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4 de Julho

4 de Julho: O mundo todo deveria comemorar a Independência americana

A Independência Americana quase não é estudada no Brasil – mas é um dia com tanto significado que deveria ser comemorado pelo mundo inteiro.

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O dia 4 de julho para os americanos marca um dos dias mais importantes do ano, bem ao contrário de nosso 7 de setembro, com tão pouca significância prática. O 4 de julho não é apenas um feriado: é uma celebração pátria, um dia com algo o que fazer. Depois da escola e mormente nas últimas décadas e com o ranço anti-militar, ninguém no Brasil está preocupado com algo como assistir um desfile. É praticamente uma obrigação americana.

A Inglaterra e a América são dois países em paz há muito tempo, como o são hoje Portugal e Brasil. Não é a independência em si, fruto de conjunturas históricas hoje inexistentes, que dá significado à data.

declaration-independenceOs americanos, depois da Guerra Revolucionária, que se entendeu para se tornar um prenúncio de Guerra Mundial envolvendo França, Países Baixos e Espanha contra a Inglaterra, verbalizaram em documento um dos principais marcos de defesa da liberdade mundial: a Declaration of Independence. No Brasil, nada similar foi produzido, e vencida a animosidade com Portugal e varrido para baixo do tapete o golpe militar que deu origem à República (tornando a Independência algo de significado ainda mais oco), só nos restou um feriado de pouca monta.

Os americanos, além de valores etéreos e eternos e de um espírito geral só fisgável com alta literatura e filosofia, têm alguns documentos, aparentemente simples e curtos, que significaram um salto gigantesco de uma colônia com arremedo de civilização e potencial apenas formal de prosperidade para se tornar de fato a terra dos bravos e lar dos livres.

Além da sua poderosíssima Constituição, a “Declaração de Independência” americana não veio com ranço revanchista, como a nossa Constituição de 88: trata-se de um documento de auto-gestão, do que significa ser americano e estar protegido por suas fronteiras, por sua bandeira, por seu Exército e por suas leis. Inclusive para um inglês. É exatamente o oposto de uma norma para inglês ver.

Hoje, sem disputa territorial entre as duas potências, a Declaration of Independence compila as normas, a tradição, o espírito americano de liberdade, que servirá de moto para o Direito da common Law, nascido da resolução de conflitos – tão distante de nossa realidade de burocracia über alles.

Liberdade é uma palavra-chave para se entender a América. Esta palavra, no Brasil, é inexistente no vocabulário político – simplesmente nenhum candidato a presidente defende a liberdade do povo para ganhar votos. Quando muito, é usada como uma liberdade relativa, em oposição a alguma surrada comparação com a ditadura militar.

liberty-statueDe resto, quando algum desavisado a invoca em público, é imediatamente obtemperado por uma farândola de especialistas rigorosamente obedientes a estancar a ferida na narrativa corrente com um belo “…mas” logo a seguir. A liberdade de expressão deve ser defendida, mas não se pode ofender ninguém. A liberdade de imprensa é sagrada, mas investigações contra o governo precisam da chancela do próprio governo antes de serem divulgadas impunemente. A liberdade econômica é tolerada, mas que se atente à função social do comércio. Defende-se que o povo seja livre, mas sem discordar do que um mandante determine que seja liberdade.

Alicerceada em um espírito invertido, a Independência americana nasceu contra os impostos da metrópole britânica, através da “festa do chá” (Tea Party), em Boston, que foi a fagulha em um rastilho de pólvora a eclodir futuramente a Revolução Americana. Os americanos queriam se ver livres de seus governantes.

Não eram exatamente péssimos governantes, como os que hoje conhecemos: eram governantes demasiadamente caros. Um americano já sabia que, em matéria de governo e política, isto é o mesmo que ser obrigado a pagar pelos luxos de outrem – ou seja, não ser livre.

Sem os impostos (taxas) do chá, a Coroa inglesa ficou sem uma forma de encher seus cofres sem esforço, enquanto o trabalhador americano dava seu suor para não ficar com os frutos do seu trabalho. A Revolução Americana não foi um ódio mortal aos ingleses que deram à América sua língua, sua tecnologia, boa parte de sua religião, sua cultura, sua civilização, a base filosófica de seu Direito e de sua própria organização, além da receita de enriquecimento por comércio e criação de riqueza em massa: foi uma purificação em busca de justiça no comércio e na prosperidade.

http://www.dailymotion.com/video/xmm52y_pernalonga-ensinando-seu-sobrinho_shortfilms

O comércio traz paz, e em pouco tempo, a paz foi selada inclusive com sua antiga inimiga, a Inglaterra. O comércio, danificado pelos impostos, e bem ao contrário destes, só prospera quando tanto vendedor quanto comprador sentem que fizeram um bom negócio. Fato óbvio, que curiosamente foi invertido pelos odiadores do livre-comércio no recente caso Brexit: afirmaram que todos os países da União Européia enriqueceram com o bloco (frase que ficaria correta, no caso de Inglaterra e Alemanha, como apesar do bloco), o que joga qualquer teoria sobre “exploração” na lata de lixo.

Mas havia algo na Declaration of Independence acima das questões econômicas que orquestrou o caminho da América para se tornar a maior potência do mundo, superando inclusive sua metrópole, o “reino em que o sol nunca descansa”: sua verbalização da liberdade, da moral e da busca da felicidade como valores acima da política. Aliada à Constituição, é um documento civil só comparável à Magna Carta em seu poder de limitação à tirania governamental.

Seu parágrafo mais famoso diz:

We hold these truths to be self-evident, that all men are created equal, that they are endowed by their Creator with certain unalienable rights, that among these are life, liberty and the pursuit of happiness. That to secure these rights, governments are instituted among men, deriving their just powers from the consent of the governed.

Apontar a justiça maior do que a dos homens para fora da esfera da história, falando do Criador, pode ser algo que soe estranho aos ouvidos laicos modernos, mas seu princípio é justamente o de que os homens são iguais perante à lei (inclusive governantes) e possuem direitos inalienáveis, como vida, liberdade e a “busca da felicidade” indiscutivelmente, independentemente de argumentos históricos e nesta existência. A declaração destes três direitos, por si, levada a sério, também faria com que mais de 95% das discussões no Ocidente fossem resolvidas em dois minutos.

Liberdade é uma palavra tão bonita que não consegue ser atacada (daí decorre que, quando querem restringir a liberdade, defendem-na, seguido de um “mas”). Mas, afinal, freedom isn’t free.

O que talvez nem os colonos que verbalizaram os princípios americanos naquele 4 de julho tenham verbalizado até mesmo em suas mentes é que, bem ao contrário do que se diz, a escravidão vicia. Basta estar alimentado com migalhas, agasalhado com andrajos e entretido com propaganda governamental para que um país continental seja capaz de vender sua própria liberdade, dar quase metade do que trabalha por ano para o governo e ainda o considere um salvador, matando e morrendo em nome de seu tirano. É o que se tem sem a cultura criada por uma Declaration of Independence.

independence-day-will-smithTalvez seus autores, Thomas Jefferson, Benjamin Franklin, Roger Sherman, John Adams e Robert R. Livingston, tenham pressentido tal poder do encantamento da escravidão e do valor da liberdade ao expressar que o poder tem vistas a proteger a vida, a liberdade e a busca da felicidade (o que produziria o impeachment de quase todos os líderes mundiais, inclusive boa parte dos americanos), mas que também depende do “consent of the governed”.

Sem o consentimento de quem é governado – ou seja, sem o governo ser apreciado por aqueles que lhe outorgaram poder – o governante deve ter seu poder abolido. É o que se lê logo a seguir:

That whenever any Form of Government becomes destructive of these ends, it is the Right of the People to alter or to abolish it, and to institute new Government (…).

Toda vez que um governo se torna destrutivo à liberdade conquistada com tanto sangue, é Direito do Povo alterá-lo ou o abolir, instituindo novo governo.

A liberdade que foi contra o imposto sobre o chá tem uma dura lição a ensinar ao Brasil: a tirania que destrói a liberdade, além de ter uma mentalidade dominadora, também quer dominar a economia, a base do poder. Sem ela, os esquemas da tirania ruem como castelo de cartas. Basta seguir o dinheiro – follow the money, como ensinam os americanos. Lição que Janaína Paschoal e Sérgio Moro aprenderam com muito êxito.

Ser livre, afinal, não significa ser alimentado, ter despesas pagas, ter uma idéia “social” e poder mandar em outras pessoas para obedecê-la. Ser livre é como estar na natureza selvagem: não ter restrições de ação, locomoção e empreendimento, mas ter uma escolha a fazer a cada segundo, uma renúncia imposta a cada escolha.

Não à toa, grandes pensadores americanos pregando a liberdade, como Henry David Thoreau e sua Desobediência Civil, vão para os bosques (Walden) para pregar a liberdade. Theodore Roosevelt mostrava o espírito da liberdade na caça. Mesmo a urbaníssima Ayn Rand demonstrou como ser livre pode significar não ter o que comer sem o esforço para se obter o alimento – tudo o que é “de graça” pode te deixar em dívida com alguém.

Este espírito não foi só uma conquista americana: foi uma conquista ao mundo, já que a “terra da oportunidade” permite que qualquer um seja livre, se não ferir a vida, a liberdade e a busca da felicidade de seu vizinho. Parecem os melhores motivos civis do mundo para se determinar o permitido e o proibido no comportamento em grupo.

A independência em era de anti-americanismo

Sendo a Independência americana um modelo tão belo e universal de pedra basilar de uma sociedade, como o mundo é cada vez mais eivado de anti-americanismo – até mesmo dentro da própria América, com um presidente que se refere à bandeira como “aquilo” que não usaria em público e um candidato abertamente socialista ainda na corrida presidencial?

Comemorar o 4 de julho, ato belo, se torna quase uma traição à humanidade. Não é exagero imaginar que, fora da América, comemorar a Declaration of Independence, outrora aplaudida na própria Inglaterra, seja considerado racista, machista e homofóbico.

teapartyextremistsEm meus tempos de ensino médio, comecei a ouvir a típica propaganda anti-americana e anti-capitalista que marcam o que é chamado de “ensino de História” em nosso país. Os americanos eram retratados como monstros devoradores de pobres, burros e obscurantistas que não tinham os conhecimentos humanistas e aprofundados de nossos professores de História e Geografia (que, curiosamente, quase nunca conseguiam completar uma frase sem erro gramatical).

Era uma descrição estranha: a América seria responsável por tudo o que é ruim no mundo, e seriam todos incrivelmente burros e inumanos perto de nós, iluminados brasileiros eleitores do PT. Os Republicanos, então, eram caipiras analfabetos que não sabiam nem onde ficava o Oriente Médio no mapa. (ríamos, mas ainda bem que nunca ninguém nos perguntou a respeito.)

Mas ao mesmo tempo, a América é que produzia tudo o que era de fato bom no mundo. A América ganha certamente mais de um Nobel por ano. Tem Harvard, MIT, Columbia e cerca de 80% das melhores faculdades do mundo. Não havia nada que fizéssemos que não tivesse ajuda americana: nossos computadores, a internet, os filmes. Até mesmo os esquerdistas deles pareciam melhores: aprendíamos como a intelectualidade americana seria imbecil e direitista lendo Noam Chomsky, jurávamos que o cinema americano era imperialista e ensinava capitalismo opressor ao mundo assistindo Michael Moore, dizíamos que a música americana era lixo capitalista para as massas gritando os refrões acerebrados de Rage Against The Machine e System of a Down, vários de nós comemoraram o ataque às torres gêmeas pela al-Qaeda.

(sim, minha geração foi estúpida, nem queira imaginar a que veio menos de 10 anos depois.)

O anti-americanismo como propaganda, todavia, nunca era questionado. Tudo o que pudesse dar um centavo a um americano deveria ser boicotado, mas nunca nos perguntamos quem ganha com a propaganda anti-americana. O globalismo (a causa do Brexit) nunca foi uma preocupação nossa (embora a sede da ONU fosse em Nova York, acatávamos como as Leis inquestionáveis reveladas no Sinai qualquer badulaque dela).

world-trade-center-911O islamismo, naquela época e hoje muito mais, era só “um modo de vida alternativo” que oprime mulheres, enforca gays e decapita quem discorda, mas o real problema para as minorias era o Partido Republicano, a Coca-Cola (“líquido negro do capitalismo”) e o Big Mac. Poucos pensaram por si próprios e escaparam da jaula de sinapses do anti-americanismo xarope.

Nosso colunista Martim Vasques da Cunha lembra que David P. Goldman diz que o anti-americanismo é uma variação simétrica do anti-semitismo. Nosso também colunista Filipe Martins completa: “Tony Judt sugere algo parecido e Jean-François Revel parece prestes a dizer isso em vários trechos do L’Obsession anti-américaine. Isso, aliás, deve ajudar a explicar por que um dos países mais anti-americanos do mundo, a França, tem tanto problema com o anti-semitismo.”

Lembrando a famosa cena do Coliseu de Monty Python, a obsessão anti-americana que jura que a América quer roubar terra e empobrecer as pessoas para escravizá-las graças a seu fanatismo religioso, baseada em propaganda de pessoas que querem dominar nossa terra e escravizar nosso trabalho graças a um fanatismo religioso, está fazendo o Ocidente se suicidar.

Lutamos contra todos os que nos fazem bem, como se fossem malvados por não nos fazerem bem ainda mais barato, e apoiamos todos os tiranos que odeiam tudo o que amamos – e colocarão uma faca fria em nossos pescoços na primeira oportunidade, assim que não mais formos úteis a eles.

Não enxergando nossa própria situação real, a experiência concreta do dia a dia, imaginamos viver num mundo de conto de fadas de professores de História com delírios trotskystas. Imaginar um mundo sem a América, como desafia Dinesh D’Souza, não é imaginar um mundo de paz, liberdade e igualdade como os adolescentes pensam: a liberdade não é o Estado potente, a igualdade de lei ou de oportunidade nada tem a ver com planificação econômica.

Tais conceitos tampouco surgem nihil ad rem: dependem justamente dos valores defendidos naquele Tea Party (que, por ser contra os impostos britânicos, tinha um altíssimo percentual de nativo-americanos promovendo a Revolução de Independência), colocados em verbo naquele 4 de julho.

Só tais valores é que puderam construir um país a servir de modelo ao mundo, a defender a liberdade até mesmo longe de seu território sem exigir um pedaço de terra em troca, além daquele para enterrar os soldados que deram sua vida for liberty and justice for all.

Não é do seio de uma sociedade socialista ou da Umma islâmica que surgirá a idéia de um pais com lei igual para governantes e governados, de liberdade só restringida pela liberdade alheia e, sobretudo, de aceitação de todos os povos, crenças e objetivos, desde que não firam esta delicada e simples noção. Para isto, apenas os valores que construíram a America: land of the free and home of the brave.

Aos nossos amigos americanos, que comemorem (ainda que com atraso) o Dia da Independência, que é uma inspiração ao mundo. Afinal, sabemos o que  esperamos, em qualquer lugar do mundo, se estivermos perdidos e virmos uma bandeira americana e formos buscar abrigo. Não sabemos o mesmo se virmos uma bandeira de qualquer um dos inimigos da América.

America, fuck yeah!

Post Scriptum: Usamos o verdadeiro nome do país, América, que é o mesmo nome do continente, fato que incomoda mortalmente comunistas, crendo que isto significa que a América, o país, quer uma “dominação” sobre o resto do continente (o que conseguiria em 5 dias de guerra, se fosse o caso). “Estados Unidos” é um prenome. O mesmo prenome dos Estados Unidos Mexicanos, e que o próprio Brasil já teve na República Velha (Estados Unidos do Brasil). O nome correto do país, quer queira, quer não, é América, e não “Estados Unidos”.

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Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs". Tem passagens pela Jovem Pan, RedeTV!, Gazeta do Povo e Die Weltwoche, na Suiça.

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