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Fragmentado

Para melar manifestação, “jornalismo profissional” acusa até o povo de antidemocrático

Velhos caciques e políticos oportunistas reagiram indignados às manifestações do dia 15. Jornalistas profissionais estão indignados com o povo nas ruas contra seus patrões

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Desde que me conheço por gente, desde a mais tenra idade, quando as melecas ainda ressecavam em torno no nariz, sempre que o assunto era a política nacional, havia um único consenso: o congresso era uma bela de uma porcaria. Os mais revoltados chegavam a sonhar com um terrorista maluco que desse fim naquela bandalheira. Ainda hoje, embora nos revoltemos com facilidade, não percebemos que aquela gente só está lá porque nós os colocamos lá.

Ou seja, o congresso nacional nunca desfrutou de muita simpatia. Desde a redemocratização, uma miríade de gente da pior estirpe invadiu a vida pública, aproveitando-se de seus cargos para legislar em causa própria. Surgia, de um lado, o velho fisiologismo político, responsável pela manutenção do poder nas mãos dos mesmos de sempre; e, do outro, um grupo que fazia muito barulho, com poses de feroz indignação, mas que, quando assumiram o comando, foram muito piores que os antigos donos do poder.

Os anseios do povo eram negociados a portas fechadas: fatiava-se a grana polpuda e liberava-se as migalhas. Boa parte dessa montanha de dinheiro era distribuída entre a classe jornalística, os chamados “jornalistas profissionais”.

Como ocorre no sistema nervoso, muita festa cobra seu preço, e a máquina de poder começou a falhar. A mídia tentou como pôde maquiar a bancarrota, dando-lhe ares de crise periódica, mas não houve jeito. O povo percebeu a falcatrua. As ruas foram tomadas por gente comum, que não recebia lanche nem passagem de ida e volta pra casa. Pela primeira vez, gente poderosa tremeu nas pregas.

Vieram as eleições: o presidente mais alinhado à vontade popular saiu-se vitorioso. O congresso deu uma chacoalhada. Velhas posições foram trocadas. Mas, no Brasil, nada é o que parece. Muita gente eleita na cola do Bolsonaro deu-lhe às costas. Admiraram-se das vantagens da velha política, enamoraram-se do PODER. Ser formiguinha dá muito trabalho, pensaram.

Desde janeiro de 2019, o jornalismo profissional fez o que sabe fazer melhor: mentir, dissimular, distorcer. A cada semana um fim do mundo. “Meu reino por um furo.” Tudo foi destrinchado: desde com quem Bolsonaro tomava água de coco no seu condomínio até a forma como ele segura um talher. Nada! Para fúria e histeria dos profissionais da tinta, o homem, embora desajeitado na linguagem e, por vezes, grosseiro no trato, vem realizando um ótimo trabalho.

Seus ministros são firmes e trabalhadores. Estão cumprindo a missão que lhes foi dada. Erros eventuais acontecem, é claro. Discordâncias são benéficas. Ou alguém acha que é Bolsonaro que vai transformar a alma enlameada do brasileiro numa prataria brilhosa?

A indignação teatral

A esquerda é cínica demais para apoiar boas práticas, e sabe que se Bolsonaro der sequência ao bom trabalho, suas carreiras vão pro brejo; a isentolândia água boricada tem o ego grande demais para ver o cenário real e só andam preocupados em tosar a aparência para sair bem na foto.

Ambos colocaram seus times de profissionais de mídia em ação. Sem a mesada roliça que o PT entregava aos conglomerados de comunicação, restou aos qualificados jornalistas, alianças com governos estaduais e velhos caciques da política.

Vale até dar voz a Marina Silva, a rainha dos desejos de Joel Pinheiro:


João Doria vem tramando a ascensão de sua simpatia com muito afinco. Mas, para quem tem cara de prato de decoração, só doses cavalares de publicidade podem ajudar um pouco.

Sua funcionária, Vera Magalhães, destrambelhou de vez e ataca qualquer pessoa que ouse discordar de seus devaneios, ameaçando até com censura. Como na crise do fim do mundo da semana passada envolvendo Patrícia Campos Mello, Vera vem recebendo o apoio da sua classe extremamente profissional. Acusa todo mundo, mas não pode ser acusada. 

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São ruins até para adjetivar.

Rodrigo Maia, o ídolo dos isentões, entre um brigadeirão e uma feijoada, também luta desesperadamente para trazer para si mais poder ainda. Sem nem se preocupar em ser simpático, Maia trama abertamente para validar seu parlamentarismo branco. São as bochechas rosadinhas mais perigosas do país.

Algum pio da imprensa? O jornalismo profissional praticado nas esquinas vem consolidando sua fama. 

Agora atacam o presidente alegando que ele teria compartilhado no WhatsApp (acho que é deja vu, só pode) um vídeo em seu apoio. A alegação é que Bolsonaro está corroborando uma manifestação contra o congresso. O vídeo, a despeito da cafonice, é bem claro. Não há nenhuma menção ao congresso nacional.

Pelas figuras que reagiram a quimera de que ele quer o fechamento do congresso, só pelas contas bancárias dos medalhões que compraram a narrativa da funcionária de João Doria, temos noção do quanto a elite política do país se sente ameaçada. Vale qualquer carta, mesmo que nem faça parte do baralho.


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Assuntos:
Carlos de Freitas

Carlos de Freitas é o pseudônimo de Carlos de Freitas, redator e escritor (embora nunca tenha publicado uma oração coordenada assindética conclusiva). Diretor do núcleo de projetos culturais da Panela Produtora e editor do Senso Incomum. Cutuca as pessoas pelas costas e depois finge que não foi ele. Contraiu malária numa viagem que fez aos Alpes Suiços. Não fuma. Twitter: @CFreitasR

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