas que deixa em seu rastro, Morbius parte numa longa jornada para curar sua condição vampiresca e voltar a ser um homem normal.

Capa da primeira aparição de Morbius

Chamado de “o vampiro-vivo”, Morbius compartilhava com outros seres como Drácula a sede que o levava a matar pessoas para se alimentar, os caninos alongados e aversão à luz solar mas, devido a sua origem tão diferente, não tinha aversão a símbolos religiosos como crucifixos e água benta e nem era vulnerável à prata. O personagem apareceu pela primeira vez na edição 101 da revista The Amazing Spider-Man, escrita por Roy Thomas, desenhada por Gil Kane e lançada em outubro de 1971. A trama se iniciara na edição anterior e mostrava que, num estranho paralelo ao que ocorreu com Morbius, o próprio Peter Parker tenta se livrar de seus poderes de aranha e ingere um soro experimental que também traz um resultado dantesco, deixando o rapaz com seis braços. Ou seja: ainda mais parecido com um aracnídeo.

Tentando voltar ao normal, o Homem-Aranha busca a ajuda do cientista Curt Connors, o vilão Lagarto, e acaba esbarrando em Morbius por acaso. Ao final da aventura, Peter conseguiu se livrar dos quatro braços extras, mas Morbius e o Aranha se tornam inimigos a partir de então. Sempre em busca de uma cura para sua condição, Michael Morbius ganhou histórias próprias durante a década em 1970, em revistas como Vampire Tales e Adventure into Fear, nas quais enfrentou inimigos como o caçador de vampiros Blade e outros monstros.

O personagem não dormia em caixões e não tinha medo de crucifixos

Morbius teve aparições esporádicas pelas décadas seguintes em revistas de outros personagens e chegou até a ganhar um gibi próprio, Morbius the Living Vampire, em 1992, no qual agia mais como herói que vilão. Após 32 edições mensais e alguns especiais, a série foi cancelada. Em 2013, foi lançada outra série do personagem com o mesmo nome, mas durou apenas nove edições até ser cancelada.

Morbius (e outros vilões) no cinema

Michael Morbius, antes de transformar-se num monstro

Desde sua criação, Morbius apareceu em desenhos animados e vídeo games. Agora, quase 50 anos após sua criação, o personagem chega aos cinemas em uma produção com alto orçamento da Sony Pictures, com estreia marcada para julho. A Sony conseguiu os direitos para produzir filmes do personagem da mesma maneira que conseguiu sobre o personagem Venom, que também ganhou um filme em 2018: no final da década de 1990, o estúdio adquiriu os direitos para produzir filmes do Homem-Aranha e, por contrato, levou também um vasto elenco de personagens coadjuvantes do herói, entre eles todos os seus inimigos.

A direção de Morbius ficou a cargo de Daniel Espinosa, do suspense de ficção científica Vida (2017) e do competente suspense de ação, Protegendo o Inimigo (2012). O roteiro, que toma inspiração na história de origem criada por Thomas e Kane, ficou na mão de dois especialistas do gênero fantástico: Matt Sazama e Burk Sharpless, que escreveram juntos o filme Drácula: A História Nunca Contada (2014) e desenvolveram a nova versão do seriado Perdidos no Espaço (2018), entre outros trabalhos.

O filme promete referências ao Homem-Aranha

Para o papel-título, a Sony contratou o versátil Jared Leto, vencedor do Oscar de Melhor Ator Coadjuvante de 2013, por seu trabalho em O Clube de Compras Dallas. Considerado um dos atores mais talentosos dos últimos anos, Leto foi visto recentemente como outro vilão dos quadrinhos, o palhaço criminoso, Coringa, em Esquadrão Suicida, mesmo se quase ninguém gostou de sua versão para o icônico personagem.

Ainda é cedo para dizer se Morbius, o filme, se sairá bem nas bilheterias. Porém, os antecedentes recentes indicam que sim. Após o sucesso dos filmes de super-heróis da Marvel e da DC, os estúdios têm começado a apostar nos vilões dos quadrinhos em produções que se mostraram grandes sucessos. O já citado Esquadrão Suicida arrecadou para a Warner mais de US$ 746 milhões em 2016, ao mostrar um grupo de vilões da DC Comics, como Arlequina e Pistoleiro, em missão para o governo americano. Venom, que apresentou a origem de um dos mais famosos inimigos do Homem-Aranha, foi um enorme sucesso para a Sony, com US$ 856 milhões conquistados nas bilheterias ao redor do mundo.

O sucesso de Coringa consolidou o potencial dos filmes de vilões

A produção de mais sucesso estrelada por um vilão, porém, foi Coringa, lançado pela Warner em 2019. Estrelado por Joaquin Phoenix como o perene inimigo de Batman e dirigido por Todd Phillips, o filme não apenas arrecadou US$ 1.068 bilhão nas bilheterias (contra um orçamento “risível” de US$ 55 milhões), como ganhou prêmios importantes como o Leão de Ouro no Festival de Veneza, o Golden Globe e o Critics Choice Award, além de receber 11 indicações ao Oscar em algumas das principais categorias. Um proverbial sucesso de crítica e de público.

A boa aceitação de Venom incrementou os planos do estúdio em usar outros vilões do Aranha em produções próprias – motivo pelo qual teremos Morbius este ano, Venom 2 está em pré-produção (com a direção de Andy Serkis, o intérprete de Gollum, de O Senhor dos Anéis) e um filme de Kraven, o caçador russo que deseja pendurar a cabeça do Aranha na parede, está sendo desenvolvido. Da mesma maneira, após o sucesso estrondoso de Coringa já fez surgirem rumores sobre um filme com foco em Lex Luthor, o nêmese do Superman. Certeza, por enquanto, é um filme do Adão Negro, inimigo do herói Shazam, estrelado por Dwayne “The Rock” Johnson, também em pré-produção.

Tom Hardy, que já viveu o vilão Bane, interpretou Venom

Na Marvel Films, o estúdio de mais sucesso do cinema no momento, um boato indica que um filme do Dr. Destino poderia anteceder o do Quarteto Fantástico e, após a arrecadação bilionária de Vingadores: Ultimato, uma produção centralizada no vilão Thanos com certeza teria público. Talvez em um mundo no qual os valores parecem muitas vezes distorcidos, não seja grande surpresa que filmes sobre criminosos, assassinos, ladrões e psicopatas atraiam tanta atenção. E, se essa tendência continuar, não é impossível que um dia desses vejamos um filme do Capitão Feio, o neurótico inimigo da Turma da Mônica.

Morbius vai pegar você!


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Assuntos:
Maurício Muniz

Maurício Muniz é jornalista especializado em cultura geek, tradutor e editor de quadrinhos, livros e revistas e do blog O Pastel Nerd. É coautor dos livros Vampiros na Cultura Pop e O Império dos Gibis e do quadrinho Kris Klaus: Papai Noel Casca-Grossa

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