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Ideologias

Por que para a mídia só existe extrema-direita, nunca extrema-esquerda?

O mundo está se radicalizando. Mas por que a mídia só enxerga extremismo na direita? Não seria porque a mídia virou extremista de esquerda?

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Protestos de extremistas de esquerda contra Milo Yiannapoulos em Berkeley

A mídia brasileira descobriu tardiamente um fenômeno que a parcela atuante na política nas redes sociais já conhecia bem antes dos jornalistas: o fenômeno Milo Yiannopoulos, o jornalista greco-britânico que revigorou o apelo da direita com seus textos e ações recentes.

Milo, como é carinhosamente reconhecido por seus fãs, conjuga características de convívio aparentemente difícil, como ser imigrante e fã de Trump, gay e defensor da Igreja Católica, além de características decorrentes uma da outra, como ser um extremo defensor da liberdade de expressão e ser um Republicano contrário ao feminismo. Ao invés de jornalistas tentarem entender o fenômeno Milo Yiannapoulos após um violento protesto tentar calar sua voz na Universidade Berkeley, na Califórnia, preferiram apenas chamá-lo de um jornalista de “extrema-direita”.

Como a expressão extrema-direita está associada justamente ao nazismo no imaginário coletivo dirigido por jornalistas e professores enviesados, a manobra dos jornalistas, que não explica nada a respeito de Milo Yiannopoulos, tem somente o fito de fazer com que o leitor médio, que desconhece de todo o fenômeno Milo, antipatize imediatamente com sua figura.

Assim, mesmo que um protesto que tente calar um palestrante usando métodos beirando o fascismo, como atirar pedras, incendiar lixeiras, quebrar vidros e pichar ameaças de morte, para o leitor de manchetes e para quem sofre a peer pressure, a pressão dos pares que se impressionam facilmente com associações a palavras pesadas, o “errado” no caso é, naturalmente, o próprio Milo, porque é “de extrema-direita”. Quem, afinal, agüenta extremistas, ainda mais de direita, que sempre são associados ao nazismo? Milo, diga-se, é judeu por parte de mãe. Como praticamente toda a direita mundial tem algum parentesco ideológico com o judaísmo.

Neste caso, pouco importa até mesmo que Milo Yiannapoulos seja gay. Ou mesmo que se considere um “libertário cultural”. Para o G1, sua palestra na verdade seria um “ato” ultraconservador (sic) e pró-Trump.

G1 chama palestra de Milo Yiannapoulos de ato "ultradireitista" pró-Trump.

G1 chama palestra de Milo Yiannapoulos de ato "ultradireitista" pró-Trump.

Desta forma, se houve violência, se houve tentativa de censura, se pessoas inocentes se feriram, se os “manifestantes” atiravam rojões nas pessoas como aquele que assassinou o cinegrafista da Band Santiago Andrade: eles haviam sido “provocados”… por Milo Yiannopoulos, que faz “comentários provocadores”. A única violência vem em uma declaração de Milo: pelo título, tem-se a impressão de que o fogo, as janelas quebradas, as ameaças de morte pichadas – tudo teria partido de Milo, o “ultradireitista”. Que é tão somente um conservador (Estado mínimo, liberdade de expressão, federalismo etc) e até mesmo um libertário cultural. Na verdade, quem parece um fascista?

Quantas vezes vimos aulas de comunistas, como o terrorista assassino Bill Ayers (cuja pena foi perdoada por Bill Clinton na última manhã do ex-presidente no cargo), serem tratadas como “ato pró-Hillary” ou “pró-Dilma”?

https://twitter.com/CounterMoonbat/status/827355580738174976

Ou, o que é mais impressionante: quantas vezes professores, jornalistas, ideólogos e ativistas, muitos violentos, com uma ideologia de extrema-esquerda, são chamados de “extremistas de esquerda”, de “ultracomunistas”, de “stalinistas”, “maoístas” ou “terroristas”, mesmo quando eles declaradamente defendem tais posições?

Trata-se tão somente de mais uma manipulação da Janela de Overton, os mecanismos para controlar a opinião pública. Ao se chamar um pacífico Milo Yiannapoulos, ultra-defensor da liberdade perante o Estado, de “extremista de direita” ou “ultraconservador”, na prática afirma-se que são os conservadores que defendem a liberdade, mas como os termos são assustadores, associa-se, por analogia, Milo a algo violento, autoritário e intolerante. As pessoas praticando violência, autoritarismo e intolerância contra Milo são apenas vítimas de “provocações”.

Estudiosos da linguagem dos sistemas totalitários, de George Orwell a Victor Klemperer, sempre notaram que termos odiosos, denotando profunda violência, são impostos, na mentalidade totalitária, a pessoas inocentes – como burgueses ou judeus, ou qualquer um que não obedeça a um comando central. Se tais pessoas é que são marcadas com o sinal odioso – hoje é “extremista de direita” – toda a violência contra elas é válida. Os violentos de esquerda, afinal, mal são de esquerda: são apenas “manifestantes”.

Até mesmo o prefeito de Berkeley diz que toda a violência é inaceitável e não é bem-vinda – no caso, a violência é de Milo.

https://twitter.com/nickmon1112/status/827010207406501891

https://twitter.com/nickmon1112/status/827007910412693504

https://twitter.com/BoschFawstin/status/827324171323453440

Despiciendo dizer que atentar para a manobra, perceber seu mecanismo e não obedecer à mudança na Janela de Overton, que jura que há uma ascensão de violência de direita na América e no mundo com a eleição de Donald Trump (violência até o momento não vista em lugar nenhum) também te torna um “extremista de direita”. E logo, qualquer violência contra você será pura moderação, racionalismo e humanismo.

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Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs". Tem passagens pela Jovem Pan, RedeTV!, Gazeta do Povo e Die Weltwoche, na Suiça.

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