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Esquerdismo

Se brancos impedissem negros de fazer “apropriação cultural”, eles não poderiam nem ir ao banheiro

A tese da apropriação cultural assenta-se sobre um pressuposto ultra-racista: que cada cultura se isole em guerra tribal contra as outras.

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Apropriação cultural racismo e imbecilidade

A última moda entre frescurentos de Facebook, que aprendem revolução em faculdades de extrema-humanas, é acusar brancos de praticar apropriação cultural quando estes utilizam algo da cultura negra. O que até a sadia era pré-Twitter era prova de não ser racista, agora “ofende” supostos negros usuários de internet e outras drogas mais pesadas, incluindo ciências sociais e Porta dos Fundos.

Seria apropriação cultural usar dreadlocks no cabelo ou turbante na cabeça. E seria apropriação cultural ouvir rap. Outras formas de apropriação cultural não costumam ser elencadas no balaio e não viram ensejo para chiliques porque alguns negros dependem delas, como comprar artesanato com cores da bandeira da Jamaica em feiras hippie.

São comportamentos que mostrariam que brancos, em países de clara (ops!) integração como América e Brasil, respeitam e até tomam para si contribuições culturais dos negros. Há brancos que acreditam em orixás e comem acarajé, e isso sempre foi motivo de orgulho para vários negros que comungam de tais culturas (no plural). Mas, para um pensamento achatadíssimo, que enfiou toda a complexidade da realidade no funil do machismo-homofobia-racismo (para logo chamar de “fascismo” justamente o que é seu perfeito oposto), é preciso encontrar evidências de “racismo” por aí justamente onde elas menos são prováveis (se não inventassem essas coisas, como alguém conseguiria continuar sendo de esquerda nesta década?). Os escolhidos para serem imolados no altar do sacrifício desta vez foram justamente os brancos que mais demonstram respeito e admiração pelos negros e sua cultura.

O modus operandi é racistíssimo: crê não apenas que cor de pele é “raça” (uma impossibilidade absoluta no país da miscigenação) e que culturas são definidas por tais cores (qualquer cultura transcende um indivíduo e um povo), como ainda ordena que cada suposta “raça” aja acorrentada aos liames do que seus próprios antepassados genéticos produziram, sem transcender um milímetro.

A tese da “apropriação cultural” seria então um suicídio da esquerda, uma última tentativa desesperada de gritar “Racismo!!!” para um mundo que cada vez mais está se lixando para raças. Afinal, ao levar a tal perigosíssima apropriação cultural a sério, o que sobraria para os negros aproveitarem da cultura ocidental, essa cultura supostamente “branca”?

Das universidades aos antibióticos, da filosofia ao avião, do alfabeto latino ao Facebook e seus textões, das grandes navegações à universalidade de direitos, da cerveja ao microfone que o Carlinhos Brown usa (sem falar na escala ocidental e na representatividade política), tudo isso, se for visto pela imbecil ótica da cor da pele, foi inventado por “brancos”.

Como é que negros, falando português ou inglês (línguas européias), postam no Facebook (inventado por um judeu, parte de um povo outrora perseguido e escravizado por africanos no Egito), usando notebooks (inventados por brancos) que estão ofendidos porque algum branco fez dreadlocks (essa palavra é do yorubá ou do zulu?!?) no cabelo, e portanto deve sofrer sanções políticas (invenção grega) por isso? A própria idéia de “racismo” é um constructo intelectual “branco”, devidamente apropriado por aí.

Se cada cultura ficar em seu quadrado, não sobrará aos negros, ainda mais aos brasileiros, muito além de cantar funk (mas rebatizem a parada) e negociar escravas sexuais tomadas de outras tribos, que por ventura poderão ser vendidas a algum espertalhão eurodescendente. É exatamente isso o máximo que a esquerda tem a oferecer aos oprimidos hoje em dia. Se os racistas da segregação racial exigiam que negros ficassem de pé no fundo do ônibus, os racistas negros da apropriação cultural exigirão que os negros… fiquem sem ônibus.

A estupidez é tão estúpida que ultrapassa as raias de qualquer ridículo anteriormente proposto por comunistas e progressistas para explicar o mundo, até a propaganda anti-colonial (que crê até hoje ser terrível que a Inglaterra tenha dado suas maravilhosas leis a quem resolvia conflitos tribais no tacape antes delas) ou o estupidíssimo “multiculturalismo”, pronto para transformar várias culturas em uma única, em nome da “variedade”: como não notar a incongruência de acusar alguém de “apropriação cultural” e defender o multiculturalismo na linha seguinte? E quer apostar quanto que os racistas 2.0, de fibra óptica em mãos, acham racista o veto de imigração a países muçulmanos que querem islamizar a América? A capacidade de extrair uma conclusão coerente de duas premissas básicas evaporou-se de mimizentos de 140 caracteres.

O desespero com um grito incongruente, a ser repetido por modistas abobalhados incapazes de trabalhar dois bites de informação no cerebrinho, é confessado pela preocupação gritante com brancos que usam turbantes (uma invenção persa, definitivamente imperdível para a humanidade como vamos viver sem essa merda?). Por que os patrulheiros e guerrilheiros da justiça social não gritam contra “apropriação cultural” quando brancos admiram Machado de Assis, Thomas Sowell, Cruz e Souza, Santo Agostinho, Lima Barreto, Walter Williams, Gonçalves Dias, Derek Walcott? Será que esse negócio de ler é muito “branco” para a mimimisofera de plantão?

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Assuntos:
Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs". Tem passagens pela Jovem Pan, RedeTV!, Gazeta do Povo e Die Weltwoche, na Suiça.

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