Você deve defender Danilo Gentili mesmo que o odeie. Amanhã será com você.
Você achou a atitude de Danilo Gentili desrespeitosa? Então cogite por 5 minutos viver em um mundo onde somos obrigados a respeitar políticos.
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Lembre-se da polêmica recente envolvendo Danilo Gentili e Maria do Rosário. Você é contra Danilo Gentili ou a favor? Tomar partido sobre qualquer um envolve antes uma ideologia que nada tem a ver com o que tenha ocorrido entre os dois. Trocando-se a forma da pergunta, mas mantendo o seu conteúdo, e ainda aplicado, temos: você é a favor da censura? Aqui, todos tendem a ser unânimes. Mesmo sem notar que a questão permanece a mesma.
A “lógica” da deputada Maria do Rosário é defender quem cospe numa mulher (José de Abreu) e quem seqüestra uma mulher, a estupra seguidas vezes até destruir sua vagina, mata seu namorado com um tiro de espingarda na nuca e depois a mata lentamente, a facadas, em outra sessão de estupro no meio do mato (Champinha), mas criticar os “machistas valentões”, dizendo que seu lugar é na cadeia.
Danilo Gentili fez troça dessa lógica, apontando sua incoerência. Se não podemos apontar incoerência de políticos, e não podemos nem sequer fazer troça de políticos, podemos afirmar categoricamente que vivemos numa ditadura, com forte censura para proteger os poderosos.
Maria do Rosário, que defende cusparada em uma mulher, que defende um estuprador, seqüestrador, torturador e assassino de uma mulher, acha que Danilo Gentili cometeu um crime ao apontar tal incoerência e que não se pode fazer troça de tal, digamos, pensamento. E enviou uma notificação extrajudicial a Danilo Gentili supondo ser crime apontar incoerência de políticos e fazendo troça dos desvãos de suas sinapses.
O humorista não teve dúvida: abriu o envelope, picou o pacote, esfregou o papel em suas (dele) nozes e o mandou de volta (tudo filmado, documentado e eternizado). Isto foi a “polêmica”: um humorista que faz humor com políticos. Um humorista que não aceita a censura, o uso do poder político por um deputado para silenciar vozes que apontem sua incoerência e façam troça do caminho torto de seus raciocínios.
Imediatamente, a internet sacou o pensamento mágico, a crença pré-histórica, supersticiosa e obscurantista de que se pode transformar uma coisa em outra apenas usando uma palavra mágica para trocar o seu significante, querendo assim transformar também o seu significado.
O ato de Danilo Gentili se tornou um “ataque”. Não se falava em uma deputada usando o poder político para fazer censura, mas se escolhia bem o termo: “uma mulher”. Pessoas que se consideram “livres pensadoras” e “críticas” imediatamente compraram o discurso pronto, sem trocar uma vírgula e nenhuma palavra, e consideraram que a censora era uma vítima, e o censurado, um agressor. Abracadabra.
Note-se: Maria do Rosário não acionou o Judiciário para reclamar um direito que considerava possuir (o direito de calar uma voz dissonante, alegando ter sido prejudicada perante um juiz). Maria do Rosário usou o poder da Corregedoria da Câmara dos Deputados, órgão legislativo, sem recorrer a um juiz que pudesse aplicar a lei. E em causa particular: não era algo que afetasse o funcionamento da Câmara, mas sim algo que apontava a sua incoerência (de Maria do Rosário sozinha, não da Câmara), e fazia troça da sua (de Maria do Rosário) inabilidade em formar um todo coerente em suas declarações, atos e objetivos.
Bastou dizer que era o ataque a uma mulher para que farândolas de ideólogos de 140 caracteres na internet saíssem à caça de “machistas” e “misóginos”, esquecendo de se perguntar quantos defenderam Janaína Paschoal, Rachel Sheherazade ou qualquer mulher de direita, para saber se feminismo (e acusações de “machismo”) têm foco em ser mulher ou em ser de esquerda.
Ninguém saiu à caça de algo incrivelmente mais perigoso: políticos censores, não importando sua genitália. Ou se ter um comportamento que feministas considerem “machista”, sem nenhuma definição clara, é mesmo crime.
O argumento é sempre o mesmo: defendem a liberdade de expressão, mas não se pode usar a liberdade de expressão para ofender alguém (que outra coisa Maria do Rosário poderia alegar, além de se sentir “ofendida”?), geralmente com outro destaque pouco sutil para a suposta vítima: “uma mulher”.
Que tal usar outro gênero para tal espécie? Por exemplo: “não se pode usar a liberdade de expressão para ofender um político”. Como soa a frase? Bela e moral? Um monumento à liberdade e ao convívio cidadão? Parece coisa de quem bate no peito para gritar: “lutei contra a ditadura”?
Será que então não podemos ofender Eduardo Cunha? Jair Bolsonaro? Michel Temer? Ou, curiosamente, esta “lógica” supostamente elevada, universal e praticamente científica só vale quando o político é de esquerda?
É exatamente assim que funciona a censura. Alguém acredita que um belo dia, o presidente sozinho acorda de mau humor e decreta: “Está proibido falar mal de políticos”? Muito pelo contrário: a censura vem de baixo, paulatinamente, cozinhada em banho-maria.
Primeiro, um político de segundo ou terceiro escalão se ofende com alguém. Este alguém, nitidamente, tem de ser alguém polêmico: alguém que uma parte do público vai criticar, ainda que diga que 2 e 2 são 4.
O foco nunca será no fato, mas na pessoa a ser censura. “Olha, ela foi desrespeitosa!”, “Não podemos usar da nossa liberdade para falar palavrão em público”, “Veja essas roupas, que falta de respeito”, “É alguém que não tem a dignidade da política” e outras quinquilharias de moralismo vetusto e mofado.
Através do desejo mimético (macaquinho vê, macaquinho faz), a militância vai copiando o discurso ipsis litteris, sem se dar conta de que está apoiando um censor. Criando costumes, normas e logo jurisprudência (e logo mais, leis) para impor a censura. E logo o povo estará apoiando a censura, em nome do “respeito”, da moral e dos bons costumes, da divindade dos políticos etc.
É esta moralidade feita para silenciar os humoristas, os críticos sardônicos, os jornalistas cáusticos, as investigações intempestivas que gera uma cultura de censura, que precede a censura. É um moralismo ideológico, mais violento, cruel e cego do que qualquer moralidade tradicional: é força bruta contra quem aponta incoerências, e faz troça de sua inépcia em perceber o que deve ser punido com o rigor da polícia (por exemplo, um estupro, ou pelo menos o cuspe em uma mulher) daquilo que deve ir para a alçada do argumento, ou da revisão de seu, digamos, silogismo.
É fácil dizer que Danilo Gentili foi “desrespeitoso”. Mas devemos respeitar censura? Ou é quase uma obrigação moral não respeitar o cerceamento à liberdade de expressão e de apontar a incoerência de políticos, e fazer troça de suas tentações tirânicas, enquanto protegem cuspidores, sequestradores, estupradores, torturadores e degoladores?
É tentador dizer que Danilo Gentili, ao esfregar uma tentativa de censura via uso da máquina pública nas nozes, é “machista”. Mas queiram as feministas ou não, não há tal “crime” no Código Penal – e nem deve ser o “machismo” uma norma ou costume a definir o que pode ou não ser dito, já que feministas consideram que “machismo” vai desde estupro (o que Maria do Rosário nem sempre condena) até abrir a porta do carro ou pagar a conta para uma mulher. Quem ficaria fora da cadeia?
https://twitter.com/JOAQUINVOLTOU/status/827224015701950465
Não adianta apelar para o pensamento mágico e considerar que basta gritar “Machismo!” para algo se tornar crime. Então Jean Wyllys pode passar uma notificação no saco se ela vier de Jair Bolsonaro, mas se Jair Bolsonaro tiver o mesmo comportamento em relação a Jean Wyllys, então aí deve ser crime? Como não considerar tal “lei” ou norma ditatorial?
É fácil censurar quem não gostamos, sacando o pensamento mágico e imputando adjetivos socialmente negativos ao censurado (“machista! misógino! sexista! taxista! hidrofóbico! acrofóbico!”). Mas se um político de que gostamos pode fazer isso com alguém de quem não gostamos, logo logo um político de quem não gostamos pode fazer isso com quem não gostamos. E aí, vamos dizer que só aquela pessoa tem o direito de desrespeitar um político?
Aliás, em que realidade paralela um país é bom quando se é obrigado a respeitar políticos?!
(os adjetivos são tão repetidos que sempre seguem a tríade machismo-homofobia-racismo, fazendo com que boa parte dos críticos de Danilo Gentili gritasse automaticamente que ele não pode ser defendido por ter sido “machista e racista”, como se Maria do Rosário não fosse branca e de olhos azuis.)
O suposto “desrespeito” de Danilo Gentili é algo até normativo no humor. Como escreveu o Implicante, a técnica é de fazer um absurdo, como esfregar uma notificação extrajudicial nas castanhas, para fazer o público enxergar outro absurdo bem maior: o uso da máquina pública por uma parlamentar para censurar alguém que apontou sua incoerência e fez troça de sua defesa de um seqüestrador, estuprador, torturador e degolador (note-se que “machismo” não é uma palavra aplicada justamente para a maior violência que uma mulher já sofreu neste país).
Ou seja, justamente a incoerência que Maria do Rosário volta a praticar neste exato ato contra Danilo Gentili.
“Ah, mas então é lícito que alguém ofenda outra pessoa?!” Sim, só isso é liberdade de expressão. Permitir apenas elogios até Hitler permite. Só há liberdade de expressão se há liberdade de ofender. E como disse John Stossel, quando se ofender dá poder político, as pessoas tendem a se ofender mais facilmente.
Não é surpresa notar que quem acredita no pensamento mágico, na linha seguinte (ou na caixa de comentários deste artigo) estará chamando pessoas de direita de racistas, fascistas, nazistas, homofóbicas e demais xingamentos. Aí, o “desrespeito”, a “agressão” e a injúria deixam de ser crime para se tornarem método.
O poema já dizia que primeiro vieram pelos judeus, e eu não fiz nada, pois eu não era judeu. E depois os eslavos. Os comunistas. Os católicos. Os protestantes. Etc etc. E quando vieram por mim, não tinha ninguém para me defender.
A censura hoje parece mero justiçamento, quando não se gosta de Danilo Gentili. A julgar a inabilidade da esquerda em conquistar apoio popular, além de sua retórica sempre hiperbólica, é suicídio que esquerdistas se aventurem a criar costume, norma, jurisprudência e lei para políticos censurarem aquilo que consideram “desrespeitoso”.
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