Quem representa os não-representados?
Estudo mostra que as pessoas não estão descontentes apenas com os políticos em todo o mundo, mas com o próprio sistema que os elege. Por Filipe Martins
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Um estudo realizado pelo Pew Research Center revela uma tendência um tanto óbvia para quem está prestando, minimamente, a atenção nos desdobramentos da política brasileira e internacional: cresce, ao redor do mundo, o número de pessoas insatisfeitas com o funcionamento dos sistemas políticos existentes em seus países.
Como mostra a imagem que ilustra este texto (uma seleção dos países mais e menos satisfeitos com a democracia), a situação é particularmente preocupante no caso do Brasil. Paradoxalmente, os maiores responsáveis por essa situação são aqueles que mais se enxergam como guardiões da democracia e das instituições; um grupo composto por pessoas que, em nome de um certo fetichismo institucional, não pensam duas vezes antes de fazer chacota, marginalizar e escorraçar do debate público qualquer pessoa que ouse expressar frustrações e insatisfações com as (injustas e corrompidas) regras do jogo.
Não é possível manter uma república — e, aliás, nem mesmo uma democracia — quando a classe política e o aparato institucional que a sustenta (mídia, academia, burocracia permanente, etc.) se vêem como superiores aos seus cidadãos; quando as elites governantes não trabalham pelo benefício dos governados; quando o povo não é capaz de pacificamente controlar e reformar o seu governo; quando os representantes eleitos não representam a vontade (e nem mesmo os valores) da população; quando a classe dominante continuamente viola os direitos dos comuns, além de ofendê-los rotineiramente, vilipendiando suas crenças, seus valores e suas tradições, ao mesmo tempo que não oferece a eles qualquer proteção contra a criminalidade e o banditismo.
Eric Voegelin costumava dizer que “se um governo não é representativo a não ser no sentido meramente constitucional do termo, cedo ou tarde, e de um modo ou de outro, essa representatividade postiça será derrubada por um governante autenticamente representativo, contra o qual nenhuma legalidade constitucional poderá ser utilizada”.
Infelizmente, essa ruptura não parece muito distante do Brasil. Enquanto nossos políticos estão imersos nos esquemas e nas negociatas que visam à perpetuação de seu poder; enquanto as figuras públicas do shows businnes e da grande mídia exibem desavergonhadamente o desprezo que sentem pela realidade popular; enquanto uma parcela significativa dos que se crêem “oposição” pensa apenas em questões econômico-administrativas; a crise de representatividade avança e se aprofunda, alienando a maioria absoluta dos brasileiros, um povo maciçamente conservador, desprovido de voz nos debates intelectuais e de espaço na grande mídia, que vê sua última esperança eleitoral ser tratada como uma opção extrema e seus poucos representantes na classe política serem atacados das formas mais vis e arrogantes.
O Brasil foi lançado numa situação diabólica, de desconfiança generalizada, e as pessoas estão reagindo confusamente, tentando descobrir contra o que devem lutar e em quem devem confiar. Se a elite dominante não permitir que isso seja resolvido dentro dos limites institucionais — mesmo que, para isso, tenha que passar por cima de suas preferências pessoais ou grupais —, a solução virá de alguma outra maneira e poderá ser bem mais traumática do que se vislumbra.
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