O 4 de Julho é uma comemoração de todo o mundo livre. Viva a América!
O 4 de julho é um feriado americano. Mas seu significado deveria ser comemorado por todos os que amam a liberdade.
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Uma das datas políticas mais conhecidas do mundo é celebrada no 4 de julho: a Independência Americana, tratada como um fenômeno nacional do país mais rico e poderoso do mundo. Bem ao contrário, basta conhecer superficialmente sua história para perceber que seu significado não é local ou pontual, e sim algo a ser celebrado não apenas pelos Estados Unidos da América, mas por todo o mundo livre.
Não há um único país no mundo que seja fundado unicamente sobre uma idéia, como o é a América (ao contrário da retórica comum, “Estados Unidos” é um prenome; o mesmo, aliás, do México, e que o Brasil teve até, justamente, o governo a junta militar de 1968).
Todos os países considerados “vítimas” da América pela ideologia do anticolonialismo e anti-imperialismo, são formados por idéias como raça, laços tribais, guerras de proteção de interesses de clã, sangue e linhagem. Mesmo os países livres, como os da Europa ocidental e, hoje mais do que nunca, da Europa central, se tornaram livres sobretudo pela própria influência americana após aquele 4 de julho de 1776.
A América, pelo contrário, nasce em nome de um único ideal: uma terra que seria colonizada por pessoas que seriam livres. Uma novidade para o mundo anterior à gloriosa Revolução Americana, e que até hoje causa choque em mentalidades formadas pela ideologia do ressentimento.
Para ser americano, ao contrário de para ser alemão, iraniano ou malaio, o indivíduo não precisa ter uma cor de pele, uma linhagem, uma origem: antes de mais nada, precisa querer ser livre naquele território. Nem mesmo o Brasil, que se destaca como o país mais miscigenado do mundo, pode ser descrito como um país baseado em uma idéia, e ainda mais em uma tão atraente.
A bem da verdade, a Independência Americana foi votada no dia 2 de julho de 1776, fazendo com que John Adams escrevesse que aquele dia seria considerado a Epocha mais memorável da história americana. Mas contrariando as vontades de Adams e do autor do documento, Thomas Jefferson, a data que entrou para a história foi a da ratificação pelo Congresso, 4 de Julho, data da Declaração de Independência.
Pernalonga ensinando seu sobrinho por relumina
Apesar de a mentalidade dominante entre os colonos da época ser a de que eram ingleses em terras americanas, o que já os tornava o povo mais livre entre os países civilizados do mundo, a Coroa inglesa, metida em corrupção, gastos luxuriosos apartados do povo (e ainda mais daqueles na América), menosprezava as vontades e o trabalho dos ingleses na América, tratando-os quase como peões a trabalhar tão somente pelos luxos da monarquia.
Se nos primórdios da colonização os ingleses na Inglaterra e na América podiam se sentir próximos, não tardou para aqueles na Inglaterra votassem por pesadíssimos impostos sobre a América que custeassem a Dinastia de Hanôver. Ainda assim, entre a Lei do Melaço (Molasses Act), de 1733, e a Independência propriamente dita em 4 de julho de 1776, haveria quase meio século de acordos, hostilidades comerciais, sangue, uniões contra inimigos comuns e guerras até que aqueles ingleses no Novo Continente preferissem se denominar americanos.
A América, portanto, é um país sui generis desde sua “criação”: um país forte, com disposição para a paz, mas com força militar para garantir que se defenderá com justiça da tirania (é o símbolo de seu selo), e feito para o povo ter liberdade perante o governo.
Basta lembrar da fagulha que deu origem ao país dos Prêmios Nobel, das faculdades de ponta, dos pobres que têm carro, da sólida economia de criação de riqueza para onde 90% dos desolados do mundo pretendem fugir (e basta desejarem ser livres junto de outro homens livres para serem bem aceitos). Tal fagulha foi justamente a resposta dos americanos, ou, na época, dos ingleses na América, contra impostos. Aquilo que sempre foi entendido pelas pessoas como um caríssimo mal necessário, sabendo que nada no mundo é mais superfaturado do que o preço da lei, hoje passou a ser visto como algo a se desejar: doces algemas que nunca fazem nossas mãos alcançar nem sequer o que prometem.
Foi contra os impostos que a colônia americana se revoltou. Depois do melaço, veio a Lei do Açúcar (Sugar Act), em 1764, a Lei do Selo (Stamp Act) no ano seguinte, que também marcou a Lei do Aquartelamento (Quartering Act), que marcaram, pela primeira vez no mundo moderno, e pela primeira vez em escala nacional, a idéia de que o povo deveria acompanhar de perto a política – embriões de futuros conceitos como “soberania popular” ou “direito de taxação”. O lema No taxation without representation sumarizou a mentalidade que ali surgia.
Já em 1767, Boston se viu com a Autoridade Alfandegária (Board of Customs) em seu porto, controlando as mercadorias de maneira tirânica. A cidade transformaria uma faísca no maior incêndio político do mundo moderno: as Tarifas Townshend, sobre vidro, papel, tinta, chumbo e chá fizeram com que a revolta virasse guerra civil. Estava iniciada a Festa do Chá (Tea Party) de Boston.
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Mesmo após a Guerra de Independência que se seguiu, cuja vitória só veio em 1785, a América não deixou de se voltar para a paz. Mas todo o país foi estruturado tendo como princípio uma liberdade desconhecida: o homem deve fazer o que quiser e se auto-organizar como bem lhe aprouver, desde que não fira a liberdade alheia. Os costumes, mais do que leis escritas, foram os determinantes: os homens queriam agir como homens sempre quiseram, e o governo deveria servi-los e obedecê-los, e não o contrário, como se dá nos países de economia “social” e políticas “corretivas” da sociedade.
A Constituição americana, o maior documento à liberdade política no mundo junto à Declaração de Direitos (Bill of Rights), não busca dar “direitos” aos cidadãos – direitos estes que precisariam lhes ser dados, justamente, por uma autoridade muito mais poderosa do que eles. Pelo contrário: em oposição aos direitos monárquicos, a Constituição Americana é muito mais focada em impedir o Estado de agir contra os indivíduos. Uma oposição tremenda à nossa Constituição de 1988, para usar um contra-exemplo exageradíssimo de tão mal-ajambrado.
Todo o sistema político americano é baseado na idéia de que o local importa mais do que o federal. De que as decisões dos habitantes costumeiros um bairro devem ser respeitadas com sacralidade pelos longínquos burocratas federais. De que as minorias (e não as minorias ideológicas) devem ter um contrapeso no poder bruto do governo.
O que Thomas Jefferson, Benjamin Franklin, John Adams, James Madison, John Jay e George Washington, os Founding Fathers, fizeram, foi fundar um lugar onde o indivíduo vale mais do que as regras do governo, onde o único limite para a sua liberdade é a noção de fronteira que deve permear uma sociedade onde todos os credos, costumes e pessoas podem conviver harmonicamente. Como diz seu motto, e pluribus unum. De todos, (forma-se) um.
A América é o primeiro país que é uma república desde o Império Romano. Não como as cidades republicanas da Itália renascentista, mas um país. E não uma democracia, como foi erroneamente descrita depois, inclusive por um gênio como Alexis de Tocqueville: não se trata do poder da maioria sobre a minoria através de voto, mas de uma lei canônica que permita que uma minoria sempre seja respeitada, representada, defendida.
Por isso seu sistema é republicano, e não democrático: qualquer maioria tem sempre um contrapeso. Os famosos checks and balances, que nenhum outro país no mundo conseguiu criar a contento.
Este é o excepcionalismo americano: uma deliciosa liberdade, com a qual rapidamente nos acostumamos, maior do que nossas vidas. Um motivo para lutar, uma bandeira pela qual morrer: que outro país hoje no mundo é capaz de oferecer isto a seus cidadãos, cada vez mais desinteressados de sua própria cultura para abraçar qualquer invasão bárbara alheia?
Foi este sistema, cujo nascimento é comemorado no 4 de julho, que gerou a liberdade política como a conhecemos hoje.
Há uma tendência esnobe com o passado, sobretudo quando enviesadas pelo cabresto das visões do anti-imperialismo (sic), tomado como fato da história, de crer que todos os países e povos sempre foram escravos dos poderosos, mas justamente quando um povo livre se torna economicamente poderoso, como a América pós-4 de julho, ele se torna um vilão.
E como se as monarquias, tiranias, dinastias orientais, califados e impérios simplesmente resolvessem acordar um dia e experimentarem a liberdade sem a influência daquele país que deu muito sangue e vidas para poder experimentar esta liberdade pela primeira vez: a America, que celebra neste 4 de julho um fato que provou ao mundo: a liberdade funciona.
Sua influência ao mundo não pode ser expressa em outra palavra que não liberdade. O 4 de julho, mesmo sendo uma data nacional e local, deve ser relembrado hoje como um marco para o mundo livre. God bless America!
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