Artistas esquerdistas cantam música de Tico Santa Cruz contra Bolsonaro
Pessoas ricas sem ocupação na quarentena fazem vídeo ridículo com rimas de segunda série usando boné de aba reta
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Eu disse e repito: a revolução francesa, o marxismo e a escolinha de atores do Wolf Maia estão entre os maiores males do ocidente. E cada um é a marca do seu tempo. A revolução francesa se firmou pela violência; o marxismo, pela hipocrisia; e o produto da escolinha, pela chatice infindável.
Quando o Nelson Rodrigues disse que “o idiota é a grande e obsessiva figura do século XX”, não fazia idéia de que esse idiota invadiria o século XXI gozando da mais ilibada das reputações, o mais sublime dos prestígios. Algo que só pode ter acontecido quando a moderna ciência definiu que o cérebro nada mais é do que um órgão que, por meio de impulsos elétricos, executa determinadas sinapses, não havendo motivo para que o estimulassem mais, e que comer, beber, fornicar e lutar contra a opressão da civilização era mais do que suficiente para uma espécie de macacos prepotentes.
Em decorrência, vieram o amor insaciável pelo progresso, pela técnica, pela tecnologia e pelo dinheiro suado do contribuinte. Quanto maior a inutilidade de um sujeito mais ele se assanha em por as mãos no dinheiro alheio. E o artista brasileiro, guardando as honrosas exceções, é um assanhado por excelência. Vê em seu modestíssimo talento sempre uma oportunidade de exigir que o governo o banque. Assim que deu-se o fim da mamata, a trupe surtou.
O mais recente vídeo-clamor da classe que, junto com os jornalistas e políticos, é a menos privilegiada intelectualmente dá azia até em “bicabornato”, como diria Mazzaropi – esse sim um artista de verdade.
Com o título “Carta ao Futuro”, uma dúzia dos mais supimpas operários da arte se reveza num jogral que faria corar de vergonha o mais infeliz disléxico. Alguém precisa avisar nossos heróis do tablado e da canção que a mera junção aleatória de palavras não forma poesia. Zélia Duncan já havia dado o ar de seus pigarros declamando contra o atual governo. Se bem que, parafraseando Bernanos, é ocioso e até imprudente incomodar Camões, Machado, Guimarães Rosa, Camillo Castello Branco, para expressar certa concepção rudimentar de vida. Por esse prisma, é melhor que seja assim.
Primeiro turno: Bolsonaro vence com 80% dos votos. pic.twitter.com/x6xEXTxgXK
— Lobotoney (@lobotomav) August 11, 2020
Não foi surpresa que a bela letra é de autoria de ninguém menos que Tico Santa Cruz. O grande fã do PT, saindo da sua idade da pedra intelectual, nos brinda com versos de grande pujança, como:
“Hoje eu acordei com o vento explodindo na minha janela
E tentei sair do quarto num silêncio de capela”
Calcula-se o trabalho que deve ter tido o senhor Santa Cruz para achar uma palavra que rimasse com “janela”. Para quem acorda com vento explodindo na janela, é claro que só resta uma tentativa de fuga num silêncio de capela mesmo. A cena é divertidíssima. Já na segunda estrofe, Tico manda as rimas para as cucuias e se entrega a sua revolta adolescente:
“Lá fora os homens seguem se matando
Uns por dinheiro outros por um pedaço de pão
Afinidades entre a cruz que mata em nome de Deus
E a espada que estraçalha o amor na mão dos irmãos”
A prosódia é refinadíssima. Os versos então. Para alguém que leva os ideais socialistas tão a sério, soa estranha essa crítica aos homens que se matam. Mas aí vem o menino Tico – aliás, Tico deve ser uma referência ao único neurônio ativo naquela caixola pintada – com sua visão de mundo ancorada em muito Xou da Xuxa e Domingão do Faustão e diz que se mata em nome de Deus. Infelizmente não achei em Tico a cognição que explicasse a dissonância.
Mais à frente, ele mesmo se explica, o que nos tira um pouco a vontade de se jogar na frente do primeiro carrinho de algodão doce:
“Num cemitério de ideias me vi sozinho
Se sou canção sem refrão que fica na cabeça
Não interessa eu sigo firme e forte, tenho pressa”
Não seria mais prudente ao moço Tico se contivesse um pouco a pressa e, olhando seu cemitério de idéias, que elucida ele ser uma canção sem refrão estatelada ali no vácuo de suas sinapses, e consultasse, sei lá, um dicionário de rimas?
Carta ao Futuro é um libelo contra a opressão da língua portuguesa e das noções básicas de versificação. É uma ode contra as agruras do pensamento lógico, um hino de salvação da arte de tirar catota do nariz e colocar debaixo da carteira da escola, um cântico pelo direito de soltar peido de velha no McDonald’s. É um esquartejamento gramatical.
Mas de qual futuro nossos abnegados membros do Royal Wolf Maia Company estão falando? Só se for o de suas varandas gourmet, imagina-se. Pois mesmo surfando no “renascimento” das artes que foi a nossa Lei Rouanet, seu legado foi ínfimo, pra não dizer nulo. Ao final de uma década de financiamentos em massa qual foi o produto de destaque na cultura brasileira? Durval Discos? Na Raba Toma Tapão, de MC Niack?
O que salta à vista é o peso que dão a versos tão rasteiros, algo que só pode ser o resultado de uma distorção entre a aparência e a substância. É claro que exigir de um Thiago Lacerda, que é um Lima Duarte com excesso de tics nervosos, algo semelhante a uma atuação é o mesmo que exigir de Dilma a relação entre seu cérebro e sua língua. E o peso que Ivan Lins, uma espécie de Guilherme Arantes que colocou muito chiclete na boca, dá a sua tríade de palavras?
E Anitta? A jovem “cantora” que manda todo mundo ficar em casa e vai à Itália rebolar a peida demonstra uma dificuldade sobrenatural com a leitura. Nada muito estranho para quem tem sempre um grande futuro pelas costas.
“E pra encerrar, a minha carta não é um lamento
É um aviso ao futuro de um novo tempo
A corte cairá, não sobrará ninguém
O tempo ruim vai passar do pai do filho
Ao Espírito Santo amém”
Não é um lamento, é uma ameaça infantil. O Brasil, como resultado da mais moderna ciência, é apenas a manifestação de um resmungo.
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