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Olimpíadas

Prestar continência no pódio deveria ser proibido?

O COI proibiu atletas militares como Rafaela Silva e Mayra Aguiar de prestar continência no pódio. A discussão é válida?

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Rafaela Silva presta continência no pódio ao ganhar medalha de bronze

As medalhas que o Brasil ganhou nas Olimpíadas foram praticamente monopolizadas por atletas militares. Todavia, a campeã olímpica do judô na categoria leve, Rafaela Silva, e a medalhista de bronze dos meio-pesados, Mayra Aguiar, ambas sargentos da marinha, receberam ordens de cima, do COI, para não prestarem continência à bandeira.

A questão já foi debatida antes, e acaba entrando num limbo jurídico, ainda mais complicado do que a tática do COI de cortar uma metade instrumental do hino, para não cortar sua parte cantada, o que confundiu mortalmente a platéia. O hino, afinal, é um dos símbolos nacionais.

Um militar ouve o hino prestando continência, enquanto um civil deve colocar a mão sobre o peito, cobrindo o coração. É um gesto de respeito entendido internacionalmente, ao menos pelas nações civilizadas. O hino, inclusive de outro país, exige silêncio, reverência e respeito.

Não pode ser como o anormal da esquerda, que ouve o hino com as mãos pacificamente depositadas sobre as nozes:

Barack Obama ouve hino americano com a mão no saco

Acontece que um militar, para prestar continência, deve estar de quepe, segundo a norma militar. O que fica subentendido é que se fala de uma situação em que o militar esteja completamente paramentado, ouvindo o hino em situação preparada – num quartel ou desfile, por exemplo –, e não em uma situação de combate, de guerra, de representação do país no front, em ação.

De fato, seria bem estranho exigir que um militar que perdesse o quepe em um confronto, assim que chegasse, sujo de sangue, com buracos de faca e tiros em seu uniforme, sem alguns dentes e pedaços da orelha, não pudesse prestar continência à sua bandeira ao ouvir o hino quando reencontrasse seus compatriotas.

A questão do quepe, portanto, para muitos militares, tem ligação com o asseio que o militar deve ter no próprio quartel e nas situações de paz, estando sempre alinhado, esmerado, elegante e impertérrito. O quepe, que deve estar sempre a seu alcance, deve ser colocado para ouvir o hino – é esta a hierarquia, não uma proibição da continência caso esteja sem quepe.

O uniforme esportivo, portanto, em uma situação de representação do país como é nas Olimpíadas, faz as vezes da farda. Ainda por cima, é um uniforme completo, sem faltar nada. Militares, via de regra, entendem não apenas que têm um “direito”, mas a verdadeira obrigação de prestar continência ao ouvir o hino com um uniforme que represente seu país em disputa.

Óbvio, não é uma opinião unânime, e atentar à letra da lei como única interpretação possível (a questão do quepe), já é em si uma interpretação forçada, visto que o uniforme e seus acessórios significam muito mais do que cabe no texto.

A grande dúvida é: o COI, ao impedir, a toque de caixa a continência, sob o risco de confisco de medalhas (!), está mesmo interessado nesta discussão jurídica em seríssimo impasse, ou está apenas acatando grupelhos de pressão fazendo lobby na mídia para aceitar uma propaganda anti-militar, quase como se atletas como Felipe Wu, Rafaela Silva e Mayra Aguiar fossem verdadeiros criminosos de guerra, defensores da ditadura ou assassinos de civis, que só devem ser tolerados com suas medalhas?

A resposta é meio óbvia. Afinal, minorias devem ser defendidas. Exceto aquela minoria que ganha algo pelo Brasil contra tudo o que pregam contra eles, enfrentando todos os percalços e os superando de estro próprio, para algum espertalhão na mídia se “ofender” com um gesto de respeito a dois símbolos nacionais (bandeira e hino) em defesa de todo o povo brasileiro.

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Assuntos:
Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs". Tem passagens pela Jovem Pan, RedeTV!, Gazeta do Povo e Die Weltwoche, na Suiça.

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