Largue de frescurite e vá ler Olavo de Carvalho
O maior pensador brasileiro faz 70 anos – mas ainda há quem tenha nojinho de Olavo sem ler seus livros por boatinho de internet. #Olavo70anos
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Só há um jeito de não gostar de Olavo de Carvalho: nunca o ler – ou, ainda melhor, só ler seus comentários de internet retirados de contexto e raramente ultrapassando as 3 linhas. O maior filósofo do Brasil completa hoje 70 anos de profunda atividade intelectual, sem encontrar quem o ombreie em profundidade e altitude intelectual – muito menos entre seus adversários.
Seus livros estão entre os maiores achados da língua portuguesa atual. Olavo já analisou o tempo verbal de línguas como latim, grego e árabe para encontrar em Aristóteles uma chave de leitura praticamente inédita, mostrando uma hierarquia despercebida entre a poética, a retórica, a dialética e a analítica ou lógica (Aristóteles em Nova Perspectiva: Introdução à Teoria dos Quatro Discursos).
Ou como uma interpretação falseada da ciência ultra-moderna e do pensamento tradicional chinês de Fritjof Capra, aliada ao pensamento político neomaquiavélico de Antonio Gramsci abriu caminho para uma visão cultural new age, floreada em um ecumenismo que da verdade dos povos não pega emprestado senão sua casca para vender mentiras (A Nova Era e a Revolução Cultural. Fritjof Capra e Antonio Gramsci).
Falando em Maquiavel, é de Olavo um dos melhores estudos sobre a vida e obra (e sua intercomunicação) do pensador florentino, visto pela história como “um clássico da filosofia política” (seja lá o que isso significa, se a política só piorou e ficou mais violenta desde então), sem que se note como o aclamado “Renascimento”, que teve Maquiavel como um de seus motores políticos, além de um momento de bizarras superstições, foi também o começo de uma contradição ontológica entre o discurso e a posição do sujeito que profere o discurso – a chamada paralaxe cognitiva, cuja análise é uma das marcas mais características da filosofia de Olavo de Carvalho.
Ora, Maquiavel, um puxa-saco de Príncipes, confunde em sua própria filosofia o que é descrição com o que é prescrição, em sua cisão absoluta entre moral e práxis, além de tentar justificar sua própria posição de capachão, escondendo-a sob camadas de arrogância pouco convincente, abrindo espaço para o morticínio político que marcaria os séculos vindouros (o livrinho Maquiavel ou a Confusão Demoníaca, um dos mais importantes textos sobre a violência política no mundo).
O mesmo procedimento foi aplicado depois a René Descartes, o “homem do racionalismo” que, bem ao contrário do que a curiosa crença na razão moderna (e, também, modernista), teve todo seu vislumbre de “De omnibus dubitandum est” de um sonho com o demônio, e cria todo um sistema “racionalista” que inaugura o esquematismo mental moderno, em que a realidade é a última coisa a pertencer à dita “razão” esquemática. (Visões de Descartes).
Tais livros são “capítulos” que se tornaram livros à parte de um livro seu que desmembrou: O Olho do Sol, que acabou se tornando uma coleção de livros sobre a mentalidade revolucionária, a marca da modernidade, onde agir pensando em um futuro utópico, com o homem sendo uma peça a ser movida ou retornada de um modelo esquemático mental, direcionado a um futuro tratado como o fim da existência.
Olavo também já analisou o grosso da situação dos intelectuais brasileiros, sempre confusos entre seu discurso e o próprio ato de proferi-los – via de regra, imbuídos de uma retórica coitadista, como se fossem excluídos do meio acadêmico e jornalístico, sempre como se fossem a única voz a nadar contra a corrente, como se fossem uma resistência esquerdista sem espaço na grande mídia, tratando Folha e Globo como jornais ultra-conservadores, quase como defensores de Donald Trump, de George W. Bush, do Tea Party e da Segunda Emenda. É mais paralaxe cognitiva em ação: seu próprio ato de falar contradiz o que é falado. É a falta de um Dasein intelectual brasileiro: e bem das pessoas que hoje externalizam conceitos como “lugar de fala”… (O Futuro do Pensamento Brasileiro. Estudos Sobre o Nosso Lugar no Mundo)
A capacidade intelectual, e de escrita incrivelmente engraçada de Olavo, também se mostrou em um de seus livros mais clássicos: O Imbecil Coletivo: Atualidades Inculturais Brasileiras, em que as falhas intelectuais de personas variando entre Charles Sanders Peirce e Emir Sader (data venia, data maxima venia…) são comparadas à tradição, a grandes nomes (sejam Aristóteles ou Arnold Toynbee) e o resultado, inevitavelmente, não é apenas uma surra intelectual com nocaute nos primeiros 3 segundos de luta: é algo ridículo, que se torna mais engraçado do que qualquer livro de humor. O livro, coletânea de artigos de jornal de quando assuntos elevados havia na imprensa brasileira (antes de uma coluna do Gregório Duvivier), ainda teve uma continuação, O Imbecil Coletivo II: A Longa Marcha Da Vaca Para O Brejo.
Olavo ainda escreveu sobre a geopolítica americana frente a um mundo não mais bipolarizado, mas tripolarizado, tendo um eixo de entidades globalistas (termo introduzido no Brasil por ele) no Ocidente, o complexo russo-chinês no Oriente e, hoje, a ummah, a comunidade mundial muçulmana, como terceiro pólo. Foi, na verdade, um debate com ninguém menos do que Alexandr Dugin, o “cérebro de Putin”, o “filósofo mais perigoso do mundo”, o novo “Rasputin” do presidente russo Vladimir Putin, que, apostando no esquema bipolar, admitiu que perdeu o debate (Os EUA e a Nova Ordem Mundial. Um Debate Entre Alexandre Dugin e Olavo de Carvalho).
Enfim, alguém que domina tão vastos assuntos, que não consegue deixar de ser reconhecido pela sua assombrosa erudição nem pelos seus mais ferrenhos inimigos, alguém que é verdadeiro patrimônio cultural brasileiro (e entendido assim pelo governo americano), simplesmente precisa ser lido neste país, hoje envenenado por pessoas do escol de Leandro Karnal a PC Siqueira (o youtuber é hoje editor de uma revista “científica”). A contemplar quais são os gatekeepers a “organizar” o que deve ser lido pela massa da população (do povão ao estudante da USP), os Emires Saders e Leandros Konders, que tanta vergonha passam nas páginas d’O Imbecil Coletivo, soam quase geniais diante de uma geração que não sabe pensar em mais do que 140 caracteres.
Entretanto, ao invés de estar sendo disputado a tapa por todos os jornais, revistas e publicações digitais (este Senso Incomum certamente o está), Olavo de Carvalho é preterido por qualquer youtuber que conte piadas adolescentes para adultos adolescentizados.
Pior (o que é pior do que a geração youtuber?): Olavo de Carvalho é criticado. Não por erros em seus livros, que não são lidos (enquanto Olavo deve ser o único ser humano a ter terminado livros como A Nervura do Real, de Marilena Chaui), mas por boatos criados por adolescentes na internet.
Olavo é acusado de não ter diploma de filosofia – acusação assaz estranha, para quem tanto critica a falta de filosofia nos cursos de filosofia (vide seu incrível A Filosofia e seu Inverso) – ou de ter sido astrólogo – basta ver sua análise filosófica sobre os símbolos da astrologia, base cosmológica e antropológica de qualquer civilização, para se entender que Olavo não fez nada diferente do que T. S. Eliot, Carl Jung – e incrivelmente mais elevada do que o ministro da Educação de Dilma, Renato Janine Ribeiro – o fizeram.
Também o criticam por ter “tentado refutar Isaac Newton” (o mesmo que Goethe, Schopenhauer, Husserl e Einstein disseram sobre Newton, já refutado em vida pelo gênio da lógica matemática Gottfried Leibniz). Não há entre seus críticos quem perceba que a crítica de Olavo não é sobre a lei da gravidade (e há quem realmente acredite que Olavo ache que os corpos não cairão se soltos da mão), e sim sobre o mecanicismo, filosofia reducionista de Newton (comungada por Descartes) que crê ridiculamente que até mesmo as sinapses do cérebro são movimentos mecânicos (Descartes costumava dissecar ratos vivos, crendo que seus gritos de dor eram puramente “ar passando por dutos”; Olavo de Carvalho, caçador de ursos, não é considerado um defensor dos direitos dos animais por seus detratores).
Muito menos quem perceba que Olavo critica em Newton sua crença na alquimia: não a simbologia e base cosmológica da astrologia, mas uma superstição de achar a “pedra filosofal” para transformar ferro em ouro, que Newton tanto acreditava. E “não-científico” é Olavo, e não os guris de redes sociais o chamando de “astrólogo” como xingamento oco…
Para uma população com bibliofobia, a aversão a livros com os quais já não concorde de antemão (o que mostra bem qual o conteúdo que consegue apreender dos 3 livros por ano que de fato lêem), resta coroar o bolo cerejosamente com o boato de que Olavo de Carvalho acredita que há fetos abortados na Pepsi, graças a um comentário que fez rapidamente em seu antigo podcast, o True Outspeak, comentando uma notícia de que a Pepsi estava fazendo pesquisas com um adoçante que usava células de bebês abortados.
Ao contrário da boataria de adolescentes nas redes sociais, de fato a Pepsi fez um contrato de US$ 30 milhões com a Senomyx, que desenvolvia pesquisas para gostos artificiais com a linha celular HEK-293, com rins de bebês abortados.
Ou seja, de todo o complexo diploma-Newton-astrologia-Pepsi com que tentam pechar Olavo de Carvalho de farsante, para não ter de refutar o que vai escrito em seus livros, é apenas um embuste de memes feitos por crianças intelectuais. E são estes memes que são levados pela nossa “imprensa séria”, que prefere discutir pela milésima vez se precisamos dar o benefício da dúvida ao PT e sobre os direitos dos ofendidos com piadas na internet do que em ler o arcabouço da civilização ocidental com quem está nele interessado.
Olavo de Carvalho formou sozinho a maior geração de intelectuais do país desde a morte de Mário Ferreira dos Santos, Vicente Ferreira da Silva e Bruno Tolentino, os maiores filósofos e pensadores do país antes de sua estréia intelectual.
É simplesmente impossível ler os formados (para rir dos diplomófilos) por Olavo, como o crítico literário Rodrigo Gurgel, o cientista político Bruno Garschagen, o analista político Filipe Martins, o advogado Taiguara Fernandes, a analista Bruna Luiza, o escritor Paulo Briguet, o comentarista Silvio Grimaldo, o cinegrafista Josias Teófilo, o escritor Yuri Vieira, o teatrólogo Roberto Mallet, a professora Henriete Fonseca, o músico Filipe Trielli, o jornalista Felipe Moura Brasil, o cinegrafista Mauro Ventura, a jornalista Rachel Sheherazade, o antropólogo Flávio Gordon, a jornalista Joice Hasselmann, o engenheiro Flavio Quintela, o analista Alexandre Borges, a professora Fernanda Takitani, o editor César Kyn d’Ávila, o teólogo Mateus de Castro, o advogado Bene Barbosa, a musicista Stella Caimmy, o humorista Danilo Gentili, e tantos outros (vários orgulhosamente neste Senso Incomum), nem que sejam 10 páginas por dia, e ler 10 páginas por dia de suas Nêmesis no campo das análises da realidade: o “humorista” Gregório Duvivier, o crítico de cinema Pablo Villaça, a feminista Lola Aronovich, o jornalista Paulo Henrique Amorim, a professora Marilena Chaui, o blogueiro Xico Sá, a adolescente Jout Jout, o youtuber P C Siqueira, os blogueiros do Anticast, o colecionador de carros Flavio Gomes, a jornalista Cynara Menezes, o prestador de esclarecimentos para a Polícia Federal Breno Altman, o vocalista do Detonautas Tico Santa Cruz, o blogueiro Paulo Nogueira, a revoltada Heloísa Helena, o assessor de tirano Alexandr Dugin (com o perdão do desnível), e concluir que, definitivamente, quem mais compreende da estrutura da realidade é a esquerda, ao contrário dessa lunática, atrasada, ultrapassada, preconceituosa e aristotélica direita.
De fato, ao invés de argumentos, a esquerda só possui como resposta ao “olavismo” forçar seus acólitos a não ler Olavo de Carvalho de jeito nenhum, do contrário, acabarão por deixar de ser de esquerda (caminho trilhado por vários olavetes, mostrando que só se passa da esquerda para a defesa de Olavo, nunca o caminho contrário). É como tentar criar uma casca sobre seus escritos, ao invés de enfrentar o núcleo de seu pensamento, sob qualquer pele postiça.
De fato, só há um caminho para os anti-olavetes do país: enfiar a cabeça num buraco, expondo a rabadilha ao público que poderá rir do quanto precisaram se negar a enfrentar a realidade para continuar acreditando em suas crenças, acusando todos os outros de crenças ultrapassadas.
Olavo de Carvalho completa 70 anos com uma coragem rara no mundo: ser o que é, sem aderir a modismos e sem o aplauso fácil de agradar às multidões. Curiosamente, mesmo em nosso país, sua “minoria silenciosa” é que faz a real diferença: basta lembrar de quantos cartazes onde se lia “Olavo tem razão” foram vistos nos protestos pelo impeachment de Dilma Rousseff no país.
Sua defesa da consciência individual na era do pensamento coletivo (eufemismo para modismo) é o que salvou tantos intelectuais de uma inanição, em um país que não podia dialogar com Chesterton, Voegelin, Horowitz, Santayana ou Huizinga. É por isto que um portal, olavetemente inspirado para ser batizado como Senso Incomum, não poderia ser uma âncora contra a corrente de insultos fáceis da grande mídia e dos grandes adolescentes de redes sociais para lembrar que apenas quem acertou algo nos últimos anos foram os olavetes e aqueles que, de alguma forma, pensam como Olavo de Carvalho, não importa quanto digam que somos “extremistas” ou “conspiratórios” por defender a consciência da realidade.
Parabéns por tudo o que fez por nós, Olavo – afinal, o presente é sempre nosso! E a você que ainda tem nojinho de Olavo, e conseqüentemente nunca o leu, perca as amarras do pensamento de grupinho e ganhe consciência de si mesmo. Do Oráculo de Delfos a Olavo de Carvalho, parece a lição que a coletividade mais quer destruir em nome da glória fácil de uma coluna na Folha de S. Paulo e uma conversinha de boteco achando que são os únicos contra tudo isso que está aí, lendo e concordando exatamente com tudo isso que está aí.
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