Orlando: a maldade e o que podemos fazer contra ela
O atentado terrorista em Orlando suscita paixões, mas não toca uma questão fundamental: a maldade e como proteger nossos entes amados dela.
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Cada dia traz consigo as suas próprias aflições. Calamidades. Mortes. Estupros. Assassinatos. Acordamos e dormimos sob o ruído e os rumores da presença do mal entre nós — e, de tempo em tempo, para além de seus reflexos e reverberações, o mal nos atinge em cheio e nos coloca de joelhos perante a vida, trazendo aos nossos corações alguma variação da confusão e da falta de clareza causadas pelo medo, pela dor, pela raiva ou pelo arrependimento.
Enquanto lia sobre o atentado terrorista realizado na madrugada de ontem em Orlando, flagrei-me pensando sobre a disputa de narrativas que o episódio desencadearia, sobre suas consequências políticas e eleitorais, e sobre uma porção de outras coisas que pertencem a uma escala sobre-humana e quase intangível, muito antes de pensar na tragédia humana das vidas desperdiçadas, das histórias inacabadas, da dor excruciante e do vazio sentidos pelos familiares, amigos e amantes daqueles que foram estupidamente assassinados naquela boate.
E o que me puxou de volta à esfera das emoções humanas foi uma reportagem sobre a situação angustiante com que se depararam peritos e investigadores no interior da boate Pulse: centenas de celulares tocavam incessantemente, avisando sobre ligações que nunca seriam atendidas e mensagens que jamais viriam a ser lidas.
Ao travar contato com esse relato, não pude senão me colocar no lugar daqueles que, mesmo confrontados pelas evidências de que não obteriam respostas, apegavam-se ao que lhes restava de esperança e continuavam a ligar, torcendo por uma boa notícia ou mesmo pela frágil oportunidade de uma despedida; pela chance de expressar o seu amor uma última vez.
Por mais trágicos que sejam, acontecimentos como esse, sobretudo os que ocorrem em larga escala e ganham as manchetes dos jornais, raramente estão sob o nosso controle. Há, no entanto, algumas coisas que podemos controlar e que, por isso mesmo, devem estar no centro das nossas atenções: as circunstâncias cotidianas em que nos encontramos; os nossos relacionamentos com as pessoas que amamos; nossa postura perante a vida; e a forma com que nos preparamos para enfrentar o mal.
A idéia de levar a discussão para a escala governamental, ou mesmo civilizacional, é tentadora – e, não nego, de algum modo necessária. Mas, antes de nos perdermos em sonhos sobre uma nova batalha de Lepanto, temos de nos colocar uma pergunta muito mais urgente: o que estamos prontos a fazer quando o mal vier para nós ou, pior, para aqueles que nós amamos?
O único mundo que nós podemos salvar é o das pessoas cujas vidas são afetadas pelas nossas ações e omissões. Os nossos antepassados sabiam disso e buscavam estar sempre preparados para confrontar o mal quando necessário fosse; aprendendo a brigar, a atirar… a sobreviver e a proteger aqueles que contavam com sua proteção.
Mas nós nos acovardamos e, pouco a pouco, substituímos nossos deveres pela comodidade das discussões teóricas e das explicações abstratas, enquanto deslocávamos nossas preocupações para uma esfera inalcançável às nossas ações, na qual nossas responsabilidades pessoais raramente são lembradas — e isso tem de acabar.
Confrontados por um crime brutal e perverso como o de Orlando, não podemos permitir que, mais uma vez, nossa atenção se disperse em discussões abstratas sobre o que os governantes deveriam fazer ou deixar de fazer. Se desperdiçarmos todo o nosso tempo com isso, não teremos tempo para fazer a única coisa que realmente importa e poderá trazer resultados práticos: encarar a vida com seriedade e combater a pusilanimidade visceral com que foram infectadas as nossas almas.
A crise do Ocidente é a crise da responsabilidade pessoal. O declínio da nossa civilização é o declínio da masculinidade. Temos de deixar de lado as murmurações e começar a agir para que possamos estar prontos a cuidar de nós mesmos e daqueles que amamos, quando nos depararmos com situações difíceis. Os maus estão sempre preparados para os seus ataques. Nós temos que estar preparados para reagir com inteligência, coragem e agressividade. Nosso treinamento tem de ser tão intenso e levado tão a sério quanto os terroristas, os assassinos, os estupradores levam a sério sua missão de dilacerar almas.
Temos de aprender a brigar, a manusear armas, a atirar, a controlar nossas emoções, a cometer sacrifícios e a traduzir em atos o amor que dizemos ter pelo nosso próximo – talvez assim o Brasil deixe de ser vítima de 60 mil homicídios por ano e o Ocidente volte a impor respeito àqueles que o querem destruir.
Vivemos em uma época complicada, repleta de possibilidades e de beleza, e também de riscos, perigos e maldade – na qual cada dia pode ser o seu último, ou o último de alguma pessoa que você ama. Cada dia traz consigo as suas próprias aflições.
O mesmo pode ser dito sobre as circunstâncias. Estejamos, pois, preparados para elas. Pare de desperdiçar seu tempo com futilidades e comece a encarar a vida com seriedade: expresse sempre o seu amor para as pessoas que você ama, vença a procrastinação, encare os seus medos de frente e esteja preparado para quando a sua vez de se confrontar com o mal chegar.
Comece a fazer isso hoje, pois hoje pode ser o último dia da sua vida. Ou da minha.
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