Carta de Einstein revela anti-semitismo nos EUA na década de 30
Correspondência recém descoberta mostra que o cientista sofreu com anti-semitismo "especialmente na academia" e descreve fenômeno como "inimigo onipresente"
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Uma carta escrita pelo físico mais famoso do mundo, o alemão Albert Einstein, revela um pouco do anti-semitismo velado – especialmente no ambiente acadêmico – que Einstein e outros judeus enfrentaram nos EUA após fugir da Alemanha nazista.
Escrita em 1936, de próprio punho e em alemão, a carta é uma resposta de Einstein ao pianista austríaco Bruno Eisner, também judeu e recém fugido da Europa, que gostaria de saber como era a vida nos EUA.
“Existe aqui um tremendo (grau de) anti-semitismo, especialmente na academia (embora também na indústria e no setor bancário). Veja bem, isso (o anti-semitismo) nunca assume a forma de um discurso ou ação brutal, mas, ao contrário, fermenta, ainda mais intensamente, sob a superfície. É, por assim dizer, um inimigo onipresente, impossível de ver, (cuja presença) você apenas sente.”
Em dado momento, o inventor da teoria da relatividade fala sobre a dificuldade de encontrar trabalho no meio acadêmico. “Não sou informado (de uma vaga de trabalho) mesmo quando se trata da minha especialidade”, escreveu o cientista.
Como exemplo desta dificuldade, Einstein contou a história de um de seus assistentes:
“Só preciso dizer que meu jovem assistente, com quem trabalhei com sucesso por dois anos, se estabeleceu na Rússia há dois meses, porque não havia oportunidades por aqui. ”
A carta, escrita quando Einstein morava em Princeton, Nova Jersey, vários anos após a ascensão nazista ao poder, lança luz sobre o anti-semitismo enfrentado pelos judeus que viviam na América na época. Embora incomparável em escala, o padrão preocupante de marginalização e discriminação perseguiu Einstein e outros judeus que chegaram à América.
Eisner já estava em Nova York na época da carta e acabou tendo sucesso no cenário da música clássica americana, tendo consolidado carreira como pianista e professor de música. O pianista morreu aos 94 anos em Nova York.
Quando os nazistas começaram a marginalizar os judeus que já ocupavam posições de destaque na Alemanha, Einstein foi um dos alvos e teve sua teoria rejeitada e tachada como “física judaica”.
A peça histórica será leiloada em Israel, nesta terça-feira (23), pela casa de leilões Kedem, com lance mínimo de US$ 10 mil.
“Esta carta lança luz sobre um aspecto menos conhecido da vida de Einstein nos Estados Unidos”, disse Meron Eren, CEO e cofundador da Kedem. “Na época, o anti-semitismo nos Estados Unidos foi em grande parte ofuscado pelo Holocausto e pelos milhões que morreram na Europa.”
“Esta carta serve como outro lembrete importante de que as sociedades liberais não são imunes a esta doença e que devemos estar sempre vigilantes contra qualquer forma de racismo”, concluiu Eren.
Imagem: Einstein recebe das mãos do juíz Phillip Forman o certificado de cidadão americano (out/1940). Crédito da imagem: Al. Aumuller (Domínio Público) Com informações de Jerusalem Post