Equipe do Profissão Repórter se aglomera para “fiscalizar” comércio
Jornalistas, cinegrafistas e equipe ficam horas aboletados em carro apertado e saem com fiscal para oprimir pequeno trabalhador que tem que botar comida na mesa dos filhos
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“Uma fiscal, um cinegrafista e uma repórter entram num bar.” Parece o início de uma piada. E é. Uma piada chamada Profissão Repórter, programa da TV Globo que recebeu a alcunha de “Globinho Repórter” e é uma espécie de “Malhação” do jornalismo – onde os estagiários aprendem a manter o “Padrão Globo de Qualidade.”
Foi uma piada de mau gosto a edição que foi ao ar na terça-feira, 13. Quem conseguiu assistir até o fim testemunhou cenas de revirar o estômago: servidores públicos acometidos da síndrome do pequeno poder exercendo “autoridade” sobre gente humilde alçada à condição de criminosa graças ao trabalho incansável da ciência de gabinete que infestou a mente de gestores eleitos pelos mesmos cidadãos que hoje perseguem.
A fiscal da prefeitura de Guarulhos, Wania Rosa, que, entre outras cenas, aparece intimidando e autuando uma desesperada proprietária do que parece ser um quiosque de rua, tem remuneração bruta mensal de R$ 16.545,00*.

Enquanto comerciantes choram ou esbravejam, a fiscal e os repórteres se mantém impávidos. “Você tem seu emprego e todo mês o seu salário tá na sua conta!” grita um alterado dono de lanchonete. “Vai fazer escândalo?” indaga a servidora paga com os impostos do próprio comerciante.
Na cidade de Santos, litoral paulista, o guarda-municipal Lucas Reis – média salarial bruta* de R$ 13.091,00 – autuou em R$ 300,00 um rapaz que voltava do trabalho. “Em Santos é proibido andar sem máscara”, diz o guarda-municipal, provavelmente de geladeira cheia e contas em dia.
“Eu só tirei porque eu tava fumando, chefe”, reponde o rapaz. “O decreto não diz que você pode tirar a máscara para fumar”, replica o policial, com a gravidade de um poder jamais concedido antes a um guarda municipal.
Mas o Profissão Repórter não brindou o espectador apenas mostrando as cenas da maior miséria espiritual que a humanidade vem sofrendo desde que a peste escapou das fronteiras da China. O programa é também uma amostra de como não se faz jornalismo.
O ceticismo – ingrediente base do bom jornalismo em qualquer antigo manual da profissão – deu lugar aos dogmas consolidados na grande mídia como “ciência”. O “chefe” do programa, Caco Barcellos, chega a afirmar com a serenidade de um sacerdote que “a única forma de combater com eficácia o vírus, além da vacina, é conter a circulação das pessoas (…).”
Nenhum dos estagiários de Barcellos perguntou por qual motivo a prefeitura de Santos restringe horários de exercícios físicos, contrariando a lógica básica de que, quanto menor o tempo disponível, mais gente frequentará o mesmo lugar no mesmo horário.
Nenhum dos repórteres fez questão de cobrir as aglomerações nos transportes públicos da região metropolitana de São Paulo, local onde, ao que parece, os governos resolveram que não existe vírus circulante.
O jornalista J. R. Guzzo observou em artigo da Revista Oeste que a imprensa “está se tornando uma religião, em que toda a energia se concentra em divulgar um evangelho no qual os comunicadores comunicam o que acham certo, virtuoso e obrigatório para a sociedade, e não o que está acontecendo.”
Nunca o jornalismo foi tão descolado da realidade como nos últimos anos. A edição de terça-feira, 13, do Profissão Repórter passou o recibo.
*Dados extraídos dos portais de Transparência das prefeituras
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