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A babá no protesto em Ipanema explica a desigualdade social no país

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babá protesto paulista

Quando se pergunta qual o principal problema social do país, a corrupção é democrática: todas as classes sociais a repudiam, o que mostra que os pobres não aceitam roubo, ao contrário do discurso comum (esta é uma contradição que permanece diante dos narizes de todos os sociólogos, acadêmicos e especialistas, e praticamente ninguém percebe).

Logo a seguir, haverá uma grande disparidade: os pobres reclamarão da violência (corroborando o parêntese anterior), os ricos da desigualdade. Ao contrário do que se pensa, pobre está muito ocupado trabalhando e economizando para ter um futuro melhor enquanto morre de medo de ser assaltado na porta de casa para se preocupar em atalhos para o enriquecimento a qualquer custo, como pensa o rico.

A maioria da população do Brasil é pobre, e a maioria da população do Brasil é honesta. Apesar de se vangloriar de usar a palavra “Trabalhadores” no nome, a visão sobre desigualdade social da esquerda e do PT presume que as duas frases não podem ocupar o mesmo lugar no espaço.

Ricos, ao contrário do que se pensa, fundaram o PT. Lula é praticamente a única exceção do partido dos Smith Suplicy, da Hoffmann, da Rousseff, da Salvatti, do Haddad: que outro operário existe no partido? E ricos alimentados em ideologia bebida em universidades, sobretudo cursos de Humanidades, aderem rapidamente à maior religião civil da humanidade atual: a engenharia social. Querem uma sociedade perfeita. Ou melhor: querem construir uma sociedade perfeita, em que eles serão os construtores, e nós os peões.

Apenas a partir deste caldo cultural que a imagem de uma babá carregando um carrinho de bebê no protesto pelo impeachment de Dilma Rousseff em Ipanema poderia gerar alguma celeuma.

A humanidade nasceu pobre: sem roupa, geladeira, sem carros, sem iPhone. Alguns criaram algumas coisas e enriqueceram no processo: da irrigação que permitiu hiperprodução de agricultura à medicina nuclear. Nem todos enriquecem na mesma velocidade. Esta é a lição de economia número 1 para quem quer discutir fatos econômicos sem ser economista.

Quando falam que 1% da população controlam 99% da riqueza, olhe-se bem no espelho e pergunte para aquele ser humano que aparecer na sua frente: quantos Nobel em Medicina você ganhou? Quantas curas de doenças, quantos mecanismos desejáveis por 102% da população – da TV à máquina de lavar – você criou, quantas patentes existem em seu nome? Quando terminar o interrogatório, volte aqui e conversamos melhor sobre desigualdade social.

Não à toa, até o ressuscitador da marxistaria para o século XXI, Thomas Piketty, está enchendo a burra falando que precisamos diminuir a desigualdade – e até agora não me deu nem 1% do que faturou para diminuir a desigualdade entre ele e mim. Ele não sabe o que escreve, mas sabe como gerenciar sua (dele) carteira.

A melhor forma de enriquecer, ao invés de precisar inventar a penicilina, a dinamite ou o Macintosh antes dos 30, é ajudar na riqueza alheia. Aquilo que outros já criaram por e para nós. Se um compatriota inventou uma empresa e minha família não, vou lá trabalhar na empresa deste grande camarada, ninguém pode negar.

A outra opção é não trabalhar, não ajudá-lo a enriquecer e não ganhar uns trocados dele no processo. E continuar pobre. Não é isso que chamam com esgares de tragédia de “aumento do desemprego”? Ele só aumenta quando você atrapalha empresas – com impostos, por exemplo. E não parece algo inteligente.

A história desconhece crises geradas pela falta de impostos – só conhece crises pela tentativa estatal de “corrigir” a liberdade de trabalho.

Alguns crêem tanto numa idéia doidivanas como “igualdade” que acham um absurdo existirem ricos e pobres. O absurdo, afinal, é só existirem pobres: com a liberdade de mercado, todos enriquecem. Um favelado hoje possui coisas que um rei, faraó ou xogum nunca tiveram acesso – do gato NET ao tênis genérico, tudo foi criado pelo capitalismo, por empresas, por pessoas que perceberam que poderiam oferecer um produto ou serviço em troca de dinheiro. Nada foi criado pelo Estado, nem aquele “de Bem Estar Social” que chamam por aí.

Nenhum destes crentes na “igualdade social”, confundida com a própria idéia de “justiça” em suas abstrações, cogita dar metade do seu salário para quem faltou metade do mês na mesma vaga da empresa. Ou em dar metade do que ganha para o colega de turma da escola ou faculdade, que teve as mesmas “oportunidades”, mas ia pra balada ou não estudava e hoje virou atendente de telemarketing. Nestas horas, na concretude do real, “igualdade social” e “justiça” se mostram opostos. Perfeitamente antagônicos.

Para estas, uma babá trabalhando num protesto pelo impeachment em Ipanema uma mostra de que o protesto era uma reclamação injusta e descabida da elite, e que esta elite quer “privilégios” para “explorar” pobres. Sobretudo negros. Talvez até queiram de volta a escravidão.

dilma guardachuva

Quantos reclamaram desta imagem de Dilma Rousseff? Ou das 7.138 famílias lesadas para a empreiteira dar um triplex de presente a Lula?

Foi o que disse a ex-colunista da Folha, debatedora do Saia Justa da GNT e apresentadora da BandNews Bárbara Gancia. Ela divulgou a foto da babá com a legenda “Achei, achei! Achei uma negra na manifestação!”. Bárbara Gancia, filha de um piloto de automobilismo, possui uma coluna sobre golfe e escreve para a Vogue. Uma proletária, naturalmente.

Tico Santa Cruz publicou a foto com a emblemática legenda “Emblemático…”. Sua banda, CPM 22 (ou Cisne, ou Fresno, ou Detonautas ou algo que o valha) não possui negros. Nem se há notícias sobre quanto dinheiro Tico Santa Cruz já deu a um único pobre – nem mesmo algum empregado seu. Apenas já ameaçou de morte um técnico de PA, que certamente não ganha o mesmo que ele – muito menos via Lei Rouanet.

Pablo Villaça já acha que o fator “simbólico” conta mais do que a legalidade, já que, mesmo sendo algo 100% honesto (algo bem diverso do Partido que Villaça defende), e que melhora a vida dos pobres (algo bem oposto à crise gerada pelo Partido que Villaça defende), o protesto seria “comandado por brancos de classe média alta”, como o japonês Kim Kataguiri, morador de Santo André. Pablo Villaça é branco e provavelmente de classe alta. Não se sabe o que tenha feito para negros e pobres terem uma vida melhor. E Villaça ainda vota no PT, o que só empurra o quanto eles vão pagar por um litro de leite para a ionosfera.

Ignoram estas pessoas o que seria a vida desta babá sem esta família que a emprega. A babá não seria rica e opulenta como uma Onassis ou Rockefeller: pelo contrário, não teria nada. Se não fosse esta família que a emprega, ela não teria mais dinheiro do que a família: não teria nem o dinheiro que a família compartilha com ela, em troca de ajuda na criação de um filho.

https://twitter.com/flaviomorgen/status/709380573878419456

É tão óbvio quanto parece – mas a última coisa capaz de ser percebida por um acadêmico, intelectual ou, no caso do Brasil, palpiteiro de Twitter.

Estes ainda crêem que se existem pobres, é por culpa dos ricos – que “exploram” os pobres e “roubam” o que pobres produzem. Como se na natureza fossem todos ricos e possuíssem carros e triplex. Sendo todos ricos, é muito estranho que nenhum dê seu dinheiro aos pobres e os proíba de trabalhar, já que supostamente isso seria o mesmo que a “justiça”. Não sabem eles que os homens das cavernas só possuíam carros e televisão nos Flintstones.

Crêem, afinal, que a riqueza do mundo é estanque, e não criada: assim, se alguém é rico, é por estar tomando algo que deveria, por justiça, ser igualmente distribuído entre todos, independentemente de trabalho, produção, esforço, acertos.

Seu conceito de justiça não diz respeito a impedir a violência, o roubo, a corrupção, o assassinato: tudo, pelo contrário, deve convergir a um grande Estado, que tome dinheiro de todas as pessoas através de impostos e “redistribua” igualmente. Os únicos que possuem algo tomado dos outros – os políticos que defendem um Estado maior sobre a sociedade – são intocáveis para eles.

https://twitter.com/flaviomorgen/status/709392683794571264

Todos, é claro, se tornam imediatamente defensores da meritocracia e do individualismo quando defendem seu próprio patrimônio: dizem que estudaram, que trabalharam, que merecem ter mais do que você e eu. Nada de determinismo: nenhum se considera um riquinho mimado que não teve de se esforçar em nada na vida e teve confortos por herança que devem ser esbulhados para serem distribuídos.

Mas ninguém mais pode ter o mesmo discurso: aí seria “elite protegendo seus privilégios”.

É isto o que você precisa aprender sobre o discurso de “desigualdade social”. Estas pessoas estão bravas com a família por empregarem uma mulher negra: para elas, que crêem na teoria da mais-valia de Karl Marx (mas morrem de medo de admitir que defendem a ditadura do proletariado, que assassinou 150 milhões de pessoas no último século), quem emprega é “explorador”. Faz mal. Deveriam não empregá-la para que ela vivesse de esmolas do Estado. Aí, crêem, a babá não iria a protestos contra o PT, não importa o quanto o PT roube e compre poder.

Como já definiu Joseph Sobran, um dos intelectuais que as ideologias doutrinárias das universidades brasileiras nunca teria coragem de conhecer, só é possível obter igualdade econômica com uma enorme desigualdade de poder político. O que estas pessoas querem é o poder político, que o protesto contra o PT não permite. Eles querem mandar em nossa carteira e com quem vamos trabalhar.

Basta ver algumas respostas que Tico Santa Cruz recebeu.

tico santa cruz babá

Presunção de culpa: se alguém contrata uma babá, não está pagando os direitos em dia até prova em contrário.

Quem responde é a própria babá, para Cynara Menezes, a “Socialista Morena”, que quis utilizá-la como um peão negro para seu socialismo ultra-moreno:

cynara babá

Se você trabalha livremente, não está ajudando na construção do comunismo – esta palavra que eles adoram dizer que é ultrapassada, mas defendem tudo o que ela significa.

O que a babá ensina sobre desigualdade social é que este discursinho de “diminuí-la” é uma desculpa de riquinhos para aumentar o Estado e sua crença em fazer engenharia social. Quando as pessoas são livres – incluindo os pobres – a esquerda não gosta. Para eles, entre a liberdade e a igualdade, devemos obrigar todos a serem iguais. Para eles, “comunismo” já era: mas se você não for comunista, é uma elite que “simbolicamente” está atrapalhando a União Soviética 2.0.

Elas vivem no mundo fantasioso de Equalia, criado por Lisa Simpson: “Um mundo onde todos são iguais, mas sou a rainha porque alguém precisa mandar nesse paraíso”.

Quando ouvir falar em defender os pobres, não ouça quem só viu pobre na vida no programa da Regina Casé. Pergunte sobre pobres ao Sílvio Santos. Ele sozinho fez mais pelos pobres do país do que todos os petistas fariam em 500 anos.

ERRATA: Postamos originalmente que a foto foi tirada na Avenida Paulista, mas foi em Ipanema, no Rio de Janeiro. Obrigado a todos pela correção – o responsável já está sendo torturado violentamente em nossos calabouços.

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Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs". Tem passagens pela Jovem Pan, RedeTV!, Gazeta do Povo e Die Weltwoche, na Suiça.

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