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Precisamos acabar com a cultura do TEXTÃO PÓS-DEBATE

A cultura do textão no Facebook já é mais chata do que cagar na casa da namorada. Logo após um debate eleitoral, é caso pra internação.

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Debate entre Hillary Clinton e Donald Trump.

PRECISAMOS ACABAR COM A CULTURA DE textão pós-debate politico. O que tem de palpiteiro aí incapaz de fazer seu próprio candidato manter o percentual de votos numa semana (que dirá ganhar uns 10% pro sagrado) dizendo que neguinho foi melhor, que caboclo foi pior, que a outra lá deveria ter dito Y, e não X… 

Facebook é só achismo e auto-exibição é uma sensação coletiva de que você está fazendo algo importante, e não gastando o tempo em que você deveria estar no quinto volume de Em Busca do Tempo Perdido conversando com mocorongos de nariz empinado, ok, sempre soubemos, mas alguns óbvios sai ululantes demais para serem ignorados.

Em primeiro lugar, todo mundo tem uma capacidade estupenda e inata para ver apenas aquilo que quer ver. Sabe a mãe que posta mil fotos do filho ou cachorro no Facebook achando que são os mais lindos e inteligentes do mundo? Então, política funciona com o mesmo instinto. 

O Luís Nassif VAI achar que Haddad arrasou no debate. A Universal VAI crer que Crivella tratorou todos com seu intelecto. A Carta Capital VAI garantir que não existe gente mais moral e inteligente do que Lula e Dilma. A Lúcia Guimarães VAI dizer que Donald Trump foi racista, fascista, misógino e fascista independentemente se ele foi ao debate ou não. Mesmo se for num “textão” de 140 caracteres.

As pessoas vêem exatamente o que querem ver. Se alguém estiver pessoalmente sentindo que falta porradaria no seu candidato, você vai inevitavelmente sentir que ele pegou leve demais. Se acha que o cidadão é boquirroto, vai considerar que ele precisa controlar a língua. Se acha que o camarada é muito povão, vai achar que ele precisa citar Tocqueville e falar em latim. Se acha que o tio é muito engomadinho, que ele precisa sambar e falar mais fácil. E tome textão na moringa.

Sempre. Antes mesmo de ele abrir a boca. Você já foi ver o debate com sentimentos predispostos, anteriores. Por que negar que eles determinam o que você viu ou deixou de ver? Que outra coisa explicaria a mente de Lúcia Guimarães?

Em segundo lugar, o que funciona para você não funciona para outrém. Aliás, pode ser o exato oposto. Seu textão só vai piorar tudo.

Sabe aquela sua vontade de fazer o seu candidato gritar, xingar o patife do adversário de nomes feios, levantar, tirar o terno, pôr o pau na mesa e esfregar na cara do oponente? Então, pode ser que ele não esteja ganhando voto porque metade do eleitorado, seguindo a regra anterior, já o considere demasiadamente agressivo, putão, boêmio, violento, incorreto, desproporcional. Ele está fugindo do seu textão.

Você sabe, afinal, o que o eleitorado está pensando antes de postar seu textão? Porque se você pensa que 99% da população pensa igual você, quer exatamente o mesmo que você, tem exatamente os mesmos valores que você e, sobretudo, se convenceria pelos mesmos métodos, argumentos e posturas que você, uma matemática básica: como é que seu candidato ainda não está com vitória garantida com 99% de intenções de voto no primeiro turno?

Há mais: você acha mesmo que seu mapeamento baseado em seus amigos pré-selecionados do Facebook, justamente aqueles que já agüentam sua ladainha, que já te seguem e curtem e te elogiam pelo que você posta pentelhosamente, refletem de algum modo a sociedade, quando são, pelo contrário, aquelas pessoas que você recortou do tecido social justamente por serem diferentes do restante?

Será mesmo que se o seu querido candidato te ouvisse, ele dispararia sky high nas intenções de voto, ou você iria adorá-lo ainda mais por se parecer mais com você, alguém completamente fora da curva e do esperado da média social, enquanto toda a população iria achá-lo um maluco, um extremista, um despreparado, um fanático, um monotemático?

A cultura do textão do Facebook já é mais chata do que exame de próstata. A cultura do textão no Facebook pós-debate é só uma cultura ainda mais power. Uma super-cultura. Uma chatice em seu estado mais chato. Até as pessoas mais inteligentes que conhecemos, confundindo suas próprias vontades individuais com um longo estudo social, antropológico e de marketing eleitoral, adoram falar as mais amalucadas bobagens antes, durante e, sobretudo, depois de um debate.

O que tem de Duda Mendonça perdido no Facebook que ninguém por aí contrata vai aumentar demais a fila do desemprego no governo Temer.

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Assuntos:
Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs". Tem passagens pela Jovem Pan, RedeTV!, Gazeta do Povo e Die Weltwoche, na Suiça.

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