A era dos extremos e a era dos isentos
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Em toda a história eleitoral brasileira, não se conheceu candidatos, ao menos em nível federal, que fizessem propaganda no modelo “nós contra eles”. De Prudente de Morais a Fernando Henrique Cardoso, todos pensavam num coletivo nacional antes de pensar em cortes internos arbitrários, como “classes sociais”.
Quem inverteu o modelo foi o candidato Luís Inácio Lula da Silva, que, antes de defender um programa (fora o “socialismo democrático”, defendido exatamente no ano em que o totalitarismo socialista ruía na União Soviética), colocava-se contra alguém – a “elite”, os “poderosos” e, chamativamente, os “corruptos”.
O antropólogo René Girard já sabia muito bem que agrupamentos e civilizações não surgem por uma concordância comum geral, e sim por um inimigo comum mais poderoso. As primeiras civilizações não tiveram deuses famosos, e sim grandes demônios: Behemoth, Leviathan, Baal, Moloch, Naamah, Belial, Pazuzu, Abraxas, Ifrit, Ninurta. Mais recentemente, também Eric Hoffer, estivador que virou filósofo por conta própria, notou como movimentos de massa não necessitam de um grande deus, mas de um grande demônio. A tática de Lula demorou, mas funcionou por quatro eleições seguidas.
Hoje causaria alguma estranheza em não-estudiosos da esquerda política, a declaração de Dilma de que a oposição estaria “dividindo o país”. A oposição é incapaz de pautar o debate nacional: qual canal de TV, grande jornal ou revista (à exceção claudicante da Veja) que se põe claramente contra não apenas o PT, mas a sua ideologia? Quem ousa defender valores como casamento tradicional, punições mais duras a criminosos, ser contra drogas ou o aborto e, horresco referens, defender o capitalismo hoje em dia?
Mas chama ainda mais atenção a quem acompanha as entrelinhas do noticiário, e não segue apenas o propagandeamento de frases soltas, de quem veio a frase.
Afinal, foi o blog oficial da primeira campanha de Dilma que chamou os paulistas de “bestas”, dizendo que nordestinos não seriam “bestas” como seus compatriotas sudestinos para não votar em Dilma. É o Twitter da Militância do PT que afirma que estará nas ruas “em batalha”, o único partido do país (ou o único relevante, entre os vários de esquerda) a pregar, incitar e ameaçar espancar inocentes nas ruas.
https://twitter.com/militanciadoPT/status/706462659256958976
Foi o PT, uniformizado (algo também único no país), que espancou nas ruas um homem no “ato em defesa da Petrobras”. Foi o petista Gilberto Carvalho que afirmou que prender Lula é “brincar com fogo”, expressão que não deixa dúvidas para o único significado de ameaça de espancamentos e violência contra inocentes nas ruas para proteger um criminoso da lei. Foi o MST, o “exército do Stédile” como o chamou o próprio Lula, que hostilizou o MBL em ato pacífico e espetou pelas costas Renan Santos, deixando-o sangrando.
https://www.youtube.com/watch?v=mryDsEKjOQM
Entre inúmeros outros casos de ataques físicos da militância do PT a inocentes, quase sempre em massa (e sem nem falar em Celso Daniel e Toninho do PT). Como já analisamos, todas as declarações petistas recentes têm como fundo sempre uma forma mais ou menos velada de ameaça de guerra civil, de tomar as ruas e praticar violência contra inocentes caso seu projeto de poder fique abaixo das leis.
Qual outro partido tem algum histórico de violência desenfreada? Apenas partidos filhotes do PT, como PSOL, PSTU e PCO, partidos black blocs e que chegam a queimar bandeiras de países livres como Israel nas ruas – e até do próprio Brasil, como fizeram nesta semana enquanto hasteavam a bandeira da totalitária e terrorista Palestina.
É o chamado dog whistle, o apito de cachorro, só ouvido pela militância. Embora a política de dog whistle comumente seja usada para esconder manifestações racistas, também é usada para propangadear discursos diante de todos os jornalistas, analistas e a intelligentsia sem que ninguém ouça: agora a tônica é criticar qualquer manifestação que não aceite o PT no poder como “dividir o país”.
Não é um dog whistle um pouco mal fabricado, para quem tanto dividiu brasileiros entre ricos e pobres, mulheres e homens, “elite” (ou “burguesia”, ou hoje mais atualizado, “classe média”) e, atra mors, entre negros e brancos?
https://twitter.com/militanciadoPT/status/706907560591433728
Não parece exagero, portanto, chamar o PT de um partido com certo radicalismo. Não um partido como qualquer outro, mas um partido “um pouco” mais aguerrido, e fisicamente, para obter poder. Mesmo Sarney, Collor e o tucanato de FHC saíram do poder pacificamente, ainda que o PT pedisse impeachment de todos de Collor para frente – o petista Tarso Genro protocolou o de FHC 50 dias depois de empossado.
Mas para o noticiário e a intelligentsia que formará os discursos correntes e as conversas de bar ser radical é algo que apenas pode ser dito quando se é contra o PT. Até a Folha considera o impeachment, hoje, um “recurso extremo” que não pode ser defendido – embora tenha se colocado a favor do impeachment de Collor quando um Fiat Elba e uma crise provocada pelo Plano Collor e o confisco das poupanças tenha gerado uma crise política e econômica como a atual.
Ou seja: o PT pode praticar violência física, pode defender o “socialismo petista” em seu 3.º Congresso, pode abrir uma caríssima embaixada para a Palestina em Brasília com rota de fuga para o Congresso, criado uma embaixada na Coréia do Norte (com condolências a seu ditador), pode fazer acordos com o Irã, a Venezuela, Bolívia e demais países socialistas, totalitarismos islâmicos e financiadores do terrorismo, Lula pode chamar Kadafi de “meu amigo, meu irmão, meu líder”, pode ter deputados dando declarações sobre “guerra”, “brincar com fogo” e “lutar nas ruas” pouco disfarçadas… mas simplesmente citar o que nossos olhos vêem é “radicalismo” e “ver comunistas embaixo da cama”. É “extremismo” e é urgente ter um discurso mais moderado. Mais PMDB.
Isto, afinal, é apenas uma forma de proibição de pensamento. No dizer do “Partido” (Partido-Estado) que cria o “Ministério da Verdade” em 1984, de George Orwell, “Guerra é paz, liberdade é escravidão, ignorância é força”. Parece apenas chocantemente improvável visto de fora. Hoje, já se tornou a tônica no Brasil. Não à toa, foi o próprio Orwell quem afirmou que em tempos de engano universal, falar a verdade é um ato revolucionário.
Uma simples constatação de verdades catalogadas como esta, afinal, seria “radicalismo”. Coisa até da “elite”. E de “extrema-direita” ou “ultra-conservadora”.
Atrapalhados nos difíceis conceitos políticos, que exigem anos, quiçá décadas de estudo, antes de uma apreensão razoável, a figura que está surgindo é exatamente a que o PT quer: a do “isento”. Ou seja, daquele que não aceita o PT, mas compra a propaganda petista para evitar que se note a verdade.
É um ser firmemente medroso de ser pechado de “radical” por radicais – então, como quer o PT, é um ser mais obediente ao PMDB do que à verdade. É alguém que superficialmente concluiu que, para não perder amigos petistas, deve ser ao menos “de centro”. Ou seja, mais PMDB.
Apesar de ser contra o “radicalismo”, só enxerga radicalismo em posturas contra o PT: ser a favor do impeachment, conhecer as raízes socialistas do PT, ler Reinaldo Azevedo, Rodrigo Constantino ou Olavo de Carvalho, gostar de Lobão ou do Ultraje a Rigor, rir e não querer processar o Danilo Gentili ou, summa foeditas, cogitar um voto em Jair Bolsonaro.
Seu “centrismo” e sua “isenção”, portanto, caem sempre nos aliados do PT. Ou praticamente no PT, desde que não se pronuncie o nome do partido – basta pensar em qualquer jornalista e na linha editorial de qualquer publicação ou blog do país no que tange à cultura, drogas, religião e toda a agenda moderninha progressista.
Não notam que seu centrismo é uma postura igualmente radical, e ainda duplamente alienada: é manipulada tanto pelos movimentos de um lado quanto de outro, tentando “aproveitar o melhor” e fugir das referências que serão denegridas pelos partidários adversários. Principalmente, não significa nada, apenas medo de tomar posição.
Tal como o comunista defensor de genocídios Eric Hobsbawm, autor de A Era dos Extremos, um livro que aparenta ser “neutro”, o problema dos isentões de plantão é acabam sempre defendendo o maior radical. Ser isento significa justamente se ausentar de ser contra – inclusive um grande mal.
É como estar há 80 anos na Alemanha enxergando a ascensão de liberais de um lado e nazistas de outro e tentar tirar o mínimo múltiplo comum, sendo bem isento. “Ah, estes nazistas odeiam judeus, negros e gays, então vamos só odiar judeus para sermos neutros”.
Com efeito, odiar apenas judeus é exatamente o que a esquerda brasileira e mundial faz.
Com o agravante brutal de que hoje quem mais se parece com a Juventude Hitlerista e seus vândalos arruaceiros, sindicalistas e coletivistas nas ruas, é justamente o PT, que chama a todos de “fascistas” – e não um povo ordeiro pedindo respeito às leis e o fim do socialismo na América Latina e no mundo.
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