Nossa torcida é uma vergonha. Qual o problema em admitir?
A torcida do Brasil é uma vergonha ao mundo. Não deveríamos buscar justificativas e desculpas. Deveríamos ser melhores.
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O francês Renaud Lavillenie, criticou a torcida brasileira por vaiar todos os atletas rivais. A crítica, para o público brasileiro, só o fez merecedor de ainda mais vaias, graças a um não-entendimento da “civilidade” brasileira.
O verbete da Wikipédia em português de Renaud Lavillenie, medalha de prata no salto com vara, por um tempo foi atacado, e o francês virou “chorão recalcado”.
Apesar das brincadeiras fáceis envolvendo “choro” e “vaia”, a verdade é que nossa torcida é mesmo uma vergonha. Qual o problema em admitir? Não admitir, aliás, é sim uma verdadeira choradeira. E recalcada.
Não há espírito latino, não há ziriguidum, não há texto de Nelson Rodrigues que justifique, que explique. Só resta aos civilizados do país virar o rosto e pedir desculpas a quem perguntar, bem baixinho, como se fossem traficantes.
E o também francês Sofiane Oumiha, que entrou na luta de boxe contra o baiano Robson Conceição sob urros de “Uh, vai morrer”? Tudo bem, é possível se sair melhor do que Lavillenie e, como seu compatriota Oumiha, rir e até “elogiar” a torcida ironicamente. Mas é apenas como resposta a um desrespeito.
Todos os atletas americanos são vaiados como se fossem membros da Westboro Baptist Church ou fossem eles próprios responsáveis pelo final de How I Met Your Mother. Um gringo que venha da civilização para cá precisa de explicações sobre por que é tão vaiado. E não há Guerra na Coréia ou no Afeganistão que justifique: é só ideologia barata de brasileiro. E o mundo tem de “entender”. Como?
E nem precisa ser contra atletas brasileiros. No jogo de vôlei feminino entre América e China, era uma americana encostar na bola até com o jogo parado que tomava vaia. Aquele anti-americanismo mais xarope, mais crianção, mais, como dizer, “chorão recalcado”. Por uma torcida para a China.
Dá pra apostar alto que falam em “imperialismo americano” sem apontar um centímetro de terra que os americanos tenham tomado de outros povos. Ah, como é bom não saber da história do imperialismo chinês, até em lugares que falam português como Macau e o este de Hong Kong!… Ah, como é bom ser ignorante sobre Taiwan e sobre as Duas Chinas, ambas com representação nas Olimpíadas e em situação arredia após a Guerra Civil Chinesa!
E quer apostar também que os anti-americanos-fora-temer na arquibancada criticam a América e apóiam a China para depois reclamar de “ditadura”?
Brasileiro vaia hino nacional. Vaia bandeira de país que só fez bem ao Brasil. Vaia atleta que se machuca. Isso não é torcida. Isso é choro. E recalque. E mata quem tem um pingo de civilidade de vergonha.
Falta o quê? Cagar na rua e enfiar a bandeira nacional na xereca? Ah, esquece, os manifestantes anti-impeachment já fizeram isso. Pelamordedeus, não contem pros gringos. Daqui a pouco vai ter uns fora-temeristas cagando e atirando bosta nos atletas rivais. Pra depois dizer que é racismo os argentinos nos chamarem de “macaquitos”.
E nós, pessoas normais, que tomam banho e comem de garfo e faca, mas calhamos de nascer no Brasil? Como é que ficamos?
Num jogo simples da NBA, por exemplo, o narrador do próprio estádio torce para um dos times, pedindo apoio da torcida no ataque e lamentando cada cesta tomada, o que nem nossa galvãobuenice o faz tão desabridamente. Mesmo assim, basta o time visitante fazer uma cesta belíssima para o estádio inteiro, vestido com a camiseta do time da casa, aplaudir pela beleza.
Isto é torcida. Isto é fairplay, aquilo que saiu dos esportes e foi para a política, como já comentamos. Isto é algo admirável.
A macaqueação da torcida brasileira, que parece que iria levar pratos, surdo e canhão para jogo de golfe, não tem espírito esportivo. Esporte é regra, é atingir o limite dentro de normas previamente estabelecidas. Como esperar algo de bom de um país incapaz de respeitar uma bandeira ou um hino para tentar atingir um competidor?
Na Áustria em 2002, quando Rubens Barrichello iria realizar a sua segunda vitória na Fórmula 1, a Ferrari, sem nenhuma razão aceitável, na sétima corrida do campeonato, pediu para o piloto frear e deixar o companheiro de equipe, Michael Schumacher, já à frente no campeonato, passar. Resultado: uma chuva de vaias, sobretudo da própria torcida da Ferrari (única escuderia com torcida) que foi considerada a maior vergonha da história da escuderia. Até Michael Schumacher ficou envergonhado.
Isto é respeitar mais uma regra do que a vitória a qualquer custo. Já a torcida brasileira foi responsável por jogar tanto papel picado na pista em 1987 que Nelson Piquet perdeu tempo e posição indo aos bosques para retirar papel picado de seu radiador. Como esperar algo de bom disso?
Todos os problemas do Brasil, no fundo, não são nada mais do que a falta de cumprimento de regras. Aquele povo que fala tanto em “social” e “desigualdade” deveria saber que as coisas funcionam para todos se há regras que todos seguem, não regras a serem burladas conforme a conveniência de um, mesmo que ferre o outro.
Nossa torcida não só é esteticamente reprovável. É de uma imoralidade atroz, é de uma estupidez que dói aos olhos. E é disfuncional. É uma prova viva de um país que não funciona.
Alguém aí pode importar a torcida da Islândia?
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