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Adeus, Kobe

Kobe Bryant herdou uma liga incerta com a aposentadoria de grandes jogadores

Com o fim da carreira de ídolos como Hakeem Olajuwon, Clyde Drexler e Michael Jordan, o maior de todos os tempos, Kobe Bryant deu conta da difícil tarefa de continuar o legado da liga

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Ontem, dia 26 de janeiro, o mundo do esporte perdeu um dos seus maiores nomes. Kobe Bryant, 41, morreu num acidente de helicóptero junto com outras 8 pessoas, entre elas, sua filha Gianna, de 13 anos. É uma tragédia familiar aterradora. Kobe estava indo a um ginásio onde iria treinar o time da filha.

Kobe havia se aposentado em 2016, depois de vinte anos dedicados ao basquete profissional. No seu jogo de despedida fez 60 pontos contra o Utah Jazz. Kobe foi um dos maiores jogadores da NBA, a liga de basquete americano.

A NBA é uma das ligas mais bem sucedidas de todos os esportes. Seus astros são conhecidos no mundo todo. Cada geração cria não uma, mas várias lendas. Comecei a acompanhar a NBA no fim dos anos 80. Era o tempo de Magic e Bird e os maravilhosos times de Boston e Los Angeles. Vi o Detroit Pistons, com Isiah Thomas e Joe Dumars, assumir a liderança de uma liga em transição, quando um jovem em Chicago começava a voar tão alto que até hoje ninguém chegou perto. Michael Jordan. 

A carreira de Jordan é, numa das ligas mais competitivas do mundo, a mais brilhante e uma das mais vitoriosas. Seis títulos da NBA, ganhando o MVP (most valuable player) – que é o prêmio de melhor jogador – das finais em todos. Jordan é um fenômeno único. Sua vontade de vencer era rara até entre vencedores. 

Atrás de Jordan, uma legião de estrelas ajudou a popularizar a liga em todo mundo: Karl Malone, Pat Ewing, Isiah Thomas, Charles Barkley, Clyde Drexler, Hakeem Olajuwon, David Robinson, John Stockton, entre outros. O Dream Team, que foi à olimpíada de Barcelona, em 1992, era tão impressionante que não pôde ficar na vila olímpica por causa do assédio dos outros atletas.

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Kobe entra na NBA, vindo direto do High School*, numa época de incertezas com a iminente aposentadoria dos grandes astros, como Drexler, Olajuwon e o próprio Jordan. A difícil tarefa de continuar o legado de alguém como Jordan caiu nos ombros de Kobe. E ele soube levar esse fardo tão bem que é tratado como o Jordan da sua geração. Kobe estudou os movimentos de Jordan e tinha o mesmo ímpeto pela vitória. 

Ganhou cinco títulos, sendo o MVP em dois deles. Sua carreira tem curiosidades. Kobe vence os três primeiros títulos com outra lenda do esporte, Shaquille O’Neal. Quando Shaq sai dos Lakers, Kobe trocou de número: do 8 que jogou na Itália, para o 24 que usava no High School. Mudou seu estilo de jogo. Com a camisa 8, seu jogo era mais físico, explosivo, voltado para o ataque; com a 24, assumiu um estilo mais defensivo, cerebral e muito competitivo. Sem ninguém para dividir o protagonismo, Kobe  vence mais dois títulos.

Os Lakers são a segunda franquia mais vencedora da NBA, atrás do Boston Celtics, e Kobe, superando Magic Johnson, outra lenda de Los Angeles, é sua maior estrela. Os dois números de Kobe nos Lakers estão aposentados.** Além disso, foi duas vezes campeão olímpico e esteve em dezoito edições do All-Star Game, o jogo das estrelas da NBA.

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No último sábado, Kobe foi ultrapassado por LeBron James no ranking de maiores cestinhas da liga. Kobe fez 33.643 pontos na carreira. Numa única partida fez 81 pontos, a segunda maior marca da liga. Uma marca extraordinária.

Kobe Bryant passou a infância na Itália, onde conheceu Oscar Schmidt, que jogava com seu pai, Joe. Lá, se apaixonou também pelo Futebol. Em todo o mundo, futebolistas prestaram homenagens ao ex-jogador dos Lakers.

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Kobe tinha um senso do legado humano. Em várias entrevistas ele dizia que seu papel era contar histórias que ajudassem as próximas gerações. Era um homem de família, católico, e estava animado com a paixão da filha pelo basquete. 

O mundo do esporte perde uma lenda que acabara de se aposentar e preparava-se para encarar uma nova rotina. Kobe ganhou um Oscar de animação com uma história sua.

“Sempre me disseram que a única expectativa a se ter de um atleta de basquete é jogar. Faça apenas isso. Não pense em finanças, negócios ou escrever. Mas sempre quis ser um contador de histórias quando deixasse as quadras. A indicação é uma validação para mim. Uma forma das pessoas notarem que posso fazer mais do que jogar basquete”, disse Kobe, numa entrevista ao site The Undefeated.

O esporte é uma das manifestações culturais mais populares nos dias de hoje. Cada atleta conta uma história belíssima de vida: das dores, das alegrias e de como superar as frustrações para se tornar um vencedor. E poucos merecem o rótulo de gênio do esporte. O craque do Lakers é um desses.

Obrigado, Kobe. Descanse em paz com sua Gigi!

* Nos Estados Unidos, os jogadores passam pelas ligas universitárias antes de ir para as ligas profissionais. Ir direto do colegial para uma liga profissional é muito raro.

**  É uma tradição nas ligas americanas a aposentadoria das camisas do seus grandes craques. Depois que uma camisa é aposentada nenhum outro jogador pode utilizá-la. 

P.S. Espero que esse tipo de texto seja menos frequente aqui. Terry Jones, Roger Scruton, Neil Peart e Kobe Bryant, além do belo texto do Luciano Oliveira sobre o Christopher Tolkien, já foram demais.

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Assuntos:
Carlos de Freitas

Carlos de Freitas é o pseudônimo de Carlos de Freitas, redator e escritor (embora nunca tenha publicado uma oração coordenada assindética conclusiva). Diretor do núcleo de projetos culturais da Panela Produtora e editor do Senso Incomum. Cutuca as pessoas pelas costas e depois finge que não foi ele. Contraiu malária numa viagem que fez aos Alpes Suiços. Não fuma. Twitter: @CFreitasR

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