PT é o novo Collor, PT é o novo Maluf
O PT se apresenta como um partido de pobres, o povo contra os poderosos. Seu destino é o mesmo de quem fez o mesmo antes, como Collor e Maluf.
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Que o PT foi o maior derrotado das eleições municipais, isto é óbvio para todo o país. Duas análises de mentalidade podem decorrer do fato: a funcionamento do PT e a visão do restante do país a respeito do partido.
Apesar de a esquerda hoje se dividir em vários partidos, do velho PDT à nova extrema-esquerda de PSOL e Rede, o PT continua como partido-metrópole e única ideologia política consubstanciada em um partido que a defenda claramente no país.
Tal ideologia é baseada na idéia de tomar o Estado para proteger os pobres: o Estado é visto como um grande programa social, usando seu orçamento para fazer a chamada “distribuição de renda”: os pobres, portanto, deveriam ser de esquerda e adorar o Estado, enquanto a direita seria composta apenas por “ricos”, filhos de igualmente ricos que têm seu “capital” ameaçado.
É um ideário que muitas pessoas têm na vida, quando o ouvem pela primeira vez, sobretudo na juventude. Quando refletem mais posteriormente a respeito do funcionamento da economia e do que permite o enriquecimento dos pobres, a crença no Estado vai sendo escanteada para as pressuposições infantis, atrasadas e risíveis da puberdade e, mesmo que não formulada em novos conceitos e difíceis livros de ciência política, a esquerda vai sendo abandonada em favor da vida real.
O PT tentou uma sobrevida pós-impeachment com a mesma narrativa. Após o Brasil testemunhar seus desmandos e o que é mesmo um poder estatal gigantesco em troca de algumas migalhas para os pobres em troca de votos, só restou a militância mais histérica e fanática, negadora da realidade, que sempre vai defender o partido, não importam quais sejam os fatos.
Essa militância acredita em “golpe”, em “fim da democracia”. Em 2014, no prenúncio do processo de impeachment, falavam em “respeitar as urnas”. O discurso havia mudado a partir do momento em que foi ficando claro para o público que as eleições de 2014 foram vencidas com fraude. Ainda assim, alguma tentativa de discurso tentava ser ventilada, completamente apartada da realidade.
Em números, este foi o primeiro recado óbvio de domingo: não houve golpe. Não houve o fim da democracia. O impeachment não foi obra de Eduardo Cunha contra o voto do povo, que seria totalmente petista.
Não apenas essa narrativa sofreu seu baque final: todo o ideário da esquerda, crente que pobre deve votar nela (crendo-se, a princípio sem perceber, dona da consciência e dos valores dos desassistidos), cai por terra quando o povo mostra mesmo que ele que não quer mais o PT. Não é o Eduardo Cunha, não é a Rede Globo.
Menos ainda é preciso ser dito sobre o futuro do partido: sem estatais, sem prefeituras, sem suporte. O apoio de Lula e Dilma faziam naufragar qualquer candidatura.
Para quem nunca entendeu por que o Brasil possui tantas prefeituras caríssimas com tão poucos habitantes, a resposta é clara: para serem palanques de eleições federais. O mensalão surgiu para tomar prefeituras nos dois maiores colégios eleitorais do país, São Paulo e Minas Gerais. A derrota petista em 2016 não é apenas simbólica ou premonitória: é o secamento da fonte para qualquer tentativa do PT em 2018.
O PT perdeu mais da metade de suas prefeituras: de 630, agora tem apenas 256. Nas capitais, ficou apenas com a Rio Branco dos irmãos Viana, completamente apartada do restante do país (e uma má notícia para a reinvenção da esquerda, sendo uma pedra no sapato da Rede de Marina Silva). De terceiro lugar entre os partidos com mais prefeituras, desceu para o 10.º.
O número ainda engana. Diz nosso colega Marlos Apyus, do Implicante e do Apyus.com:
O PT perdeu 60% das prefeituras que tinha. É ruim. Mas ainda passa uma sensação errada da situação. Porque o PT cuidava dos municípios de 38 milhões de brasileiros. As prefeituras conquistadas até aqui somam apenas 6,1 milhões. A queda, amigos, é de 84%. E só há chances em outros 7 municípios no segundo turno.
Na vida concreta, fora de livros de acadêmicos em torres de marfim, longe da visão de jornalistas incapazes de entender o que eles próprios relatam e de estudantes repetindo roboticamente bordões de seus professores, o PT perdeu muito mais do que a mais anti-petista das projeções poderia imaginar.
Assim como a propensão da pessoa ao petismo se afasta quanto mais ela está apartada da puberdade prolongada em movimentos estudantis, o PT só consegue sobreviver em cidades minúsculas, com ligações tênues com o noticiário e a exposição de políticos ao público.
Tal como o ideário de esquerda dos petistas, houve antes no país outros prometedores de benesses aos pobres e até caçadores de ricos. Já tivemos Paulo Maluf. Já tivemos Fernando Collor, por mais que os jovens só os conheçam de ter ouvido falar pelos próprios professores de esquerda.
O PT, tendo de se refugiar no interior do país e mal conseguindo chegar ao segundo turno, está na verdade se escondendo da realidade, do próprio povo que tanto jura representar. Os únicos que se sentem representados são aqueles menos povo, já que o povo interpreta 2016 como o verdadeiro ano da melhoria do país.
O ocaso petista será se refugiar onde figuras ultrapassadíssimas e vergonhosas da política como Collor e Maluf se refugiaram: nos currais eleitorais perdidos no interior do país (ou de Universidades ideológicas) com alguns votos garantidos para figuras sobreviventes, como um Eduardo Suplicy ou os cumpinchas dos irmãos Viana.
Não se trata apenas de números, mas também de geografia e mentalidade. Os jovens, os jornalistas e os famosos não percebem o futuro, mas as eleições de 2016 o descortinam claramente: ter sido petista será considerado muito mais vergonhoso do que ter sido malufista ou collorido.
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