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No Jornal Nacional, não há risco de terrorismo, só de “islamofobia”

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jornal nacional islamismo

O obrigatório livro de Ayaan Hirsi Ali, Herege: Por que o islã precisa de uma reforma imediata, começa com o seguinte parágrafo:

Em _______, um grupo de ____ fortemente armados e vestidos de preto entrou em um ________ em ________ e matou a tiros _____ pessoas. Os atacantes foram filmados gritando “Allahu akbar!”.

Em entrevista coletiva à imprensa, o presidente _________ disse: “Condenamos esse ato criminoso de extremistas. E sua tentativa de justificar seus atos violentos em nome de uma religião pacífica não terá êxito. Condenamos igualmente aqueles que queiram usar essa atrocidade como pretexto para crimes de ódio islamofóbicos.”

Desde antes do 11 de setembro até Paris no dia 13 de novembro (and counting), notícias como esta só precisam continuar preenchendo os espaços em branco. A história se repete como farsa, depois como tragédia, depois como notícia manjada no Jornal Nacional.

Após quase todos os líderes mundiais “aceitáveis” declararem exatamente o mesmo que Hirsi Ali garantiu que fariam (Mahmoud Abbas, da Autoridade Palestina, preferiu culpar o Mossad israelense pelo atentado do ISIS), foi a vez do jornalismo dar novo passo em sua infowar (ver detalhes no meu livro) e focar no “perigo” que a Europa e o mundo enfrentam: o preconceito contra muçulmanos.

O Jornal Nacional, hoje bastante preocupado com a previsão do tempo tomando quase um bloco inteiro (a típica conversa de elevador, apenas para manter contato, na famosa função fática da linguagem: “choveu, hein?”), fez uma reportagem inteira apenas para falar do “preconceito” contra muçulmanos.

Como se a suspicácia de ocidentais, que só ouvem falar de uma religião após atos de terrorismo em nome dela, devesse ser corrigida por jornalistas que desconhecem de todo o islamismo garantindo que ela é uma “religião da paz”, mesmo com demonstrações públicas da “maioria pacífica” ocorrendo o tempo todo em países com populações muçulmanas.

jihadistÉ a tarefa de nos doutrinar de que, na verdade, muçulmanos são uma religião como qualquer outra (o que é falso dentro do islamismo), que o terrorismo nada tem a ver com o islamismo (o que é falso dentro do islamismo), que o islamismo não prega coisas como o degolamento de infiéis (o que é falso dentro do islamismo), que o islamismo é apenas uma religião, e não um sistema de leis, e portanto pode conviver muito bem com as leis seculares modernas (o que é falso dentro do islamismo).

Segundo o repórter José Roberto Burnier, “quando um grupo terrorista muçulmano assume um atentado, quem sofre é toda a comunidade islâmica”. Uma frase bastante curiosa para se iniciar uma reportagem sobre terrorismo. Alguém precisa informá-lo de que quem sofre é toda a comunidade, e não a comunidade muçulmana em particular – muito menos mais esta do que outra, ou apenas esta, por sofrer “preconceito”.

Parece que as únicas pessoas sofrendo em Paris e no mundo, hoje, são os muçulmanos.

O repórter José Roberto Burnier garantiu que grupos como o Estado Islâmico fazem uma “interpretação muito particular” da religião. A “interpretação muito particular” a que ele se refere é exatamente aquela que segue o que o profeta Maomé exigiu de todos os seus fiéis, e que eles obedecem e obedeceram por anos, marginalizando outros grupos através de conversões forçadas, a jihad, a jihzya, colocando não-muçulmanos como cidadãos de segunda classe e, claro, a ocupação lenta de territórios através de imigrações em massa, a tática número 1 do islamismo.

HegiraTanto número 1 que a primeira imigração em massa, a primeira Hégira, marca simplesmente o início do calendário islâmico, sendo para o muçulmano o evento mais importante do Universo – a expansão e ocupação de territórios dos infiéis, do Dar al-Harb, para trocar suas leis e costumes pela maioria para a shari’ah. Foi assim que o islamismo começou, em Medina pela preparação, em Hudaybiyyah pela conquista depois de ignorar um pacto de paz pela jihad.

Esta “interpretação muito particular” (a óbvia, seguida por muçulmanos em todos os países do mundo) foi chamada pela autoridade em islamismo José Roberto Burnier de “islamismo distorcido”.

Estranho novamente: o islamismo “distorcido” é justamente o islamismo light, o islamismo reformado (como da reformista muçulmana Asra Nomani). O islamismo que sofreu influência do Ocidente – ou seja, pessoas dentro de comunidades islâmicas ou civilizadas que recebem influxos ocidentais, mas não uma reforma no Corão, na shari’ah, na jihad.

Trata-se de pessoas que seguem menos o Corão do que grupos como al-Qaeda, Boko Haram ou Estado Islâmico. Para sorte do mundo.

José Roberto Burnier faz então uma reportagem num bairro muçulmano em Paris – esta religião tão “integrável” que cria guetos para si própria, ao invés de seguir leis e costumes do país em que se encontra.

Assim que começa a entrevistar um muçulmano para demonstrar sua tese da normalidade pacífica do islamismo, é interrompido por outro muçulmano que impede a entrevista e, aos berros, exige que ele saia dali.

Burnier tenta então com outro muçulmano, mais velho. Logo o dono de uma loja também interrompe a entrevista, e força o entrevistado a ir embora. Sua narração: “Fica claro que não somos bem vindos ali”.

Seu comentário ofegante, enquanto foge do islamismo pacífico e integrado à sociedade ocidental: “A gente decidiu ir embora porque a gente tá vendo que o clima tá ficando mais tenso, tá gerando muita discussão aqui e… nós não queremos aumentar a tensão que já é natural.”

Uma pequena verdade escapou na forma de faux pas na sua última passagem. O que chama a atenção é óbvio: não há um caso relatado de algum “preconceito” grave cometido contra muçulmanos por gente normal. O que houve foram duas tentativas de entrevistas a muçulmanos, interrompidas por muçulmanos.

A grande “fobia”, então, não parece ser dos cristãos, judeus, ateus ou o que for contra islâmicos: foi da própria “comunidade” islâmica, impedindo que seus membros falem com o kafir, com os não-convertidos. É esta a “tensão”, que quando se trata de comunidades muçulmanas, é sempre “natural”.

O curioso é gravar uma reportagem como esta e, dissolvendo agentes e pacientes dos fatos numa pasta homogênea chamada “clima tenso”, consiga-se ignorar os fatos diante de si (e quase na pele) e encaixar o oposto do que é narrado, filmado e comentado em uma narrativa pronta: “os ocidentais têm muito preconceito contra o islamismo, que é tão normal quanto uma velhinha indo à missa e votando contra o casamento gay”.

Este é o processo de coréiadonortezação da mídia: como a televisão norte-coreana, mostra-se até imagens de protestos contra o ditador totalitário dizendo que são manifestações de apoio ao grande líder.

Além de inverter o próprio fato para vender uma agenda política, cada vez mais é impossível dissociar qualquer coisa que passe na Rede Globo, com a exceção dos comentários de William Waack, do que pensa a esquerda brasileira – e mundial.

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Assuntos:
Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs". Tem passagens pela Jovem Pan, RedeTV!, Gazeta do Povo e Die Weltwoche, na Suiça.

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