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Dilma fala em dilmês sobre o triplex “que seria” de Lula

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A Polícia Federal aponta “alto grau de suspeita” em todos os apartamentos do Condomínio Solaris, no Guarujá, “que seria” de Lula (nesta linguagem floreada do jornalismo, num país em que qualquer um pode processar jornalistas por falar verdades óbvias e até quem aparece em câmeras roubando e matando é tratado como “suspeito”).

Todos os apartamentos do condomínio Solaris estão sob investigação titularidade, mas o foco é o apartamento 164A, com reforma paga por Marisa Letícia Lula de Silva e com elevador privativo, como um presente a título de propina da empreiteira OAS em troca de contratos com a Petrobras, a maior empresa brasileira que é o tutano da corrupção e do atraso estatista no país. Marisa e Lula parecem ter se “esquecido” da existência do triplex.

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https://www.facebook.com/mblivre/photos/pb.204223673035117.-2207520000.1454077886./340911649366318/?type=3&theater

O fechamento do circulo ao redor do ex-presidente Lula tem área cada vez menor, e a confirmação de que o triplex é de sua autoria pode significar não apenas a confirmação de um triplex “escondido” do ex-presidente, mas ter a primeira prova material que confirmaria todo um fortíssimo esquema de corrupção gigantesco que tem Lula como chefe.

Se Collor não caiu apenas pelo Fiat Elba, mas sim por se conseguir uma prova jurídica de um esquema muito maior que precisou ser traduzido em linguagem de tribunais, o triplex luxuosíssimo no Guarujá também é a pontinha ínfima de um iceberg que pode finalmente provar, pela letra da lei, que o ex-presidente Lula foi chefe daquele que pode ser considerado o maior esquema de corrupção da história mundial.

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10204118144954388&set=a.1803807475470.70744.1848362033

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O desgaste com a imagem de Lula já preocupa o PT, que não tem mais o “candidato imbatível” para as próximas eleições (e se não for Lula, é improvável imaginar a vitória acachapante de um Patrus Ananias ou de uma Gleisi Hoffmann da vida).

A própria Polícia Federal já monta diagramas para montar sua tese, que pode colocar Lula em maus lençóis (em sentido literal).

triplex-solaris-triplox-lula

Mas para adicionar alguma comédia burlesca à tragédia, precisamos mesmo invocar Dilma Rousseff.

Usando seu idioma próprio, com alguma parecência estética com o português e aparentemente uma estrutura sintático-semântica com o búlgaro, o Dilmês, Dilma Rousseff, a presidente, foi perguntada se Lula era o alvo da Triplo X.

Algo que pode ser respondido com “Sim”, “Não”, “Talvez”, “Não sei” ou um simples “Estão investigando justamente para se descobrir o alvo”, aferrando-se à construção da prova jurídica do que o Brasil inteiro já sabe que é verdade.

Dilma preferiu engatar a quinta marcha do dilmês e respondeu, conforme mostra O Antagonista:

“Eu me recuso a responder pergunta desse tipo porque se levantam acusações, insinuações e não me dizem por que, quando, como, onde e a troco do quê. Se alguém falasse a respeito de qualquer um de nós aqui, que a nova fase da Lava Jato levanta suspeitas sobre você, e você não soubesse do que é suspeita, como é que é suspeita e de onde vem a suspeita, você não acharia extremamente incorreto, do ponto de vista do respeito? Quem prova – acho que foi a partir da Revolução Francesa, se não me engano, foi com Napoleão – a culpabilidade, ao contrário do mundo medieval, o ônus da prova é de quem acusa. Antes como você provava? Eu dizia que você era culpado e você lutava comigo. Se você perdesse, você era culpado. Então, houve um grande avanço no mundo civilizado a partir de todas as lutas democráticas”.

É um exercício árduo para qualquer lingüista, de Marcos Bagno a Noam Chomsky, de Ataliba de Castilho a George Lakoff, tentar extrair algo próximo a um sentido do substrato palavroso de Dilma Rousseff.

Uma pergunta não é uma acusação.

Se há uma insinuação, o porquê é óbvio: porque Lula é o ex-presidente, porque é do mesmo partido que Dilma Rousseff, porque Dilma Rousseff sozinha seria no máximo uma terrorista e uma falidora de lojinha de R$ 1,99 não fosse seus amigos como o próprio Lula. E porque Lula está sendo investigado como chefe do maior esquema de corrupção que a humanidade já inventou.

O quando é agora mesmo.

O como é o que a PF quer investigar, e se quer saber se Dilma tem algo a dizer.

O onde é no Guarujá, mas também no Brasil inteiro.

A troco de quê já é uma pergunta mais complexa. Começa com um triplex no Guarujá, mas pode envolver bilhões e bilhões. Apenas a Lava-Jato já recuperou R$ 2,4 bilhões à União, todos surrupiados por amigos e companheiros de Dilma Rousseff.

Dilma-de-cara-feiaSobre a curiosa pergunta “Se alguém falasse a respeito de qualquer um de nós aqui, que a nova fase da Lava Jato levanta suspeitas sobre você, e você não soubesse do que é suspeita, como é que é suspeita e de onde vem a suspeita, você não acharia extremamente incorreto, do ponto de vista do respeito?”, a resposta é não. Ainda mais se você é presidente da República e tem alguma mínima obrigação de saber do que é suspeita antes de algum jornalista te informar. E presidente da República na sua situação não é exatamente merecedor de respeito.

Seu delírio napoleônico é quase um ato falho. Mas ninguém estava tentando provar nada nem acusar ninguém de nada – perguntaram para Dilma quem era o alvo da Triplo X. Era tão difícil falar “Só admito que seja o Lula se ficar provado que é o Lula”?

lula-marisa-ricardo-stuckert-divulgacaoPrecisava tanto de toda esta translação, quando poderia disfarçar bem melhor apenas declarando que isto é para a PF investigar? Não é a presidente que diz que “permitiu” que a Polícia trabalhasse (quem permite é a Constituição, e se a presidente “não permite”, é um novo ato falho a ombreando a uma ditadora totalitária), não era o presidente que é a pessoa “mais honesta deste país” (mais honesto do que todos nós), e logo depois é intimado pela Promotoria a depor como investigado com sua mulher?

Dilma sambou no créu número 5 ao ouvir uma simples pergunta sobre um triplex que nem é seu. Crê-se que qualquer pessoa normal, ao ser perguntada se sabe quem é o verdadeiro dono de algo investigado pela polícia, sabe responder simplesmente: “Não, nunca ouvi falar”.

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Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs". Tem passagens pela Jovem Pan, RedeTV!, Gazeta do Povo e Die Weltwoche, na Suiça.

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