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Brasil

Manifestações de 4/12: Por que não irei

Manifestações foram organizadas para o dia 4 de dezembro pelas medidas contra a corrupção. Há motivo para desconfiar de boas intenções.

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Cartaz: Menos Corrupção, Mais Saúde / Educação

Ontem assistimos novamente um espetáculo de vandalismo em frente ao Congresso Nacional. Como se não bastasse o extremo mau gosto de se fazer um protesto num dia de luto nacional, esses desocupados e pelegos, vagabundos e mercenários mostraram que nutrem pelo Brasil apenas desprezo. Não respeitam a dor alheia, não respeitam as instituições e não respeitam o patrimônio público e privado. Apenas depredam.

Eles protestavam não contra a PEC 55, que todos sabem absolutamente necessária, nem contra a anistia ao caixa dois, que não estará em pauta, nem contra a reforma da educação, que é flexível a ponto de comportar quase quaisquer matizes. Eles querem apenas abrir o caminho para desestabilizar o atual governo, como fizeram em todos os governos anteriores, exceto os de Lula e Dilma.

Contam com apoio de boa parte da mídia, sabemos. Se fosse um grupo de direitistas que tivesse promovido o quebra-quebra de ontem, tenham certeza que seriam massacrados por semanas nos jornais e nas TVs. Sendo MST, CUT ou “estudantes” sabe-se do quê, já estão esses papagaios de pirata, sempre a postos, dizendo que a PM agiu com truculência. O certo, segundo estes degenerados, seria deixar que a turba invadisse o Congresso e quebrasse tudo.

E por que eu faço essas colocações óbvias? Porque faz dias que venho alertando para armadilhas que vêm sendo plantadas e com o intuito de sabotar o governo Temer. O caso Calero foi uma destas armadilhas. Esse jovem ministro, que gravou ilegalmente quem lhe confiou um ministério, nunca se incomodara, nos anos em que serviu aos governos do PT, na Petrobrás ou CVM, ou mesmo na secretaria junto ao Duda Paes, outro bastião da moralidade da era PT.

E o que falar do ex-chefe de gabinete de FHC, Xico Graziano, que defendeu faz poucos dias, no maior jornal do país, a volta de FHC através de eleições indiretas? Jabuti não sobe em árvore. Isso é o que chamamos de plantar rumores, idéias, tais como num teste de laboratório, para ver se colam.

E o que falar das manifestações de 4/12 (4 de dezembro)? “Isentões” querem mostrar que são limpinhos, bonzinhos e amigos da galera. Também protestam contra o centro ou a direita, já que protestaram contra a esquerda. Na figura do Dr. Hélio Bicudo podem se sentir representados. Eles formam a maior parte da massa de manobra. Muita vontade, pouco freio. Muito fígado, pouco cérebro. Muita tática, pouca estratégia.

Os movimentos que se destacaram no fora Dilma são bastante heterogêneos. Há de tudo um pouco. O que menos há é independência e maturidade. Comportam-se como adolescentes. Adolescentes da geração Y. Entendedores sabem do que falo. Quem é contra todos os partidos, inclusive o “PQP”, que aponte então o caminho para que coloquemos o país nos trilhos. Aqui não questiono o mérito por trás dos protestos.

É quase unânime que a Lava-jato é positiva e pode ser considerada um marco para o país, graças, principalmente, ao belo trabalho da Comarca de Curitiba. Também é quase unânime o entendimento que corruptos devem ser presos. Quem não atentar para o fato de que hoje empresários, banqueiros, deputados e senadores foram ou estão presos por conta da Lava-jato ou Zelotes, não está conectado à realidade.

O maior empreiteiro do país está preso faz dois anos. O ex-todo-poderoso Eduardo Cunha está preso, a tesouraria toda do PT está presa. Lula será preso. Quiçá ainda este ano. O timing destas manifestações não poderia ser pior Em meio a estas diversas tentativas para desestabilizar este governo de transição, quaisquer protestos e manifestações de rua se somarão aos atos de vandalismo como o de hoje.

Os jornais anunciaram 4/12 com uma semana de antecedência. Precisamos, no passado, de centenas de milhares nas ruas para ganhar uma notinha nesses mesmos jornais. Jogou-se no colo do Temer a responsabilidade pela lei da “anistia”, como se não fosse do Congresso a atribuição para aprovar a proposta do MP com apoio popular, que também pecou no timing.

Geddel deixou o governo, mas segue sendo protagonista, como se o Temer não tivesse agido da forma correta e prudente, no caso. Está armada a arapuca. Temer foi ágil. Saiu Geddel, disse que vetará a anistia. O Senado se ligou. Acaba de aprovar a PEC 55 por 61 x 14. Massacre. Essa eficiência deve ser refletida nos mercados ainda nesta semana, já que ontem circulou na mídia um eventual atraso nas votações. Estamos com 12.1% de desemprego. R$ 170 bi de déficit primário. O PIB caindo mais de 3% este ano.

Apenas o restabelecimento da confiança, tanto de empresários quanto de consumidores poderá impulsionar novamente nossa atividade e trazer consigo um círculo virtuoso. E esta confiança não será restabelecida sem que haja um mínimo de estabilidade política para que as reformas sejam levadas adiante. Sabemos que o inimigo de nosso inimigo, é nosso amigo.

Se atuarmos junto com nossos maiores inimigos, os grupos da esquerda revolucionária, ainda que sem coordenação explícita, e contra um inconveniente menor, estaremos simultaneamente dando oxigênio para estes nossos maiores inimigos, às cordas, ao mesmo tempo em que ajudamos a dinamitar a única ponte que eventualmente nos permitirá chegarmos onde almejamos, o governo de transição para 2018.

O PT e seus congêneres deveriam estar escondidos, no máximo conspirando junto de seus advogados. Mas não. Conseguem ainda papel de protagonista ao encaminhar pedidos de Impeachment e, com menos de 20% de representação, colocar o país no corner. O MinC fora extinto. Gritaram. O ressuscitaram. E para lá enviaram um cavalo de Tróia. Viram no que deu.

O PSDB perdeu seu lugar na fila. De forma estratégica, aceitou fazer parte do governo Temer. Ao menos por enquanto. Antes que Aécio Neves, José Serra e Geraldo Alckmin comecem a se digladiar, devem tentar demover o PMDB do protagonismo em 2018. Caso não consigam, faria sentido desestabilizar o atual governo para lançar FHC em votação indireta. Seria o nome que uniria o partido e de quebra poderia tentar resgatar sua biografia, manchada sob a pecha da “herança maldita” durante os 13 anos de PT. E desta vez, creio eu, tentaria fazer um sucessor, diferentemente de 2002.

Se as digitais do PSDB estiverem por trás destes ruídos, não me surpreenderia nem um pouco. O que sei é que se o PSDB voltar ao poder prematuramente, o sonho de termos um governo de direita e que buscasse resgatar os valores que perdemos nas últimas décadas, ficará muito mais distante. É por isso que no dia 4/12 eu irei, mas para um churrasco com amigos, e espero que a lucidez leve aqueles bem intencionados a fazer o mesmo. Deixemos o MASP para que os movimentos contrários ao Brasil passem vergonha sozinhos.

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Assuntos:
André Gordon

43 anos, paulistano, economista formado pela FEA/USP em 1994, com mestrado em economia pela EPGE/FGV. Trabalhou em instituições financeiras como Banco Bozano, Simonsen, Santander e Itaú BBA, antes de se tornar sócio-fundador da GTI, gestora de recursos com foco em renda variável.

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