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Não era sem tempo quebrar o sigilo de Flavio Bolsonaro e Fabrício Queiroz

Os eleitores de Flávio Bolsonaro são os mais interessados na investigação sobre Queiroz: não agem como os petistas defendendo Lula livre

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Fabrício Queiroz e Flávio Bolsonaro

Flávio Bolsonaro, o primeiro filho de Jair Bolsonaro, o presidente, foi pivô da primeira crise do governo: a descoberta pelo Coaf (hoje tentando ser fortalecido pelo próprio governo, enquanto setores do establishment querem afastá-lo de Sérgio Moro, o ministro da Justiça) de transações estranhas de seu motorista, Fabrício Queiroz, que tinha a família inteira loteada em seu gabinete.

Jair Bolsonaro, que foi eleito com a plataforma contrária à corrupção, se viu com a imagem manchada graças ao filho, que não deu explicações sobretudo a quem mais deveria: ao seu próprio eleitorado, que tanto elogiou e defendeu seu pai de uma tempestade diária da grande mídia e, ao contrário dos petistas, nunca coadunou com corrupção “dos seus”, querendo investigação sobretudo dos próprios políticos nos quais vota.

O STF decidiu não prosseguir com as investigações, e este Senso Incomum, que defendeu o voto em Jair Bolsonaro, lembrou que Flávio Bolsonaro ainda devia explicações a seus eleitores, mesmo que a Justiça não quisesse. Na ocasião, escrevemos:

O imbróglio Queiroz recebeu uma boa resposta do presidente: Jair Bolsonaro disse que esperava pelas explicações, e que cortou relações com o antigo amigo da família enquanto elas não apareciam.

Flávio Bolsonaro, talvez pela proximidade, não fez o mesmo. Claro que há exageros (Queiroz é usado agora como “prova de corrupção” até mesmo do próprio Flávio Bolsonaro, justamente pela esquerda que não enxerga as razões para o impeachment e a prisão de Lula… e de tudo quanto é petista preso), e talvez uma prévia de explicação que não foge a algumas esquisitices.

Como negociante de carros, seria “normal” comprar e vender um carro, digamos, de valor próximo a R$ 80 mil por mês, e chegar a uma movimentação próxima de R$ 1,2 milhões (600 de entrada, 600 de saída) com pouco mais do que uma venda por mês, sem tanto lucro retido. Entretanto, quem é do ramo diz que, na prática, apenas as concessionárias conseguem tal número de vendas – e o mais estranho permanece: por que as movimentações se davam sempre próximas da data de pagamento da Alerj, e por que outros funcionários do gabinete de Flávio Bolsonaro faziam depósitos quase religiosamente cronometrados para Fabrício Queiroz?

Além de tudo, a filha de Fabrício Queiroz, Nathalia Queiroz, a personal trainer que tirava fotos com personalidades em horário de expediente e que, descobriu-se, não teve nenhuma falta computada na Alerj no período, continua sendo uma granada sem o pino. Ainda mais do que a conta bancária de Queiroz, sua relação com a Alerj (fora sua própria contratação, junto a outros membros da família de Queiroz) recai na esfera de responsabilidade do próprio Flávio Bolsonaro.

A mídia, obviamente, faz de um limão um Oceano Pacífico de Ciroc Lemon Martini. Basta lembrar das infantis threads que a Folha de S. Paulo está fazendo, agora que descobriu que a função do jornalismo é criticar o governo, e não succioná-lo e perguntar se também quer uma massagem. Enquanto os assessores de petistas (assessores ainda no cargo) com somas que chegam a ser quase 30 vezes maiores são ignorados, de repente todo o jornalismo trata um assessor como o maior escândalo desde Cabral (com o petrolão, sempre relativizado pela mídia, fresquinho na memória).

Flávio Bolsonaro, hoje senador, acabou não dando as explicações necessárias. Pessoas que votaram em Bolsonaro (Jair e o próprio Flávio) por enxergar neles uma possibilidade muito maior de luta contra a corrupção não irão negar fatos, caso sejam apurados, como o próprio presidente já declarou, não importando quais sejam os avanços do governo atual na luta contra a corrupção (basta pensar que o Ministério da Justiça, que já foi de Renan Calheiros e Aloysio Nunes com FHC, Tarso Genro com Lula e José Eduardo Cardozo com Dilma, hoje está nas mãos de Sérgio Moro). Aliás, exatamente por conta de tais avanços.

Eleitores de Bolsonaro são críticos ao governo não porque a gestão Bolsonaro é pior do que Lula e Dilma (nada mais longe da verdade), mas porque o eleitor de Bolsonaro (qualquer um deles) apenas os enxergam como instrumentos para um ideal, e não como semi-deuses intocáveis, mesmo com a alcunha de “mito”. Até agora, ninguém apareceu defendendo Flávio Bolsonaro e Fabrício Queiroz como petistas defendem de Lula a José Dirceu e Celso Daniel. Ooops. Estes eles juram que está tudo esclarecido e não precisamos investigar nada (o mesmo agora é aplicado a Marielle Franco).

Se Flávio Bolsonaro não deu explicações, faz sentido quebrar o seu sigilo e o de Queiroz. Que a verdade dessa história venha à tona.

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Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs". Tem passagens pela Jovem Pan, RedeTV!, Gazeta do Povo e Die Weltwoche, na Suiça.

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