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Política

General Sebastião Peternelli na Funai: o nome faz o homem

O general Sebastião Peternelli, defensor do golpe de 64, foi indicado para a presidência da Funai. E todos os outros defensores de golpes do país?

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O PT e os políticos subservientes ao Partido vermelho no governo ficaram exaltados com a nomeação do general Sebastião Peternelli, que defende o golpe de 1964, para a presidência da Funai.

Nelson Rodrigues, num chiste de profundeza metafísica absoluta, afirmou que ao contrário da crença comum, é o nome que faz o homem. Napoleão, afinal, haveria de ter um destino napoleônico. Qualquer pessoa de nome feio conhece tal verdade na pele no RG.

O golpe de 1964 foi um golpe civil-militar: a população, na Marcha da Família com Deus pela Liberdade, depôs o presidente corrupto e mancomunado com o socialismo internacional João Goulart com ajuda dos militares, que prometeram eleições novas em seis meses. Tecnocratas e imbuídos da crença positivista, de que a sociedade deve ser dirigida por “gênios” como eles próprios, os milicos traíram o povo e só tivemos outras eleições após 21 anos de ditadura de coturno e farda.

Destacável, todavia, é o achincalhe que se faz sobre “um general que defende um golpe” na presidência da Funai.

Dilma, ou melhor, todos os petistas, acusam seus opositores de estarem arquitetando um “golpe”. A narrativa histórica, que depende de professores de História, já está pronta para ensinar isso para todas as próximas gerações.

Ora, os crimes de que Dilma é acusada e, conforme já comentamos em nosso podcast, até a perícia técnica do Senado convocada pela própria defesa de Dilma atesta e comprova, mostram, justamente, que Dilma Rousseff e o PT praticam um golpe contra as eleições: ganharam eleições manipulando contas para parecer que a situação brasileira estava ótima (não está, como vemos hoje), mantendo altos gastos que saíram do bolso do trabalhador para pagar despesas próprias do governo (ao invés de um desvio do tamanho de um Fiat Elba, toda a vida de requinte e luxo absoluto do PT e de seus asseclas, entre eles, na época, Eduardo Cunha e Michel Temer) etc etc.

Acontece que ninguém chama o ato de Dilma Rousseff de golpe. A palavra “golpe” é comentada no jornalismo só tendo como fonte os petistas. O mensalão, afinal, também foi golpe: compra de votos legislativos para que as propostas que partiam do Executivo fossem sempre acatadas. É o mesmo que um AI-5: ao invés de botinas e prisão de opositores, corrupção para comprar o “meião” que está sempre com o governo.

Chamam o general Sebastião Peternelli de “defensor do golpe de 64”. Ok, pode ser que ele defenda. Mas a manchete só chama atenção porque o imaginário coletivo brasileiro não chama, como deveria, todos os defensores da continuidade do governo petista de “defensores do golpe de 2014”. Para não falar daquele descoberto em 2005, para não falar do petrolão, para não falar da compra de silêncio de testemunhas…

Tudo é golpe. Um golpe anti-golpistas, uma contra-revolução, ainda pode ser explicado como um mal menor.

Aliás, a própria Funai também precisa rever seu nome. Quem é índio? Descendente de índio é protegido pela Funai? E descendente de índio com português? E descendente de índio com negro?

Enquanto estivermos nas mãos de manipuladores de nomes e fatos deste quilate, nosso destino será mais parecido com o das vítimas de Napoleão.

Assuntos:
Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs". Tem passagens pela Jovem Pan, RedeTV!, Gazeta do Povo e Die Weltwoche, na Suiça.

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