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História

Exército Vermelho libertou Auschwitz – mas só depois de matar 22 mil poloneses

A Operação Salva-Stalin prossegue na esquerda brasileira que acha que os soviéticos eram o Exército da Salvação sobre Auschwitz – mas se não fossem os comunistas, os poloneses teriam vencido os nazistas antes

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Auschwitz, Polônia

A galera “eu estudei História”, que vive de clichês que todos nós sabíamos repetir desde os 12 anos sobre o século XX (e que dificilmente preenchem um parágrafo de 5 linhas), está entusiasmada em prosseguir com a Operação Salva-Stalin, atualmente em marcha acelerada no Brasil.

Aproveitando-se do dia em que o campo de concentração de Auschwitz foi libertado, esquerdistas resolveram passar um dia sem disfarçar que são comunistas defensores da ditadura do proletariado e partiram para a exaltação da União Soviética, do Exército Vermelho e de Stalin.

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https://twitter.com/Lakus78I/status/1221813915853651968

Claro, o conhecimento histórico dessa turma dificilmente ultrapassa o que pode ser escrito em uma tampa de refrigerante.

Uma grande historiadora como Anne Applebaum, uma das principais estudiosas do fenômeno dos campos de concentração, não cansa de lembrar que o Gulag, os campos de concentração soviéticos, eram não apenas anteriores aos nazistas, mas os soviéticos, quando eram amiguinhos dos nazistas, ensinaram a arte do trabalho escravo e do genocídio aos seus colegas alemães. Isto sem falar na fome vermelha, a guerra de Stalin na Ucrânia.

Aliás, a própria amizade ideológica entre nazistas e comunistas é completamente desconhecida do universitário brasileiro. Como misteriosamente não é uma questão que caia no vestibular, professores de história, muitos variando entre o trotskysmo e o stalinismo, não ensinam sobre o Pacto Ribbentrop-Molotov, o Tratado Nazi-Soviético celebrado entre os dois ministros das Relações Exteriores entre os dois países totalitários e genocidas, prometendo não-agressão.

De acordo com o helenista Jean-Pierre Vernant, em O buraco negro do stalinismo, comunista por meio século e casado com uma soviética, a Internacional foi cantada em Berlim, enquanto o hino nazista tocava no aeroporto de Moscou, com suástica hasteada e tudo. O Partido Comunista francês, à época, calou-se sobre qualquer crítica a Hitler, enquanto distribuía jornais celebrando o acordo com os nazistas e culpando a “imperialista” Inglaterra pela guerra (mesmo que o país não tenha ficado com um centímetro de Terra a mais após derrotar os nazistas).

Mas as “glórias” do Exército Vermelho ficam ainda mais manchadas de sangue quando lembramos do genocídio de Katyn, um dos momentos mais negros da Segunda Guerra – e que se fosse conhecido, dificilmente manteria alguém nas fileiras da esquerda. A historiografia marxista sempre tentou inculpar os nazistas pelo ocorrido na floresta, até que análises recentes provaram a atuação do NKVD (futura KGB) de Stalin.

Na floresta de Katyn, foram assassinadas cerca de 22 mil pessoas pela polícia política “externa” de Stalin. O genocida russo sempre soube que a Polônia seria uma pedra no sapato fundamental do plano do Comintern, que espalhava o comunismo à força (e aos assassinatos) pelo mundo.

País fortemente católico (Igreja que, à época, resistia muito mais à infiltração da desinformação comunista do que a Igreja Ortodoxa), além de ter uma poderosa minoria judaica, a Polônia foi quase sempre a mais poderosa resistência ao expansionismo russo e a alguma espécie de unificação pan-eslava.

Stalin, percebendo os rumos que a Guerra tomaria – e sabendo que a elite polonesa fatalmente se aliaria ao Ocidente contra Hitler e também contra o brutal Exército Vermelho de Stalin – se aproveitou da fragilidade do país (que ficava na rota dos soviéticos contra os nazistas) e ordenou o massacre de prisioneiros políticos covardemente, na floresta de Katyn em maio de 1940 (mais de um ano antes do Holocausto – a Conferência de Wannsee que iria propor a “solução final” contra os judeus seria apenas em janeiro de 1942).

O que chama a atenção no massacre de Katyn são as vítimas: 8 mil militares, 6 mil policiais e, basicamente, a nata da intelectualidade polonesa da época. As acusações eram as típicas de totalitarismos socialistas: serem espiões, sabotadores, latifundiários, poderosos, padres.

Imagine-se o que Stalin faria no Brasil de hoje, assassinando 22 mil pessoas com tais características, e imediatamente é possível entender como a Polônia também caiu em uma violência sem fim – com Auschwitz durante a Guerra, com uma brutal ditadura comunista com Bolesław Bierut marcando o início da Cortina de Ferro – e mais milhões de poloneses mortos, não só judeus.

O país ficou sem generais e militares de alta patente para enfrentar os nazistas – e, derrotados os alemães, também foram massacrados pelos comunistas. Todo líder, militar ou intelectual, que Stalin conseguiu colocar em sua mira foi morto covardemente, em uma emboscada no meio da floresta, sem julgamento, sem saberem que seriam mortos até o último segundo. A União Soviética atribuiu o massacre aos nazistas até 1990 – apenas Mikhail Gorbachev reconheceu o genocídio.

Não houvesse Stalin e Exército Vermelho, é possível que o Holocausto não tivesse matado tanto – apenas universitários brasileiros que nunca fazem perguntas corretas não sabem por que o nazismo matou mais judeus na Polônia do que na própria Alemanha.

Não à toa, a Polônia deu mostras incríveis de heroísmo individual ou em pequenos grupos, que mereciam muitos filmes, como o Levante do Gueto de Varsóvia, no qual os judeus poloneses praticamente enfrentaram nazistas sem armas, de peito aberto. Também não é à toa que o papa mais popular que o mundo já teve, e que ajudou a derrubar o comunismo na Polônia, foi um improvável e jovem polonês, Karol Józef Wojtyła.

O país até hoje tem times de futebol que ostentam placas como “antes morto do que vermelho”, criminaliza o comunismo com o mesmo peso que o nazismo e, de acordo com análises do Stratfor Institute, um dos think tanks que mais acertou previsões no mundo, a Polônia tem tudo para ser o país mais importante da Europa em menos de meio século.

https://twitter.com/basedpoland/status/1042039139674279937?lang=bg

Claro, a esquerda brasileira, que “estudou história” e passa pano para Stalin, e que sobretudo só sabe “raciocinar” por metáforas grandiloquentes (o que é examente o pensamento mitopoético anti-científico que Sócrates superou, com a diferença de que ele tinha belos e complexos mitos), também já está preparada para dizer que, afinal, a Polônia também é nazista. Afinal, né? Onde já se viu ser contra Stalin também?

Por fim, é bom se lembrar mais uma vez. Auschwitz foi o primeiro grande genocídio da Polônia. E a Polônia se mostrou ser um país que merece ser mais estudado, mesmo com uma difícil língua eslava, justamente por ser o país que mais luta pela liberdade na Europa hoje.

https://twitter.com/SrWes_/status/1221872853655674885

Que nunca nos esquecemos dos horrores do nazismo – e nunca deixemos de honrar os poloneses, que sobreviveram aos nazistas e comunistas, que mataram sua elite para dominá-los por ainda mais tempo.

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Assuntos:
Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs". Tem passagens pela Jovem Pan, RedeTV!, Gazeta do Povo e Die Weltwoche, na Suiça.

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