Eduardo Guimarães: O blogueiro no meio do caminho da prisão de Lula
A notícia da condução de Eduardo Guimarães passou como detalhe. Poucos leram as entrelinhas: o que ela significa para a prisão de Lula.
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A condução coercitiva do blogueiro Eduardo Guimarães, de um blog chamado “Cidadania”, não mereceu destaque da grande e velha mídia ontem. Entretanto, com uma rapidez beirando a instantaneidade, blogs cupinchas do de Eduardo Guimarães, como um certo “Cafézinho”, já sabiam de todos os detalhes da condução coercitiva, incluindo os que não foram divulgados pela polícia.
Eduardo Guimarães foi levado à Polícia Federal de São Paulo para prestar esclarecimentos a respeito do vazamento de informações sobre a condução coercitiva de Lula, o ex-presidente, após pedido do MPF/PR, da Lava Jato, e autorizada por Sérgio Moro.
Na ocasião, o blog de Eduardo Guimarães soube com antecipação que a Polícia Federal iria praticar uma condução coercitiva e vazou a informação, permitindo, ao que tudo indica, que provas buscadas pela Polícia Federal pudessem ser destruídas, obstruindo o trabalho de investigação da Polícia. Agora, a polícia quer investigar como Eduardo Guimarães possuía informações sigilosas, ainda que vazamentos que não envolvessem possibilidade de destruição de provas sejam comuns, e que informações possam estar em poder do assim denominado blogueiro.
Com a mesma instanteneidade com que o tal “Cafézinho” noticiou que Eduardo Guimarães, codinome “Eduguim”, havia sido seqüestrado (sic) pela Lava Jato (o que constitui grave calúnia), aquilo que já foi chamado de “blogosfera progressista” em tempos de PT, também denominados “blogs sujos”, entre outros epítetos, estava armada de posts fazendo surradas analogias com ditaduras, Estados de exceção, abusos autoritários, ditadura militar, nazismo etc.
Há um jogo de linguagem sendo aplicado. Eduardo Guimarães não é jornalista: tem um blog. Oficialmente, qualquer um pode se tornar jornalista ao lidar com notícias, sobretudo políticas. Em um país fortemente crente no poder do Estado regulatório, justamente a ideologia de Eduardo Guimarães e seus cupinchas crê que uma profissão só é “válida” quando o Estado a regula. Exatamente para o jornalismo, costumam relativizá-la para entender que basta exercê-la: assim, todos podem se tornar jornalistas.
Eduardo Guimarães, o Eduguim, assim, aparentemente faria jornalismo. Mas Eduardo Guimarães foi candidato a vereador pelo PCdoB em São Paulo. Há uma tácita proibição de chamar de “comunista” quem é filiado ao PCdoB, e de considerar que é um “exagero” ou “conspiração” de “extremistas” dizer que o Partido Comunista é comunista. Mas poucos negariam que um jornalista não pode ser também político, na mesma toada. Ninguém chamaria João Doria de “jornalista”, como ninguém crê que seja esta a profissão de Celso Russomanno. Por que Eduguim só vira jornalista exatamente quando é preso?
Mesmo quando tentou se eleger vereador de São Paulo, Eduguim não afirmou à Justiça que é jornalista, mas sim “comerciante” (sic). Blogueiros tentam fazer crer a uma parcela abobalhada do público que a Lava Jato, que investiga os maiores crimes da história deste país, “seqüestra” um “jornalista” por ele ter “opiniões”. A narrativa bomba de fumaça ninja já estava pronta, montada, unificada e espalhada tão logo Eduguim chegou à sede da PF.
Para o Vermelho.org, Eduardo Guimarães foi “vítima” de condução coercitiva (sic). Para a Carta Capital, Sérgio Moro “quebra o sigilo da fonte” de Eduguim quando pede que o blogueiro esclareça como sabia de um vazamento que pode ter causado destruição de provas.
O mesmo já ocorreu quando o também blogueiro progressista Breno Altman foi parar na delegacia para explicar suas ligações com Lula (quem mais?) em um caso que pode esclarecer o assassinato de Celso Daniel. Todos os jornalistas disseram que Breno Altman fora alvo de uma condução coercitiva. Breno Altman postou nota em seu blog “Brasil 247” (também chamado de Brasil 171 ou Brasil 2+4+7 pelo povo) dizendo que fora à delegacia livremente, fazendo com que grandes portais da grande e velha mídia se “desculpassem”.
Na verdade, Breno Altman sofreu uma condução judicial, quando a polícia solicita que o elemento vá à delegacia prestar esclarecimentos, ou o juiz apenas arrola que o elemento não quis colaborar. Apenas este Senso Incomum explicou o caso à época. Até hoje, há quem creia que Breno Altman acordou de bom humor e, sozinho, foi explicar à Polícia seu envolvimento com o Diário do Grande ABC que foi comprado e parou de noticiar sobre o assassinato de Celso Daniel.
Eduardo Guimarães também aparece como uma nódoa aparentemente irrelevante no caso da funcionária do Santander, Sinara Polycarpo, que escreveu um relatório indicando que a economia pioraria caso Dilma fosse reeleita (quod erat demonstrandum). Em seu blog “jornalístico”, provavelmente utilizando o mesmo tipo de “fonte” que expõe dados privados de pessoas, Eduardo Guimarães afirmou que Sinara não havia sido demitida, cobrando a destruição de sua carreira pelo banco, e posteriormente apagando o post.
Já no caso desta semana, a obstrução de justiça feita pelo jornalista/comerciante/candidato comunista destruiu provas que deveriam levar à prisão de Lula. Soa a brincadeira Eduardo Guimarães sacar a carta “jornalista” neste momento, que evita durante o restante de sua existência ao se comunicar com a Justiça. Tampouco há qualquer tentativa de impedir sua liberdade de expressão: a denúncia do MP que Sérgio Moro aceitou nem mesmo inclui uma curiosa ameaça de morte que o “jornalista” do tal blog “Cidadania” fez ao juiz curitibano.
Os delírios de um psicopata investido de um poder discricionário como Sergio Moro vão custar seu emprego, sua vida http://t.co/UMZT5NtAUt
— Blog da Cidadania (@eduguim) June 21, 2015
O que fica mais apagado nesta notícia é justamente o que não se vê: o que foi que o vazamento de Eduardo Guimarães permitiu que Lula encobrisse? A blogosfera progressista perdeu todo o dinheiro que recebia de empresas estatais após o PT ser apeado do poder, mas suas ligações com o poder permaneceram – ou tais blogs já teriam ido à falência e seus autores teriam virado comerciantes de bens menos duvidosos.
Muitos tentam entender por que a prisão de Lula demora tanto, a um só tempo em que crêem que os seus acólitos da blogosfera progressista não possuem relevância. Isso se dá apenas em matéria de público: quando se trata de disfarçar influência em uma investigação travestindo-se de “fonte de jornalista”, vê-se que o quebra-cabeça da prisão de Lula ficou com peças “faltantes” (apenas para a sua militância) graças a um “jornalismo” de fachada.
O nome fantasia de “jornalista”, ou “blogueiro” são trocados quando a Justiça aperta de um lado ou de outro. Sua irrelevância no suposto ofício tira os olhos de uma mídia desinteressada de suas ações. E a idéia de um “blogueiro progressista” enfrentando problemas com a Justiça é comemorada pela população anti-PT. Afinal, Eduardo Guimarães, ao que parece, está dedurando seus comparsas.
Mas o que é realmente relevante na notícia parece ter passado batido por todos que a enxergaram como uma nota de rodapé: a prisão de Lula, afinal, passou todos esses meses um pouco mais afastada graças à atuação de Eduardo Guimarães. Que ainda haja tempo para o dano ser desfeito.
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