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Advogado diz que Lula nunca atrapalhou investigações. Mas e o “enfiem o processo no cu”?

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KY

O advogado de Lula reagiu ao pedido de prisão preventiva do ex-presidente Lula.

Segundo o advogado, o Ministério Público não foi imparcial ao pedir a prisão preventiva de Lula. O presidente do PT, Rui Falcão, que chamou o ato de “midiático”, corroborou a tese, afirmando que ele “não tem imparcialidade”. Inclusive com menções de que o promotor já “pré-julgou” o presidente.

O que certamente será repetido nas redes e conversas como grandes “fatos” que “a mídia não mostra”, tão logo saiam precisamente na mídia.

Entretanto, o Ministério Público não tem obrigação de ser “imparcial”. Exatamente ao contrário: sua obrigação e sua função é, de acordo com o Art. 127 da Constituição, entre outras, a incumbência da “defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis”. Ou seja: defende a sociedade, não pode ser “imparcial”.

Ademais, o Ministério Público não julga. Investiga, junto às polícias. A própria discussão da famigerada PEC 37 era a respeito disso, embora tenha sido usada como propaganda de atiçamento (ver mais em meu livro, Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs, as manifestações que tomaram as ruas do Brasil).

Curiosamente, toda a mídia que cita a defesa do ex-presidente ignora esta obviedade. Isto, sim, “a mídia não mostra”.

O Ministério Público entendeu, citando os fatos dessa semana, que Lula está instigando a população a cometer atos de violência.

Ora, não é de hoje que Lula está se preparando contra a Justiça justamente atiçando a sua militância. É o que chamamos de infowar, a guerra de narrativas que pode surpassar leis, e até criar novas leis ou mesmo novas instituições. É o mecanismo atual de revoluções.

O que ele quis dizer quando falou que colocaria “o exército do Stédile” nas ruas? O MST, afinal, invadiu nesta semana uma sucursal da Rede Globo. E sua entrevista pós-depoimento foi inteira uma ameaça. Gilberto Carvalho também afirmou que prender Lula é “brincar com fogo”, e não há muita margem semântica para se tentar imaginar outro significado para o que diz. E basta lembrar do que andou postando a militância do PT, que até inventou um ato pró-PT exatamente na mesma hora e local dos atos pelo impeachment decididos desde novembro.

https://twitter.com/militanciadoPT/status/706462659256958976

Mais do que isto, Lula não parece exatamente alguém que, como diz o advogado, “não atrapalha as investigações”, que “sempre colabora”, que está colaborando com a Justiça para que a verdade venha à tona. Basta perceber como o Instituto Lula anda escondendo notas fiscais e outros documentos para ganhar tempo. Até incêndios estão ocorrendo onde a Justiça quer provas. E por que não lembrar das manchetes, como fez o senador Ronaldo Caiado?

lula atrapalhou justiça

Ou seja: parece mesmo que Lula quer insuflar violência para obstruir a Justiça, é uma pessoa perigosa para a integridade física de muitas pessoas e está até mesmo pensando em aceitar um ministério para evitar as conseqüências das investigações de órgãos não-loteados pelo PT.

E isto não é uma séria investigação de órgãos competentes por 7 meses: é apenas o que qualquer palerma descobre sobre Lula em 5 minutos no Google.

Para resumir a questão, faltou o advogado esclarecer um ponto. Se Lula não obscatuliza a Justiça, o que Lula quis dizer quando, no vídeo de Jandira Feghali afirmando que ele está calmo, assistimo-no vociferando: “Eles que enfiem no cu todo o processo”?

Convenhamos, não parece exatamente a imagem de alguém disposto a cooperar com a Justiça. Mas certamente é o primeiro presidente na história mundial com pedido de prisão por ter sido gravado ululando: “Eles que enfiem no cu o processo!”, o que foi citado ipsis litteris no pedido de prisão. Nunca antes na história desse país – e do mundo.

Resta uma boa prova para a defesa de Lula. Talvez ele deva se focar agora em afirmar que não pode ser dono de um triplex e de um sítio com pedalinhos com os nomes de seus netos e, ao mesmo tempo, ter uma defesa tão júnior.

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Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs". Tem passagens pela Jovem Pan, RedeTV!, Gazeta do Povo e Die Weltwoche, na Suiça.

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