O surto de Tico Santa Cruz no vôo da Gol
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Tico Santa Cruz, o vocalista da banda Cisne (ou Fresno, ou CPM 22, ou Detonautas Roque Clube ou alguma outra banda emo) deu um chilique num vôo da Gol indo de São Paulo para Maringá nesta quarta-feira. Tico Santa Cruz estava indo dar uma palestra em uma Universidade. Os universitários passam bem.
Segundo vídeo postado em seu Facebook, usando boné de aba reta aos 38 anos de idade, Tico Santa Cruz tentou “a madrugada toda” fazer check-in para um assento Mais Conforto na aeronave, não conseguiu, esperou que as pessoas embarcassem e, depois de todo mundo ter se amontoado nos assentos indicados sem chororô e ranger de dentes, chegou lá o bonitão, Tico, ele, o Santa Cruz, o diferentão, luz celestial direto em seu boné, anjos tocando amém em bicordes, grão de areia no Arpoador, o único e inabalável salve-salve piada sambarilove, terror do Twitter e jurista nobertobobbiano, e viu um assento Mais Conforto dando sopa lá na frente, número 1, Brahma-Lula, e sentou seu pandeiro faceiro no assento confortável, mesmo sem o sistema ter-lhe dado esse direito, enquanto a patuléia ignara se aboletava lá atrás nos assentos povão.
Como já dizia Lula, Tico não gostou de pobre andando de avião e pegando seus assentos.
O valentão Tico foi avisado de que não poderia estar ali sem reserva e deu um pití de envergonhar Axl Rose, Noel Gallagher e Yngwie Malmsteen sentados ali do lado.
Disse que tinha direitos, como leu no Brasil 247 pouco antes. Que a companhia não tinha direito de cobrar por assentos Conforto, que eles não têm nenhuma diferença dos outros assentos. Bem aqueles assentos que ele varou a madrugada caçando um, o que o impediu de postar tanto no Twitter e mandar nudes (perdão à família brasileira pela demonstração). Ou ao menos foi o que disse após ser expulso do vôo sob aplausos efusivos dos passageiros, no vídeo se auto-justificando por uma rodada de baiana que durou quase 50 minutos atrasando o vôo de muita gente que queria ver seus familiares, trabalhar ou, sei lá, viver. Nos vídeos filmados dentro do vôo (que garante que “provarão” que ele está certo), tenta até subornar uma coitada de uma aeromoça, oferecendo dinheiro a ela (como se ela fosse a responsável por isso), mostrando que está “tentando pagar e eles não deixam” para os passageiros, que não agüentavam mais e não viam a hora do jurista petista palestrante de Universidade sair do vôo. Exatamente o contrário do que afirma que aconteceu.
Obviamente, para o pensamento petista-esquerdista, coerência com uma regra geral não é algo assimilável – não é nem bem um conceito claro, quanto menos algo a ser defendido. Basta apenas usar as palavras que soem pesadas na hora – se não funcionarem, basta dizer o exato oposto no minuto seguinte. Sobretudo se for em defesa de um partido, de um corrupto, de um ladrão, de uma boquinha.
O curioso do fato Tico Santa Cruz (já que ele, por si, não é lembrado senão por gente que ouvia emo, se cortava com gilete no banheiro e postava foto no orkut logo depois), é justamente a quebra completa da narrativa petista martelada nos últimos 13 ominosos anos, afiançando que as pessoas não gostam do PT porque o PT é tão bom, mas tããããão magnanimamente bom e competente, que fazia pobre entupir aeroporto (antes um porto seguro de ricos), e agora os ricos não gostam de tanto pobre no recinto.
Tico Santa Cruz, petista, bem que poderia ter dado um ataque de pelancas numa rodoviária.
Nada do que fez incomoda a esquerda, que deveria buscar um ideal (como a “igualdade” ou a “justiça social” ou “o meu bandido ao menos cria o Bolsa Família”) e tentar aplicá-lo ao real. Nem o fato de tentar subornar uma coitada de uma aeromoça, nem o fato de se achar tão lista VIP dos céus, nem a carteirada hilária de sair enfiando notas de dinheiro no nariz dos outros afirmando: ‘Eu pago, eu pago, eu pago!’ (para, após ser expulso, caprichar na cara de cão-sem-dono e se dizer vítima, sacando artigos a esmo do Código de Defesa do Consumidor para afirmar, este juristão diferentão, que a empresa não tem o direito de cobrar por assentos diferentes, porque eles são iguais aos outros, mas ele quer aquele que é mais igual do que os outros e passou toda a madrugada atrás dele).
Se chamamos de “esquerda caviar”, nós que somos radicais hidrófobos de extrema-direita intolerante preconceituosos que odiamos ricos esquerdistas assento Conforto.
O vocalista da banda emo que ninguém que não tenha tido pais alcoólatras conhece repetiu ad nauseam que foi vítima (vítima.) de um “constrangimento”, ou até de um “constrangimento coletivo”. Difícil imaginar como alguém pode inverter tanto sujeito e objeto, voz ativa com voz passiva, para se dizer conseqüência quando é causa. Algo que nenhum das outras dezenas e dezenas de passageiros do vôo teve dificuldade em compreender.
Também falou da intransigência da companhia. Tico Santa Cruz anda fumando muito blog progressista para falar essas palavras. Fica sempre o recado para os pais: cuidado, seu filho pode estar lendo OperaMundi e Carta Capital enquanto está sozinho no quarto escuro, e logo sai de lá com cara de empáfia e nojinho e te acusa de “intransigência” assim que você não permite que ele quebre uma regra e depois invente outra ex post facto para ainda considerar que a própria intransigência dele virou norma e obrigação.
Ao menos dessa vez não ameaçou ninguém de morte diante de uma turba enfurecida, para depois registrar queixa de ameaças virtuais de desconhecidos atrás de teclados.
Não fosse Tico Santa Cruz, aquele que fala tanto em “lei” e “Constituição” hoje, ser uma espécie de vergonha alheia para a blogosfera progressista (aquele cara com quem andam porque tem milhares de seguidores adolescentes abobados que cortam os pulsos com gilete e viram socialistas para ver se se tornam amigos “da sociedade”, já que indivíduos sempre os julgam losers), vocês veriam textões e textões até o pós-impeachment sobre como essa classe média coxinha burguesa fascista golpista loira de olhos azuis tem preconceito no aeroporto com cantores que apenas exigem seu direito de sentar no assento com mais conforto e mais caro sem ter sido autorizado.
O que é um retrato em uma única imagem, com boné de aba reta, do que significa ser de esquerda depois dos 15 anos.
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