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Política

Mourão começa errando terrivelmente ao aceitar o novo cargo do seu filho

O filho do general Mourão pode ter toda a competência técnica para ser assessor do presidente do Banco do Brasil – mas não é hora para gerar desconfiança

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General Mourão

O general Hamilton Mourão (PRTB), vice-presidente da República, reagiu de péssima maneira à polêmica envolvendo a promoção de seu filho a assessor do presidente do Banco do Brasil. Foi um gesto no mínimo impensado: Mourão apontou para as credenciais técnicas de seu filho, quando, na verdade, ninguém as discutia (nem mesmo a mídia e a esquerda, tão ávidas em crucificar qualquer colarinho mal engomado no governo Bolsonaro).

O general Mourão, curiosamente, já deu um excelente exemplo de gestão antes mesmo de assumir o cargo. Descobriu que tinha direito a 140 assessores (sic). Achando um absurdo, decidiu que teria no máximo 30. A resposta da lei? Não pode. Tem de ter um mínimo de 65 (sic).

Ou seja, o próprio general Mourão tem plena consciência da pedregosa questão dos cargos comissionados, feitos via nomeação, no Brasil. Então, não é preciso envidar demasiados esforços para explicar que o cargo do seu filho, nomeado assessor do presidente do Banco do Brasil bem agora, levanta os sobrolhos de desconfiança da mesmíssima forma.

Em tempo da guerra de narrativas, da infowar determinando no que a população irá acreditar, não basta ser honesto: tem de parecer. Ora, de fato, o filho de Mourão parece ter a credencial para o cargo. Mas por que o presidente do Banco do Brasil quer o filho do vice-presidente da República como assessor bem agora? Ainda mais uma estatal que está na mira das privatizações, e que pode ter suas contas abertas contra a vontade de seus antigos diretores.

Não é questão apenas de aparência: um cargo gigantesco como a vice-presidência exige um aprumo e um decoro corretamente exagerados. Muitas coisas legais, e que nem são exatamente imorais, devem ser evitadas, simplesmente para evitar falação. Se você precisa se explicar, você já errou, antes mesmo de ter errado de fato.

E, nunca é demais lembrar, o eleitorado de Jair Bolsonaro, incluindo o grosso de seus apoiadores nas redes sociais, não trata Bolsonaro como “mito” da mesma forma que um petista trata Lula como um deus incarnado: Bolsonaro é honrado por representar uma mudança de hábitos e de política, e não por supostamente multiplicar pães e peixes no Nordeste com um dinheiro odebrechtiano só porque ele merece. Pelo contrário: os eleitores de Bolsonaro, inclusive o próprio presidente, são os primeiros a reclamar de algo até legal e lícito, mas que gera desconfiança.

https://twitter.com/tomfm_/status/1082771260982132736

https://twitter.com/DanyelaLLopes/status/1082760832956674049

Mourão tem muito mais a ganhar com o povo, sobretudo seu próprio eleitorado, se criticar a indicação de seu filho. Por mais méritos que ele possua, a era PT acabou e nossa régua moral não é mais comparar tudo ao pior período da república brasileira. Seu filho, pode ser que infelizmente, tenha de esperar.

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Assuntos:
Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs". Tem passagens pela Jovem Pan, RedeTV!, Gazeta do Povo e Die Weltwoche, na Suiça.

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