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Folha (e Independent, NY Post, Daily Mail…) caem em lorota pega-trouxa

A Folha de S. Paulo replica conteúdo sem checar as fontes e cai num boato hilário junto com dezenas de jornais de esquerda no mundo.

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Folha de S. Paulo acredita que CNN exibiu filme pornô.

Entender o que está acontecendo com o mundo exige jornalismo apuradíssimo. Sobretudo para escapar das mentiras divulgadas por outros jornalistas. A Folha de S. Paulo, seguindo a burrada propagada por jornais Folha-like no Primeiro Mundo, espalhou a notícia mais vexaminosa do ano.

Conforme já comentamos em nosso último podcast, a segunda entrevista com Alexandre Borges sobre as eleições americanas, a nova ameaça à liberdade de expressão no mundo chama-se fake news: uma forma que Mark Zuckerberg encontrou de conseguir censurar notícias que desagradem sua visão política.

Sites como Breitbart.com, o maior portal de notícias estudadas na América que não são mediadas pela cartilha de proibições dos discípulos de Hillary Clinton, já foram marcados como “fake news” no Facebook, para que ninguém que leia seus títulos de fato leve a sério o site. Assim, apenas notícias favoráveis ao Partido Democrata serão exibidas no Facebook como “verdadeiras”. É o Ministério da Verdade virtual se consubstanciando. Mark Zuckerberg, é bom lembrar, já está reinstaurando a censura por geolocalização para voltar a atuar na China comunista.

Há o risco deste Senso Incomum sofrer tal punição justamente por pesquisar mais. As premissas da marca de fake news, crendo que empresas e burocratas devem ditar a nós no que acreditar ou não, são o que teóricos hoje chamam (a sério) de post-truth, a “pós-verdade”, o que um editorial aberto publicado na Russia Today chamou, sem meias palavras, de Pussy Generation: where few people make sacrifices for truth.

Para provar que realmente poucas pessoas se sacrificam para buscar a verdade na era dos leitores de manchete™ (trademark deste Senso Incomum), um boato fabricado nos moldes “pega-trouxa” foi feito para jornalistas que não checam suas fontes caírem: o de que a CNN teria exibido 30 minutos de pornografia harcore por acidente durante a sua programação, com a estrela pornô travesti Riley Quinn. A exibição de meia hora de “pornografia hardcore” teria ocorrido por acidente ao invés da exibição do programa Anthony Bourdain: Parts Unknown, que ganharia todo um novo sentido se fosse verdade.

O boato foi feito apenas usando-se uma única conta no perfil do Twitter: @solikearose, codinome “Rose”, que enviou mensagens “indignadas” para o provedor de televisão a cabo RCN, afirmando que uma “pornografia hardcore” estava sendo transmitida na CNN em Boston acidentalmente em pleno dia de Ação de Graças.

Rose assiste pornografia na CNN acidentalmente.

CNN exibe pornô por acidente. Verdade?

A coisa seria facilmente desmentida: bastaria aos jornalistas, digamos, ligar a TV e assistir o que estava passando na CNN naquele momento. Obviamente que tal checagem de fatos (nessa época em que “fact-check” também só é usado para tentar denegrir Republicanos) é muito dolorosa e difícil para jornalistas. A tara por um furo (!!) falou mais alto.

Em pouco tempo, jornais como Independent (o principal nome do jornalismo de esquerda da Inglaterra, já que o Guardian está falindo), Mashable, The New York Post, The Daily Mail, Esquire, Variety e uma cambulhada de outros replicavam a notícia – que tinha como fonte uma conta no Twitter

Um dos primeiros a divulgá-la, na verdade, foi o Drudge Report, de Matt Drudge, famoso por ter descoberto o escândalo Monica Lewinsky. Apesar de se poder tentar culpar um site conservador pelo espalhafato, na verdade o Drudge, um dos sites mais acessados da América, funciona mais como um feed do que como um site com conteúdo interno.

https://twitter.com/DRUDGE_REPORT/status/802202970511151104

Fora o Drudge, como se vê, foram alguns dos maiores sites e revistas do mundo a divulgar o boato mongolóide. Não se trata de sites lidos apenas por militantes e escritos por líderes de torcida fazendo sua reserva de mercado. Não é algo como o blog da Socialista Morena falando a seus leitores. Era o New York Post. Para quem nota a diferença.

Alguns sites já correram para retirar os tweets e divulgação do ar. Outros, espertos, fizeram atualizações, colocando um ponto de interrogação após seus títulos ridículos. Uma busca simples por “CNN porn” no Twitter ou no Google ainda rende os mais espetaculares resultados, como compilado pelo Mediaite, rindo da cara de todos:

Google CNN porn

Como costumamos dizer, isto se deu pela autofagia jornalística: jornalistas só lêem jornalistas. Acreditam que algo só é real se outro jornalista a posta antes. Fontes seguras, mas não gabaritadas pelo jornalismo, não são dadas como “verdadeiras”, ou mesmo como confiáveis. O telefone sem fio não tem fim.

Foi assim com fontes do porte de Washington Times e Independent caíram na lorota pega-trouxa, acreditando (e replicando) o que outros jornais que caíram na lorota pega-trouxa acreditaram. Tudo com uma única conta no Twitter como fonte. Há mais um exemplo de trouxa, claro, que caiu e replicou a lorota: a Folha de S. Paulo:

Folha de S. Paulo acredita que CNN exibiu filme pornô.

Folha de S. Paulo acredita que CNN exibiu filme pornô.

Não custa lembrar, pela zilionésima vez, que The Independent, New York Post et caterva são aquelas fontes de todos os jornalistas brasileiros para falar do que acontece além de nossas fronteiras. Sobretudo a própria CNN, praticamente a única fonte, junto ao New York Times, de toda a Rede Globo. O que dirá a Folha de S. Paulo e sua crença progressista já ultrapassando as fronteiras do petismo dilmista deiscarado.

Agora é onde a história começa a complicar. Tais pessoas, como aqueles no The Verge, riram do boato que criaram porque queriam provar que é assim que as tais fake news se espalham: sem fontes. A tal “boatocracia” que tanto denunciamos. Para eles, isso provaria que é preciso censurar sites no Facebook com a flag #fakenews.

O grande problema: uma rápida pesquisa pelo Google ou Twitter, e a Folha de S. Paulo que o diga, mostra que, fora o feed do Drudge Report, foram os veículos de esquerda que mais deitaram e rolaram na notícia. Pior: acabaram provando que a tal fonte de toda a verdade, a CNN, nem sequer é assistida (fora os alienados de Manhattan, quem leva a Clinton News Network a sério?), nem mesmo por aqueles que a defendem.

Se querem mesmo criar o Ministério da Verdade Virtual em nível global, se querem mesmo marcar quem não gostam como “fake news”, uma investigação simples (vide os tweets acima) mostra que 90% de quem mereceria tal rótulo seria… a esquerda mundial, com a maior parte da direita apenas replicando uma manchete (e olhe que a verdade-sem-fontes era a CNN, assistida em todo mundo, inclusive no pacote NET do Brasil).

Este é o perigo representado no mundo hoje pelos leitores de manchete™, gente que cria toda uma visão metafísica na sua cabeça apenas com os sentimentos que lhes são desencadeados ao lerem manchetes, sem ler textos.

Alguém aí pensa em marcar o New York Post, o Independent, a Esquire, o Washington Times e, claro, a Folha de S. Paulo como “fake news”, ou apenas os sites que não compactuam com o Partido Democrata e, quod erat demonstrandum, pesquisam mais para entregar informações mais sólidas e ancoradas a seus leitores, merecerão a Marca da Censura?

E cá entre nós: você espera mesmo que alguém nestes grandes veículos milionários de mídia pesquisem como nós fazemos antes de sair divulgando o que foi que aconteceu porque outro jornal disse que aconteceu?

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Assuntos:
Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs". Tem passagens pela Jovem Pan, RedeTV!, Gazeta do Povo e Die Weltwoche, na Suiça.

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