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Traduzindo Economês

Você sabe o que significa na prática a queda de 3,6% no PIB?

Os números são assustadores e conhecidos, mas para quem não fala economês, o que significa na prática a queda de 3,6% do PIB em 2016?

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Dilma Rousseff faz o pior crescimento do PIB da história: recessão e recuo de 3,6% em 2016, após recuo de 3,8% em 2018

O Brasil sofreu uma das piores recessões da história, com o PIB recuando 3,6% em 2016. Não é uma queda única: o PIB já havia caído 3,8% em 2015, quando só o PT governou, tornando a brutal queda até uma minúscula “boa notícia” no ano em que Dilma Rousseff não governou por inteiro. Em 2014, o crescimento havia sido de apenas 0,5%. É a pior recessão do país desde 1930.

Desta forma, a queda acumulada do PIB é de 7,36% em dois anos. Contudo, o cálculo não é fixo, ou seja, o percentual não é calculado sobre o mesmo valor: no ano passado, retrocedemos 3,6% do que já havíamos retrocedido de 2015.

Mas, apesar de ser uma notícia que é repetida todo ano, e de ser uma das definidoras de eleições futuras, poucos sabem de fato o que é um crescimento baixo ou uma queda do PIB – um dado numérico que traduz uma espécie de sensação geral da população em relação à economia. Para quem não fala economês fluente, é preciso uma lição de #EconomiaForDummies.

https://twitter.com/flaviomorgen/status/839100483079913472

O PIB é o cálculo interno de tudo o que é produzido em um país. Se, em um ano, o PIB cresce 1%, significa que a soma de todos os bens duráveis, de casas a videogames, aumentou 1%. O país tem 1% a mais de riqueza, o que não significa necessariamente que está 1% mais “rico”: sua população pode ter aumentado 2% no período, por exemplo – ou, em casos como o da crise migratória européia, pode chegar a crescer 10%, tendo um crescimento quase malthusianamente menor de bens para toda essa população. Por isso há também dados importantes, como o PIB per capita.

Há também outros agravantes: o PIB apenas calcula o que é estanque, os bens duráveis. A inflação, que calcula o poder de compra do dinheiro, móvel por definição, diminui ainda mais a distância entre a população e a riqueza. Apenas agregando ao PIB também o IPCA, Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, em dois anos, o brasileiro ficou, na média, 13,65% mais pobre.

Em dois anos, portanto, toda a riqueza de uma vida do brasileiro foi diminuída numa média auspiciosa de 13%. Um índice que faz as crises de José Sarney e Fernando Collor parecerem paraísos fiscais. Apenas em bens duráveis: sem contar inflação, salário, desemprego (um dos maiores da história) e afins. Como os pobres podem poupar menos, e a maior parte do seu dinheiro é de fluxo de caixa imediato, eles são os que mais sofrem com uma retração do PIB: cada 1% a menos pode significar cerca de meio milhão de vagas de emprego.

O PT e a esquerda venderam e acreditaram na patota das chamadas “conquistas sociais” do governo Lula. A queda do PIB só revela o truque de mágica: o PT “distribui renda” via impostos e engessamento da economia com intervenções e leis trabalhistas derivadas do fascismo, além de aumentar a inflação (ou seja, imprime dinheiro, dando a impressão momentânea de que há riqueza, quando na verdade só há papel, que vai valendo cada vez menos conforme se percebe que era ouro de tolos).

Qualquer um pode realizar o que foi chamado de “espetáculo do crescimento” com tal fórmula simples: o único problema é que a mentira não consegue durar tanto. O que foi um crescimento falso nos anos Lula-Dilma hoje se revela dinheiro do Banco Imobiliário.

Toda uma economia nacional voltada para o consumo da classe média baixa (via Bolsa Família), crédito fácil com juros escorchantes, criação de empregos na construção civil (Odebrecht, Andrade Gutierrez, OAS e outras empreiteiras que faturaram os tubos e hoje estão na Lava Jato denunciando os políticos com quem negociavam), hoje o principal fator de queda do PIB, contando cerca de 50%, acaba se revelando uma receita perfeita para o fracasso.

Era o que todos os liberais e conservadores alertavam desde sempre – mas a mídia, ao noticiar a queda, ainda insiste em “especialistas” que só comentam números de Michel Temer sem traduzir seu significado e explicar sua dinâmica.

Os brasileiros, apenas nos estertores do segundo mandato de Dilma, ficaram mais de 10% mais pobres, no cômputo total. Economias de uma vida, famílias inteiras estão com cerca de 90% do que tinham dois anos antes (apenas o consumo direto de famílias retraiu 0,6% no último trimestre, contra 0,3% do trimestre anterior).

Em suma: era preferível uma política econômica menos espalhafatosa, menos ideológica e menos feita de discursos faraônicos para transformar pessoas carentes, jovens e pessoas facilmente impressionáveis em militantes fanáticos, cegos e robóticos. Ainda que estivesse longe do liberalismo econômico e da produção de riqueza sem que a população fosse engessada com impostos, intervenções e “leis trabalhistas” e “direitos” que apenas a divorcia da real riqueza, sob um discurso ideológico que apenas causou miséria onde quer que tenha sido aplicado, seria melhor do que trabalhar por mais de uma década para ver “tudo o que era sólido se desmanchar no ar”, para lembrar da expressão de Karl Marx.

De toda forma, podemos perguntar a Marcelo Odebrecht ou a Lula da Silva se eles ficaram mais ricos no período, e a resposta será positiva. É em seus bolsos que está a riqueza da população que trabalhou por isso.

Enquanto a mídia não mostra que o PIB é apenas o resultado natural da implementação das políticas de nomes bonitos do PT, a população ainda será escrava de seu discurso mavioso, que se mostra um canto de sereias em pouco tempo.

E assim, mais uma vez, sob auspícios de “especialistas” selecionados a dedo, para corrigir os problemas econômicos, tentaremos de novo alguma solução com “social” no nome, para talvez finalmente atingir o glorioso Estado Social da Venezuela, onde a política petista na anfetamina passa da recessão à depressão e o PIB cai 10% em um ano. Faltam programas sociais, especialistas exigirão.

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Assuntos:
Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs". Tem passagens pela Jovem Pan, RedeTV!, Gazeta do Povo e Die Weltwoche, na Suiça.

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