A prisão de Lula e o desespero da blogosfera progressista
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Se há um dia para a Polícia Federal fazer algo contra Lula (não precisa significar sua prisão, mas algo como uma operação de busca e apreensão), este dia é logo antes do Carnaval, o único feriado inevitavelmente longo e em que o país realmente pára, mesmo que boa parte dos brasileiros despreze o Carnaval.
A razão é simples e óbvia: independentemente de haver leis no país, Lula é mais do que um homem como nós, pobres mortais. Lula é uma espécie de mito fundador vivo da esquerda latina pós-Muro de Berlim. Mesmo que haja um crime óbvio e provado contra Lula, não será um flagrante simples que encetará o uso da lei contra este homem.
Há o risco claro de uma combustão social gigantesca com um evento como a prisão de Lula – petistas, afinal, não são como pessoas normais, que se preocupam com algo como a “justiça” e a aplicam a casos e pessoas concretas.
Ao contrário dos eleitores de outros partidos, petistas pensam primeiro em defender o partido e seus partidários e, depois, aplicam o restolho da noção de justiça aos casos concretos – via de regra, aos opositores óbvios ou aparentes do PT. Mesmo que Lula seja flagrado e filmando estuprando uma criança, por exemplo, dificilmente se pode esperar que todos os petistas passem a criticar o ex-presidente.
Isto significa que mesmo tendo de proteger a lei, entidades como a Polícia Federal, o Ministério Publico, o Tribunal Superior Eleitoral e tantos outros precisam agir com alguma estratégia para não “tacar fogo no país”, como ameaçou o blog de Leonardo Attuch, Brasil 247, em post compartilhado pelo filho do ex-presidente Lula.
A ameaça, afinal, é séria: alguém duvida que CUT, MST (o “exército do Stédile”, estes beleguins mercenários obedecendo ao comando de seu dono, em nítida e flagrante atividade paramilitar, que o próprio Lula ameaçou colocar nas ruas contra quem ousasse ir contra o PT), UNE e tantos sindicatos, partidos satélites e organizações aparelhadas tomariam as ruas e chegariam às últimas conseqüências em defesa do PT?
É impossível pensar em um partido (ou mesmo alguma idéia) no país que tenha gente disposta a matar e morrer por sua causa. É fácil imaginar petistas aplicando o princípio.
Há dois fatores a mais.
O primeiro é o desespero da blogosfera progressista, o exército do PT nas redes, quase todos a soldo público (recebem o nosso dinheiro, mesmo se não os lemos, através de contratos em que eles “fazem propaganda” de estatais – como se a Petrobras precisasse de propaganda em blogs para vender petróleo).
Desde segunda-feira, de repente, trabalham em todas as frentes para defender Lula de sua prisão antes que Lula seja preso.
Na segunda-feira, robôs e partidários que se comportam como robôs subiram no Twitter a hashtag #LulaEuConfio. Ela logo foi tomada como piada, e a grande maioria dos tweets com a hashtag faziam ironias ou mostravam como confiavam na prisão do petista.
Apesar de ficar em primeiro lugar nos Trending Topics do Brasil, os petistas não perceberam a contradição, e o quanto expuseram suas vergonhas: uma hashtag como essa, com um profissionalismo como esse, nunca teria subido sozinha tão rapidamente. Se é profissional, é uma ação de marketing, e portanto nada tem a ver com o que o povo de verdade pensa ou quer dizer.
Os petistas fazem isso para tentar fazer o povo cair na esparrela de que todos confiam no Lula, mas os únicos que enganam são eles mesmos, que passam a crer que sua própria mentira se tornou verdade.
Logo depois, todos os blogs progressistas, e até, em nível de aparente mais higiene, a revista Carta Capital, passaram a escrever artigos comentando sobre a “campanha” de “perseguição” ao ex-presidente (a Carta Capital, obviamente, foi a única revista a não comentar absolutamente nada sobre o triplex de Lula no Guarujá em sua última capa).
Novamente, é algo cuja verdade só se apreende ao se ler com mais calma, com olhos bem treinados, procurando o não-dito e não apenas se indignando repetidamente com o dito: por que a indignação coordenada antes da prisão ou de qualquer ação contra Lula?
Obviamente a sexta-feira pré-Carnaval é o melhor dia para a Polícia Federal bater na porta de Lula. Mas o que importa é que estes blogs são muito mais bem informados do que nós, pessoas normais, sobre desdobramentos do governo. Aliás, eles não sabem fazer outra coisa, vivem disso, e inclusive acham correto falar de “política” como a arte de ganhar poder e dinheiro através do Estado (e não apenas ter uma vigília para ninguém tomar nosso trabalho à força).
O mais histriônico até o momento foi, naturalmente, o blog Brasil 247, o que ameaçou tacar fogo no país.
Tendo como pedra fundamental Leonardo Attuch, ex-diretor da revista Istoé quando foi comprada em partes por Daniel Dantas e uma espécie de grande defensor do banqueiro e de seus negócios em seus artigos, Attuch quase foi preso no começo de agosto do ano passado pela mesma Operação Lava-Jato, mas o juiz Sérgio Moro, sabiamente, recusou o pedido da Procuradoria.
Como o público médio brasileiro não sabe quem é Leonardo Attuch, apenas leria a notícia de que “um jornalista foi preso pela Lava Jato” e entenderia que a Polícia Federal está cercando a liberdade de expressão, e não buscando corruptos e quem está manipulando dinheiro em troca de poder e favores em sinecuras. Sabendo que esta seria a narrativa, Sério Moro preferiu deixar Attuch livre.
É, novamente, a Polícia precisando trabalhar conforme os ânimos da população, e não a mera letra da lei. Infelizmente, uma revolta popular, ainda mais feita por um boato “fácil” como seria este, é muito mais custosa do que a justiça simples – ou seja, cumprir a lei e pronto.
Naturalmente, sendo tão influente e bem informado no governo, Attuch sabe muito mais do que sabemos. No estilo garrafal de caps lock fury do seu blog, o Brasil 247 estampa a manchete “LULA PODE SER ALVO DA LAVA JATO NESTA SEXTA-FEIRA”.
Trata-se, até o momento, de uma possibilidade de busca e apreensão no sítio em Atibaia, um dos imóveis que não é de Lula, embora ninguém além de Lula faça usufruto do mesmo (nem mesmo o MST, que misteriosamente ainda não invadiu o sítio e nem o triplex no Guarujá exigindo reforma agrária).
Novamente, é preciso saber interpretar algo além de textos simples, como se faz no Vestibular. Aqui, é preciso entender o autor: alguém que está sendo “severamente investigado” pela Lava Jato, por render loas ao PT em uma operação em que o jornalista não prestava nenhum serviço de fato que custasse algo aos cofres públicos. Como mostrou O Antagonista, o valor foi “abatido” (sic) da propina que estava à disposição de Vaccari.
Parece ser alguém que “sente” mais os desdobramentos da Lava Jato do que você e eu, que não seremos presos por ela.
Também é preciso compreender a circunstância: o blog fala, repentinamente, de riscos judiciais a Lula, sendo que sempre preferiu esconder toda a Operação e, quando não mais era possível, notificar garrafalmente algo em caps lock fury como se o principal problema do país é que 1% DA PROPINA PODE TER SIDO USADA POR AÉCIO.
E isto antes de qualquer fato concreto.
E, claro, é preciso compreender o fim: os blogs petistas, a soldo de estatais, não veiculam notícias. Não têm o que dizer a respeito da economia, da justiça, da criminalidade, do emprego, da corrupção ou da posição das estrelas que seja favorável ao PT.
O que fazem, de Carta Capital e sua perereca ao Tijolaço tão preocupado com Aécio Neves (como se algum anti-petista fosse mesmo fã de Aécio Neves), é apenas controlar ânimos. Desviar atenções como prestidigitadores. Reafirmar um sentimento de pertencimento à esquerda, mesmo que todas as notícias no jornalismo sério (e na vida real) mostrem que nada pode ser pior para o país, mais intelectualmente fraco e defasado e mais moralmente indefensável do que ser de esquerda. São cabrestos virtuais para não enxergar a realidade.
Se estão tão desesperados de antemão a ponto de não falarem de outra coisa durante a semana (quase nada é possível ser encontrado no site de Veja ou do raro jornalismo anti-PT), é por saberem e perceberem que já precisam iniciar a narrativa de “perseguição” e de preparar os ânimos petistas para más notícias.
É a infowar ou, no caso, a netwar em ação: a guerra de narrativas na internet, sem grandes eixos de sustentação como na velha mídia.
Basta saber ler as entrelinhas destes blogs para saber, afinal, qual será o futuro do país. Está escrito nas estrelas. As mais vermelhas.
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