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Cinema

A esquerda está certa em morrer de medo do filme 1964 do Brasil Paralelo

Acusado de "defender a ditadura" antes mesmo de ter sido finalizado, o documentário 1964: O Brasil entre armas e livros ataca a ditadura militar, mas destrói o mito da esquerda boazinha

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Brasil Paralelo - 1964: O Brasil entre armas e livros

O Globo, antes mesmo de o filme ser finalizado, afirmou, tirando a informação da própria cabeça cheia de teorias da conspiração, que 1964: O Brasil entre armas e livros é um “documentário que defende a ditadura”. A senha foi dada, o dog-whistle estava ativado: falou de Brasil Paralelo e do filme 1964? É “apoio à ditadura”, e já começa o telefone sem-fio: relativização de tortura, defesa de uma intervenção militar em 2019, negação do Holocausto e, claro, Olavo de Carvalho. Que defende a Terra plana.

No fim, o documentário 1964: O Brasil entre armas e livros, bem ao contrário do que afirmou O Globo, não tem nenhuma defesa da ditadura. Pelo contrário: da metade pra frente, tem tanta porrada nos militares que, passado em sala de aula, um professor esquerdista só sentiria falta de glorificações a Marighella, Che Guevara, José Genoino, Dilma Rousseff e quejandos.

O filme se centra, mas não se resume a 1964. E, explicando até os meandros da lei da época, mostra como houve, sim, um golpe em 64, nem precisando entrar na discussão sobre golpe ou revolução. E que os atos institucionais, a ausência de eleições e a dissolução do Congresso trocado por um arranjo bipartidário configura inequivocamente uma ditadura militar.

O que deveria ser óbvio, é tratado como óbvio: o movimento de março de 1964 não pedia ditadura. Pelo contrário: os cartazes eram a favor da democracia, o movimento era de civis (afinal, era a Marcha da Família com Deus pela Liberdade) e o objetivo era ter eleições dali a 6 meses. A linha dura do Exército é que tinha outros planos.

Nada fora do comum. O filme fala em criminosos de ambos os lados. De perseguição, tortura e censura (ainda que mostre como os milicos eram bastante destrambelhados na arte de serem ditadores). Descreve como o país viveu uma crise constante, como as pessoas foram traídas pelos 21 anos seguintes por conta da aversão da linha dura a figuras como Carlos Lacerda e pelo maior mal que o Brasil enfrentará nos próximos anos, caso se mantenha longe da esquerda: a tecnocracia dos militares, imbuídos de positivismo desde o golpe militar que inaugurou nossa “república” (tema já tratado anteriormente pelo Brasil Paralelo).

Por que então a aversão da esquerda com a sua exibição, que ultrapassou 2 milhões de pessoas (1% do país) em menos de 24 horas – um sucesso absoluto para um documentário de duas horas, lançado numa noite de terça-feira?

É simples entender, e o título do filme, 1964, já responde tudo: o maior problema com a narrativa corrente que nos foi ensinada (e que todos nós conhecemos, mesmo discordando, ao contrário dos fatos narrados no documentário), reside exatamente no que ocorreu justamente naquele fatídico ano.

Para a esquerda, seria como se os militares estivessem ávidos de sangue e, ao virem um presidente trabalhista, ficassem furiosos com a democracia e com os direitos trabalhistas (assunto em voga recentemente) e resolvessem sair das casernas e dar um golpe e sair torturando todos os jovens inocentes que vissem pelo caminho. Assim, pessoas “democráticas”, que estavam apenas vivendo democraticamente, tivessem que largar sua vida pacífica para pegar em armas pela democracia.

Essa narrativa é tão falha que é incrível como perdurou por tanto tempo sem questionamento. E 1964 mostra esse mero detalhe, que faz toda a diferença na nossa história: o povo brasileiro não queria João Goulart, que fazia desmandos incrivelmente parecidos com os do PT, meio século depois. E as guerrilhas terroristas visando implantar o comunismo no Brasil, treinadas na Tchecoslováquia, impunham o terror no Brasil em nome da ditadura do proletariado.

Ou seja: os pobres jovens idealistas que tiveram de virar guerrilheiros não o fizeram como uma resposta involuntária à brutal ditadura militar: a ditadura militar é que apareceu (e até mesmo recebeu apoio popular, mesmo já se tornando uma ditadura) em resposta ao terrorismo de esquerda que queria transformar o Brasil num pesadelo totalitário soviético.

Isto não é “defesa da ditadura”: é apenas saber que a esquerda queria implantar a sua – e nem é preciso comparar os 400 mortos e cerca de mil desaparecidos contabilizados pela própria esquerda durante os 21 anos de ditadura militar com o número de mortos do mais brando socialismo: de acordo com o Memorial das Vítimas do Comunismo, um regime comunista que matou “pouco”, como a da Polônia de Wojciech Jaruzelski, matou 22 mil pessoas em menos de 40 anos com um sexto da nossa população (na China de Mao, ideólogo do PCdoB, partido vice do PT, foram 61,9 milhões).

Se a esquerda diz “ser contra ditadura”, deveria então não ter um, mas dois motivos para gostar do filme do Brasil Paralelo. O problema é óbvio: a esquerda sempre fala em “democracia”, mas basta-se fazer uma mísera crítica a terroristas armados matando inocentes para implantar uma brutal ditadura do proletariado subjugada à União Soviética para se falar em “extrema-direita”, intolerância, tortura, censura e, claro, Terra plana.

Ou seja: basta ser contra o brutalíssimo totalitarismo comunista (que não é piadinha nem sonho idealista, é uma realidade que matou mais de 100 milhões de pessoas em um século) para ser chamado de “extrema-direita”. Aliás, é basicamente com a aversão dos nazistas pelo bolchevismo que afiançam que o nazismo seria “de direita”.

Parece mesmo haver algo irracional, preconceituoso, violento, autoritário e perigoso em ser contra o comunismo – até mesmo quando se é contra a ditadura militar ao mesmo tempo, mas sabendo que ela existiu contra terroristas comunistas, por causa de um projeto de poder, no governo, nas greves, nos sindicatos, nos motins (dos militares!) e na guerrilha armada.

A esquerda, então, só tem uma reclamação a fazer quanto a 1964, tanto o filme quanto o ano: é aquele ano em que a sua narrativa deixa de fazer sentido. Em que não pode ser pintada como uma “democrática” força de idealismo, liberdade e que apenas pegou em armas e assaltou, seqüestrou e assassinou porque foi obrigada a lutar contra uma tirânica força repressiva. Em que, afinal, a esquerda se mostra esquerdista: stalinista, terrorista, violenta, pouco se importando com a vida de inocentes no seu caminho.

Afinal, se 1964 é um filme que “defende a ditadura”, por que os digníssimos youtubers de esquerda ainda não acharam o trecho da defesa para viralizar por aí?

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Flavio Morgenstern

Flavio Morgenstern é escritor, analista político, palestrante e tradutor. Seu trabalho tem foco nas relações entre linguagem e poder e em construções de narrativas. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs". Tem passagens pela Jovem Pan, RedeTV!, Gazeta do Povo e Die Weltwoche, na Suiça.

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