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Mauro Iasi e uma sociedade mais justa

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mauro iasi

Mauro Iasi foi candidato a presidente do Brasil em 2014 pelo PCB, o antigo “Partidão”, o Partido Comunista Brasileiro. Segundo a Wikipedia, além de PhD em História, é “poeta” e autor da coletânea Meta amor fases (sic). É ex-militante do PT.

Iasi deu mostras de seu “meta amor fases” na Mesa de Conjuntura do 2º Congresso CSP CONLUTAS com Luciana Genro (candidata à presidente do Brasil pelo PSOL) e Zé Maria (candidato à presidente do Brasil pelo PSTU). Todos os partidos são filiados ao Foro de São Paulo. O PCB controla sozinho mais de meio milhão por ano advindos do fundo partidário.

Nosso possível presidente usou a teoria da “intransigência” de Antonio Gramsci (citado) para explicar como a esquerda “enfrentará os conservadores”: “radicalizando a luta de classes”. E explica como será “o nosso diálogo com o setor conservador”.

O historiador Mauro Iasi afirma que o setor conservador usa suas “garras” sobre a “consciência de classe” da classe trabalhadora – uma citação quase literal do conceito de Klassenbewusstsein de Karl Marx, como explicamos brevemente aqui. A crença marxista de que cada classe social possui uma consciência própria exclui a idéia de um “diálogo” entre classes, como explica acertadamente Iasi.

blog classistaEm Marx, há classes sociais estanques (“classe” é um conceito mais fechado do que gênero, espécie ou família, na taxonomia), e não há algo como uma realidade objetiva, como 1+1 ser igual a 2. Tudo o que chamamos de “pensamento” é apenas a defesa dos interesses da própria classe, e estas classes se odeiam. Se alguém afirma, por exemplo, que uma estatal foi usada para desviar dinheiro público, não existe um fato como o desvio de dinheiro público: apenas uma “consciência de classe” de um burguês conservador que quer manter seus “privilégios” atacando uma estatal. A “classe trabalhadora” não toma o poder, portanto, porque a sua “consciência de classe” foi “alienada” pela burguesia.

Os únicos seres humanos em toda a história mundial a fazerem parte de uma classe e terem a “consciência de classe” de outra foram, naturalmente, Karl Marx e Friedrich Engels. E toda a esquerda mundial anti-burguês e anti-“coxinhas” que, na verdade, é rica.

É novamente o que o economista Ludwig von Mises chamou de polilogismo, a fé de que não existe uma realidade externa a ser debatida, mas apenas interesses escusos das pessoas em defenderem a sua “classe”. Exceto, é claro, Marx, Engels e esquerdistas ricos.

Iasi citou um poema do stalinista Bertold Brecht que fala de uma situação “aonde” (sic) “alguém da direita, ao ser flagrado no seu jogo miserável de fazer o jogo da direita”, declarava-se na verdade como uma pessoa boa.

E Brecht questiona quais seriam as convicções e a sabedoria do direitista, perguntando “a quem serve a sabedoria e contra quem ela é usada”. E inquire se os “amigos” do direitista estão entre “as pessoas que são boas” ou entre “os adversários”.

holodomorConclusão brechtiana: na verdade, sendo “bom”, sábio ou o que for, qualquer pessoa que não seja comunista é “nosso inimigo”. E considerando que esse direitista seria uma pessoa “boa”, ironizou nosso possível futuro-presidente Mauro Iasi: “nós estamos dispostos a oferecer para você o seguinte: um bom paredão, onde vamos colocá-lo na frente de uma boa espingarda, com uma boa bala, e vamos oferecer, depois de uma boa pá, uma boa cova” (Iasi já recebia efusivos aplausos da platéia antes de terminar a descrição). Conclusão marxista-iasista: “com a direita e o conservadorismo, nenhum diálogo: luta” (aplausos ainda mais entusiastas).

Tal “meta amor fases” da esquerda e do progressismo nos permite antever, entre diversos fenômenos, dois que merecem atenção.

Para os caudatários do credo em “classes sociais”, como pessoas que afirmam existir uma “classe trabalhadora”, uma “elite”, pensamentos que derivam da “classe média” (o novo nome da “burguesia”) ou a acusação de alguém ser “coxinha”, existem os “bons” (que seriam a “classe trabalhadora”) e aqueles que não merecem o estatuto de pertencimento à “sociedade mais justa”.

A ironia de Brecht, citada por Mauro Iasi, com a palavra “bom” (gut) é esta: não existe algo como ser “bom”, apenas ser socialista. A única coisa “boa” a ser oferecida a quem não comunga do credo é uma “boa” forma de eliminação física: o paredão, a espingarda, a bala, a pá, a cova. Mauro Iasi não está sendo original ou fora do padrão: está até citando os autores que preconizam este método.

A utopia, a “sociedade mais justa”, o progressismo, a esquerda que não aceita o capitalismo, a reforma social, a centralização, a “consciência de classe” significam exatamente isso: o genocídio de quem não aceita o “outro mundo possível” numa cova comum. Foi assim no Terror da Revolução Francesa, foi assim no genocídio armênio pelos sindicalistas “Jovens Turcos” (Jön Türkler), foi assim na Revolução Russa, foi assim no Nacional-Socialismo alemão, foi assim na Revolução Islâmica agasalhada por Michel Foucault, é assim hoje com o Boko Haram, o Estado Islâmico e tantas outras formas de política revolucionária.

As vítimas são sempre as mesmas: adversários típicos da Revolução, os “conservadores”, os reacionários. Foram e são as vítimas comuns em todos estes eventos. Ainda mais agravados quando são aferrados a uma tradição cultural adversária, como uma linha política ou religião. As vítimas primordiais costumam ser cristãos (como os armênios) e judeus (como no nazismo e no islamismo).

No caso do nazismo, como seus crimes foram conhecidos rapidamente no Ocidente, a Escola Britânica do Marxismo chamou o regime de “extrema-direita”, por ter se oposto (na verdade, apenas na última hora) ao totalitarismo soviético. Os próprios nazistas nunca se denominaram “direitistas”, e sim socialistas, mas o apelido vinga até hoje. Tal denominação, além de invertida, gera bizarrices, como considerar nazistas direitistas e os judeus e Israel igualmente direitistas (e elite, e conservadores, e “coxinhas”, e capitalistas, e burgueses, e banqueiros, e especuladores).

socialist studentsO socialismo e a esquerda sempre foram o mesmo lado, ainda que com diferenças internas, como entre os nazistas e os bolcheviques. Mas todos são a esquerda e sua utopia contra a direita e sua tradição, seu sistema de economia livre contrária a planejamentos, sua moral religiosa, sua aversão a genocídios e eliminação de “não-pertencentes” à sociedade mais justa – socialista ou também islâmica, como o islamismo e o anti-semitismo são tutelados pela esquerda multicultural e igualmente escudados pelo nazismo.

As vítimas também sempre são o mesmo lado: liberais, conservadores e religiosos, como cristãos e judeus. Eles são o “atraso”, o “obscurantismo”, e, para um mundo possível, precisam ser assassinados às centenas de milhões para um mundo progressista, igualitário, da “classe trabalhadora”, do socialismo e do islamismo.

Outra coisa que chama a atenção está na própria ironia com a palavra “bom” ou “boa” (gut) feita no original pelo próprio Brecht. Acreditando no polilogismo da “consciência de classe” (Klassenbewusstsein) marxista, presente sempre que se “xinga” alguém de rico ou coxinha, valores como “bom” ou “mau” significam tão somente “favorável ao socialismo” ou não.

Roubos (chamados eufemisticamente de “expropriação” ou “distribuição de renda”), mortes, genocídios, corrupção, totalitarismo – tudo se torna apenas “sociedade socialista” ou os supostos desejos da “classe trabalhadora”. Os “desejos por uma sociedade mais justa”.

Um genocídio, então, é defendido abertamente, e aquilatado como “bom”. A liberdade, a vida, o trabalho, a paz, o investimento, o enriquecimento dos pobres, o empreendedorismo, a satisfação dos desejos do consumidor, o aumento de bens, a busca individual da felicidade – tudo isto se torna “mau”, e a ameaça da aplicação do genocídio para assassinar todas as pessoas que defendam tais valores conservadores é aplaudida inflamadamente.

verdadeiro cheO assassinato, é claro, é na vala comum, aos milhões de cadáveres. Mauro Iasi e Bertold Brecht pregam o “paredão”, como Che Guevara e Fidel Castro: gostam de matar quando a vítima está devidamente amarrada e desarmada, como bem nota Humberto Fontova em sua biografia O Verdadeiro Che Guevara – E os idiotas úteis que o idolatram (Che ficou atônito quando um menino que iria ser assassinado lhe gritou, desamarrado: “meta a bala bem aqui no peito”).

É o mesmo molde dos “guerreiros” do Estado Islâmico e do terrorismo muçulmano: usam armas contra vítimas desarmadas e indefesas, gritando corajosamente contra o “colonialismo” e o “imperialismo”. Não à toa, do Gulag soviético aos campos de concentração nazistas e à jizyah e à shari’ah islâmica, todos os propagadores do “mundo mais justo” contrário ao capitalismo e ao conservadorismo foram unânimes em usar suas vítimas como escravas (no caso islâmico, também como escravas sexuais) antes de eliminá-las.

A linguagem, desta forma, se torna um cabresto que ao invés de descrever a realidade, cega o falante à ela. Bom é o assassinato, mau é o repúdio conservador ao genocídio e ao totalitarismo. O metafórico é tratado como real, e o real como embuste de uma “classe conservadora”. O nazismo se torna “de direita”, e o judeu e Israel são tratados como direitistas na mesma toada, sem que o falante note alguma contradição. E qualquer prova contrária é tratada como ignorância inculta, obscurantismo e “pensamento de classe” ou “defesa de privilégios”.

Coroando o pensamento, o conservador e a direita é que são violentos, e defender sua morte é o desejo por uma sociedade mais justa.

Em tempo, conforme postado no Facebook de Carlos Bolsonaro, o deputado Jair Bolsonaro, considerado “autoritário”, “ditador”, “preconceituoso” e “violento” pela esquerda progressista “meta amor fases” (sic) “acionará o Ministério Público para que tome providências quanto a pregação de fuzilamento de quem não concorda com o comunismo no Brasil, proferida pelo professor da UFRJ e líder do Partido Comunista Brasileiro, Mauro Iasi.”

A sorte do Brasil é um deputado como Jair Bolsonaro pregar a paz e o acionamento da Justiça contra o fuzilamento coletivo, sendo chamado de “defensor da ditadura” por isto. Mauro Iasi, pregando o genocídio abertamente, não mereceu uma única vírgula de destaque em um grande jornal, não foi acusado de preconceito por dias consecutivos pelo Jornal Nacional, não ganhou uma nota de repúdio dos chamados “defensores da democracia” que sempre defendem a esquerda.

Ainda bem que há quem nos salve de “uma sociedade mais justa”.

estado islâmico

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Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs". Tem passagens pela Jovem Pan, RedeTV!, Gazeta do Povo e Die Weltwoche, na Suiça.

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